por Sulamita Esteliam
Na terra do Carnaval, estamos à beira da seps, tamanha a síndrome de abstinência da folia, de subir e descer a ladeira no passo, de descansar as pernas ao som do frevo de bloco.
Mas seu Corona diz que não, a tal da Ômicron não brinca em serviço, pega e mata também, não se iluda. E o melhor é a gente se resguardar: sem ajuntamento, com vacina no braço até o reforço, máscara tapando o nariz e boca e álcool 70%.
Até que todas, todas as crianças estejam vacinadas. É delas o futuro e cabe a nós cuidar para que elas cheguem lá.
E a lembrar que Carnaval é cultura popular na veia, para além do lazer, direitos humanos que sustentam a vida com alegria, arte e imaginação.
Tudo isso sem esquecer o lado econômico, da geração de oportunidade de trabalho para artistas, comerciantes, trabalhadores de diversos matizes. Atividades de sobrevivência que, na falta da atividade-fim, por questões sanitárias, o Estado deve dar o devido suporte.
Por que ainda é Carnaval, segunda-terça-feira gorda, repito aqui no A Tal Mineira o texto que li, à guiza de editorial, no quadro Violência Zero, do Programa Banco de Feira, que gravamos no Alto do Maracanã para o Sábado de Zé Pereira.
Lá na Zona Norte do Recife, onde o Recife é morro, ladeira para mineiro e mineira quaisquer podar defeito, ou reparo.
O programa, normalmente, é rádio ao vivo, que fazemos semanalmente, sob a direção do amigo Ruy Sarinho, nos mercados públicos e praças do Recife e região. Este foi o sétimo de 40; vamos até setembro.
No último sábado, por conta das restrições sanitárias para o Carnaval, optamos por gravar para não ferir os protocolos e não colocar em risco a saúde das pessoas.
Então, para não fugir à tradição da folia, gravei o Leitura Literária com dois dos poemas que foram ao ar. Incluo mais dois, para não dizer que copiei e colei por inteiro o programa que euzinha mesma, naturalmente que com ajuda da equipe, produzo e apresento.
A transcrição dos poemas está depois do vídeo. Começa pelo poema da nossa convidada do programa, a poeta, artista plástica e educadora social, Conceição Patrício.
Ela é nascida e criada na Bomba do Hemetério, onde reside ainda hoje. O que torna tudo muito mais autêntico e bonito: a simbiose entre cultura e o povo, ao contrário do que se costuma traduzir por aí…
Quando Carnaval tem que rimar com pandemia, o que nos resta?

Carnaval
por Conceição Patrício
Nostalgicamente,
a poesia
ritmo e emoção
querem subir a ladeira.
Mas guardo a máscara,
aquele enfeite
adereço
da alegria.
Agora em isolamento,
nesta solidão,
lembro o que já dizia o poeta:
a solidão é fera!
Só resta amanhecer
ao som do bloco imaginário
ACorda!
Respirar da janela
ar puro
desse clima
que ferve.
E por trás da máscara
respirar a vida.
Esta, novamente
soprará os clarins.

Aqui um poema que traduz o Carnaval pernambucano, com toda sua riqueza, que brota do povo, multicultural:
PERNAMBUCO E O CARNAVAL
Pernambuco, com seus Frevos,
Sempre arrasta multidões,
Por entre ruas e becos,
Parecendo procissões,
Que, caindo na folia,
Esquecem desilusões.
Temos o Frevo de Rua,
Dos metais endiabrados;
O lindo Frevo de Bloco
Com seus corais afinados,
E também Frevo Canção
Dos poemas orquestrados.
Os blocos contagiantes
Vêm de todos os caminhos.
Da Zona da Mata Norte,
Temos Cavalos Marinhos,
E também vêm de Goiana
Os famosos Caboclinhos.
Aqui tem Samba do Veio,
No sertão, em Petrolina…
Bonecos do São Francisco,
– Zé Pereira e Vitalina –
E por todos os recantos
Tem Mateus e Catirina.
Só Pernambuco tem festa
Que é multicultural
Ao som de Coco e Ciranda,
Que dão graça ao Carnaval,
Além de nossas Escolas
Com um Samba Original.
Bonitos Maracatus,
De Baque Solto e Virado,
Que com força e poesia
Recordam triste passado,
Com Chocalhos e Tambores
Deixando o povo encantado.
Nós temos Blocos e Troças
Que nenhuma terra tem.
Ursos, Bois e Mascarados
De todos os cantos vêm.
Homens saem nas Donzelas
E nas Catraias também.
Caretas e Papangus
Tornam a festa mais linda.
As “La Ursa” e as Caiporas
São de uma beleza infinda,
Como os Bonecos Gigantes
Pelas ladeiras de Olinda.

Neste poema do também jornalista Robson Sampaio, o folião sem tirar nem por…
Folião Sem Nome
Folião sem nome,
perdido no meio do racha,
homem mulher ou criança,
passos quase sem graça
Olhos euf[oricos de sonhos,
suor regado à cachaça,
segue folião sem nome
alegre no bloco que passa
Ferver, frever, frevar,
ritmo e dança de uma raça,
vai folião sem nome
frevar o frevo na praça…