Elo Cunha e o flerte da vida com a morte

por Sulamita Esteliam

Vamos de suor novo nesta edição do Leitura Literária, excepcionalmente nesta quarta-feira, para cobrir o furo do fim de semana: Elo Cunha, que estreia como contista veterano, tal a profundidade da sua escrita.

Entre a Vida e a morte: UM FLERTE é um mergulho no não ser. Flerta com o absurdo, namora a filosofia, finge amores inconsistentes e se amanceba com a morte em sua dimensão redentora. A narrativa é densa, provocativa, obriga à reflexão.

São 30 contos, com títulos sugestivos e conteúdo estimulante, em 115 páginas de uma edição bem-cuidada pela colega Leida Reis – Páginas Editora, Belo Horizonte, 2021.

Livro Elo Cunha

Na contracapa do livro, o autor resume assim a motivação do seu primeiro livro:

“Desde a mais tenra idade o ser humano pratica o FLERTE, manifesta vontades, almeja, anseia, busca, ativa ou passivamente, por aquilo que desperte em si o interesse  ea realização de seus prazeres, do seio materno até todo os outros que virá a cobiçar em seu amadurecer.

O FLERTAR não é apenas um proocesso de cortejar ou obter; é uma sensação permanente de que a continuidade se alicerça tão somente pela manutenção latente daquilo em que o querer se projeta.

Apesar de, sabidamente, o desejo e a sua plena realização nunca ocuparem o mesmo lugar na construção imprecisa do tempo e espaço. Porque, contraditoriamente, a conquista do que fora idealizado destrói a felicidade e a motivação que se resguarda apenas enquanto o capricho persistir unicamente na mente do sonhador.

Vivemos em FLERTE, ou ainda mais evidente: A vida é um FLERTE continuamente arriscado ao qual, fatidicamente, nenhum de nós irá sobreviver.”

Esta velha escriba, que se coloca na categoria de tia do coração – ele é sobrinho do maridão e filho de um casal da nossa estima –  tem a honra de assinar a orelha. Escrevi assim:

Respire fundo, prepare-se: os contos de Elo Cunha são um mergulho no não-ser. O ser é uma inconsciência, um fingimento da memória construída, do individual para o coletivo. E a vida é um grande teatro do absurdo, onde cada qual escolhe e representa o papel que lhe é conveniente, palatável. Ou não.

O homem, suas máscaras e incompreensões.

Alguns dos textos, curtos em sua maioria, namoram com o ensaio filosófico, onde o cinismo, nesse sentido, dá o tom. A complexidade é proposital: um jogo de palavras sopradas pela esfinge. A narrativa é densa, provocativa, obriga à reflexão.

Na medida em que avança, o narrador se permite contar histórias, trazer à baila personagens sensuais, pragmáticos, incongruentes, mais ou menos atormentados.

A morte é a constante: o encontro com a realidade inatingível, a redenção das frustrações ou gozos não assimilados, a não-entrega, o resgate da impermanência.

Elo Cunha é mineiro de Belo Horizonte, onde se formou em Letras pela UFMG. Tem mestrado inconcluso em Literatura, disciplina que lecionou por 15 anos. Já adulto, resolveu fazer o Enem e optou por Medicina, que cursou em Teresina, no Piauí.

Mora em Viana, no Espírito Santo, onde é médico de Estratégia da Saúde da Família pelo Programa Mais Médicos. É pai de uma bela moça, que mora na capital mineira.

SERVIÇO

Livro ELO CUNHA – contos

“Entre a Vida e a Morte: UM FLERTE’

Páginas Editora, 2021 , 119 págs, 42,00

À venda na livraria da Páginas, dentre outras – virtual e presencialmente.

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