Marília sai do PT, assume o Solidariedade, é candidata e embola o meio de campo da sucessão pernambucana

por Sulamita Esteliam

Na semana que antecede o fechamento da janela partidária com vistas às eleições gerais de 2022, impossível fugir da política como tema do comentário do dia, mesmo sendo uma velha e gorda sexta-feira.

E ainda mais vivendo no Recife, o centro das atenções nesta sexta-feira, e ao longo da semana, por obra e graça da deputada federal Marília Arraes. Ela oficializou sua migração do PT, onde esteve nos últimos seis anos, para o Solidariedade.

A legenda é comandada nacionalmente pelo deputado Paulinho da Força (Sindical), aquele que odeia Dilma, fez campanha pelo golpe, e acha que tem razão. A gente sabe que não.

É dureza, mas é a realidade.

Não restavam escolhas à esquerda para Marília, dada conjuntura regional ou mesmo nacional. E a opção de ficar no PT deixou de existir no momento em que o partido optou por privilegiar a aliança com PSB, que para ela “só beneficia o PSB, pois serve ao projeto de perpetuação no poder”.

Plena de razão.

Marília reuniu correligionários e a imprensa num hotel no Pina, junto à Boa Viagem, para o anúncio também de sua pré-candidatura ao governo do Estado. E vestiu-se de vermelho ao invés do laranja da nova agremiação, cujo comando em Pernambuco agora é dela.

Simbólico também que tenha hasteado um banner com a foto dela com Lula, do encontro que tiveram em São Paulo na segunda-feira, 21. A imagem cobriu a parede atrás da mesa em que se instalou com o presidente do seu novo partido para assinar a ficha de filiação e conceder a coletiva de imprensa.
A foto assinala o encontro com Lula, quando comunicou sua decisão de deixar o PT e candidatar-se a governadora.E afirmou seu “apoio incondicional” à candidatura do ex-presidente para retornar ao governo central.

O PSB quer exclusividade de palanque com Lula em Pernambuco, mas em todos esses meses de conversa sequer se evoluiu para a construir a Federação, que era a proposta inicial. Ocorre que em nível de coligação, também o Solidariedade entra na roda, e aí, legalmente, não há como brecar apoios.

Não pude ir à coletiva de imprensa, mas Euzinha e o maridão acompanhamos a transmissão ao vivo pelo Youtube.

Repito aqui o que escrevi mais cedo no Instagram: estou triste com essa migração. Mais triste ainda é ter que reconhecer que o partido que escolhi para chamar de meu, mesmo sem jamais ter-me filiado, continua pisando na bola com reserva de território.

É um vício de origem, e não se restringe a Pernambuco, devo admitir. Mas aqui a coisa beira o paroxismo.

As lições da história ainda não bastaram. Quem sabe um dia aprendem a ceder espaço para arejar o campo e deixar crescer as novas lideranças! Partido não é feudo.

Independentemente da nova agremiação – que ao meu ver de Solidariedade só tem o nome, mas com ela na direção regional pode deixar de ser um retrato na parede -, Marília segue seu caminho com legitimidade.

Discordo firmemente da classificação de “excesso de ego” ou “projeto pessoal” como motivação para atitude da deputada federal. Ela tem sustança, o PT pisou na bola pra variar e saiu perdendo; e o PSB que se cuide. Queiram ou não queiram os juízes e arautos de plantão.

Marília disse e repetiu o quão dolorida foi a decisão de deixar o PT, por sua identidade com o projeto do partido e pelo carinho que tem por Lula e vice-versa:

“Me doeu muito. Passei anos em disputa interna, mas todo mundo tem o seu limite, o meu chegou.”

Acompanhei e fiz campanha em 2018 e 2020 para Marília. Em 2018 ela abriu mão da candidatura a pedido de Lula, e tornou-se a única deputada federal pelo PT, com a terceira maior votação da bancada federal do estado.

Nas eleições municipais, Marília foi quase lá, só não chegou porque foi literalmente sabotada por setores do próprio partido. Violência política pesada do adversário, com a conivência do fogo amigo.

A aliança com o PSB sempre foi excelente para o PSB, que tem sua maior força justo em Pernambuco. O PT até agora só levou na tarraqueta, a não ser o pequeno grupo alojado nos governos locais.

Registre-se que todas as pesquisas colocavam o senador Humberto Costa (PT) como candidato favorito ao governo de Pernambuco. O PSB exigiu a cabeça da majoritária estadual, o PT cedeu, e Humberto retirou a candidatura. A compensação seria ter um candidato seu ao Senado.

Quer dizer, não havia espaço para Marília, que não garantir a reeleição para federal. As espectativas, ou seria o combinado?, dela eram outras.

Até o velho Miguel Arraes, avô de Marília, se perguntaria que vantagem Maria leva nessa…

E é bom que se diga, no reino da estrela não levaram a sério os rumores de que Marília deixaria o PT, o que é péssimo para o partido, que perde fôlego inclusive nas eleições proporcionais. Aí tentou-se a solução goela adentro da candidatura ao Senado, decidida sem combinar com a russa. Deu ruim.

Não adianta querer passar pano. Decisão partidária se cumpre ou se escolhe a serventia da casa. Desta vez, ela preferiu se retirar para reentrar com tudo, embolando o meio de campo da sucessão pernambucana.

O adversário sentiu a invertida, e tenta valer-se da velha tática da desqualificação. Não cola. Mas é preciso dizer que é sorrateiro, jogo sujo.

Em política é preciso saber jogar o jogo, um cochilo e quebram a perna do cavalo, sequestram o bispo, lhe tomam a torre e levam a rainha, deixando o rei a descoberto, e os peões sem direção, né não?

Lula sabe disso melhor do que ninguém.

Habemos, pois, canditada a governadora – os deserdados da capitania hereditária ou do mergulho fundo no passado de triste memória.

Euzinha, aqui, na coxia, só posso desejar: boa sorte a @mariliaarraes!

Deixo o vídeo com a íntegra do pronunciamento da deputada e da entrevista coletiva:

Em tempo: janela partidária é o prazo de um mês, a seis meses da eleição, previsto na legislação eleitoral, para que deputados e senadores migrem de partido sem perder o mandato, que pela lei pertence ao partido.

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