Urariano Mota escreve sobre ‘Rússia X Ucrânia: o jogo não é um a um’

por Sulamita Esteliam

Não se pode evitar o inevitável. E aqui falo de passar ao largo da guerra deflagrada por Putin da Rússia sobre a Ucrânia. E o que me chega pelas redes da mídia convencional me enche de dúvidas, porque já vem com carimbo de farsa: inimigo com máscara de democracia.

Não gosto de guerra. Guerras são gente matando gente a serviço da ganância, quase sempre.

E aqui a memória me diz da primeira crônica que escrevi, aos 15 anos: falava sobre a guerra no Oriente Médio. Levou “menção honrosa” num concurso na antiga Escola Técnica Federal de Minas Gerais

A ganância mata gente todos os dias em todos os cantos do mundo, muitas vezes sem disparar um tiro, que dirá míssil. Pessoas poderosas matam gente de fome, de frio, de doenças mal-cuidadas ou inoculadas, de desrespeito, corte de direitos, de raiva, de vergonha.

De tudo que li a respeito do conflito, em tom acentuado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, me chama a atenção o artigo do amigo Urariano Mota, colega das letras jornalísticas e literárias.

Ele fez o básico: pesquisou para formar juízo de valor sobre o que acontece no leste europeu. E o faz valendo-se de argumento singular como ponto de partida: o cancioneiro popular brasileiro, já anunciado no título: Um a Um, de Edgard Ferreira, celebrizada por Jackson do Pandeiro.

Transcrevo:

Rússia X Ucrânia: esse jogo não é um a um

O problema é saber onde está uma posição justa, que não acompanhe a ideologia e política de Putin, nem lhe desconheça as razões de invadir a Ucrânia

exército-russo Foto Sputnik - Vitaliy Timkiv
Exército russo – Foto: Sputnik / Vitaliy Timkiv

por Urariano Mota – no Vermelho

O título com a frase “esse jogo não é um a um” vem da ótima composição Um a Um, cantada por Jackson do Pandeiro:

“Esse jogo não é um a um
(se o meu clube perder é
zum-zum-zum)
Ah, olhe o jogo não é um a um
(se o meu clube perder é
zum-zum-zum)

O meu clube tem time de primeira
Sua linha atacante é artilheira
A linha média é tal qual uma barreira
O center-forward corre bem na dianteira
A defesa é segura e tem rojão
E o goleiro é igual um paredão

Esse jogo não é um a um
(se o meu clube perder é
zum-zum-zum)
Mato um mas o jogo não é um a um
(se o meu clube perder é
zum-zum-zum)

É encarnado e branco e preto
É encarnado e branco
É encarnado e preto e branco
É encarnado e preto…”

Mas se assim é o título, assim não é a dificuldade em que a gente se encontra nessa nova guerra. O problema é saber onde está uma posição justa, que não  acompanhe a ideologia e política de Putin, nem lhe desconheça as razões de invadir a Ucrânia. Difícil. As notícias pela televisão, com seus liberais comentaristas, nos deixam como pets domésticos de Joe Biden. Então eu pesquiso e leio na BBC News uma possível origem da invasão:

“Putin afirmou que a Ucrânia é uma marionete do Ocidente e nunca foi um Estado adequado. Ele exige garantias de que a Ucrânia não se juntará à Otan, uma aliança militar de 30 países, e para que a Ucrânia se desmilitarize e se torne um Estado neutro…

Ele quer uma promessa sustentada legalmente de que a Otan não expanda além de sua composição atual. ‘Para nós, é absolutamente mandatório garantir que a Ucrânia nunca, jamais se torne um membro da Otan’, disse o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov.

Putin reclamou que a Rússia ‘não tem mais para onde recuar — eles acham que vamos simplesmente ficar sentados?’ “.

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Vladmir Putin – Foto: Sergei Guneev/Sputnik

Mas isso é apenas mencionado com ares da maior neutralidade, porque se inscreve entre razões majoritárias de condenação ao governo russo. Então eu vou ao People’s World e descubro uma razão justa https://www.peoplesworld.org/article/what-is-the-minsk-agreement-and-whats-its-role-in-the-russia-ukraine-crisis/ (Tradução do Vermelho):

“Sob pressão de ultranacionalistas e russófobos, sucessivos governos na Ucrânia não conseguiram resolver as queixas da maioria de língua russa na região de Donbass. A Ucrânia também não implementou as disposições do Acordo de Minsk assinado em 2015 para pôr fim ao conflito na região.

A situação na Ucrânia hoje pode ser atribuída em grande parte à ascensão dos grupos ultranacionalistas e russófobos que obrigaram o então presidente ucraniano Viktor Yanukovich a renunciar durante os protestos “Euromaidan” em Kiev, em fevereiro de 2014.

Ucranianos com a suástica no braço p- Foto - reprodução
Ucranianos com a suástica do “Batalhão de Azov”, organização paramilitar neonazista ligada ao Ministério do Interior ucraniano desde 2014, no braço I – Foto: Reprodução

Os manifestantes pediram que Yanukovich seguisse políticas favoráveis à integração com a UE e a Otan, mesmo à custa de prejudicar os laços tradicionais da Ucrânia com a Rússia. Este mesmo conjunto de grupos políticos ultranacionalistas e russofóbicos tem dificultado a implementação do Acordo de Minsk por sucessivos governos ucranianos”.

Ou então aqui, em outro texto do People’s World https://peoplesworld.org/article/pipeline-ploy-how-u-s-natural-gas-interests-are-fueling-the-ukraine-crisis/:

“Como os interesses do gás natural dos EUA estão alimentando a crise na Ucrânia

Junto com a tentativa de absorver militarmente a Ucrânia na Otan, outro fator importante que está se tornando mais aparente no incessante discurso da administração Biden sobre guerra com a Rússia é o desejo dos produtores de energia americanos de invadir os mercados europeus com gás natural fragilizado.

Embora a grande imprensa esteja saturada com a conversa sobre um ataque para sempre da Rússia à Ucrânia e especule sobre o suposto desejo de Moscou de congelar a Europa cortando o fornecimento de gás, poucos repórteres na mídia corporativa estão perguntando quem ganha economicamente com o impasse no leste

gazprom - Empresa estatal russa de produção de gás, Gazprom - Foto Reprodução
Empresa estatal russa de produção de gás, Gazprom -Foto: Reprodução

No entanto, juntando algumas peças do quebra-cabeça, alguns vencedores claros começam a emergir na crise da Ucrânia, quer haja ou não uma guerra real: corporações multinacionais de gás e petróleo. E parece que sua indústria encontrou o porta-voz mais poderoso do mundo para representar seus interesses – o governo dos Estados Unidos.

Empresas como Chevron, ExxonMobil e Shell, juntamente com as centenas de empreiteiras de perfuração e transporte marítimo que trabalham com elas, querem intensificar massivamente as exportações para uma Europa faminta por gás, mas quem está no caminho é a Rússia e sua empresa estatal Gazprom. Atualmente, o gás natural russo responde por mais de 30% de todas as importações para a União Européia. As principais potências da UE, Alemanha e França, recebem 40% de seu gás da Rússia, enquanto alguns outros países, como a República Tcheca e a Romênia, utilizam apenas gás russo”.

Essas as razões sérias, graves, da guerra.

E eu, que pensava em escrever sobre Rússia x Ucrânia a partir de uma gozação com a visita ridícula de Bolsonaro a Putin. Menciono apenas  trechos de A incrível conversa entre Bolsonaro e Putin, que eu escreveria:

“Conversar não é um dom de Bolsonaro. Ele não conversa, ele fala piadas baixas de botequim e frases de menosprezo e desprezo contra negros, mulheres e gays. Mas há que manter as aparências em encontros internacionais. Olhem, com Putin ele se esforçou.

Declaração de Bolsonaro ao sair: ‘O encontro com Putin durou aproximadamente 2 horas. Tivemos até momentos de muita informalidade, certas particularidades’.  Mas não especificou quais, e adianto aqui, da “conversa” informal:

Putin – Eu sou muito macho.

Excitado,  Bolsonaro ordena para o tradutor:

– Pergunta se o dele é grande!

Tradutor – Presidente, não fica bem…

Bolsonaro – Pergunta! Estou mandando!

E o tradutor:

– Is yours a big one?

Ao que Putin responde:

– Medium. But it works.

E Bolsonaro responde

– Mi-tu!”

Como veem, foi melhor pesquisar. Ainda bem que despertei a tempo para a gravidade do conflito e não prosperei no ridículo. Venceu a realidade, enquanto a mentira da guerra continua nas notícias da televisão.

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