por Sulamita Esteliam
Não é só a fome e a desfaçatez que estão de volta ao Brasil. Um outro fantasma volta a rondar as regiões mais carentes do país: a seca. Enquanto o Centrão se refestela com dinheiro do orçamento secreto, reinstalando os currais eleitorais nos recônditos, onde o desgoverno reinstala a miséria humana.
Reportagem assinada por Fabiana Moraes, no The Intercept Brasil, e republicada pelo Outras Palavras, denuncia: a interrupção do programa de cisternas, que garante água ao povo do sertão e semiárido nordestinos, e do Norte-Nordeste de Minas, é o contraponto ao derrame de R$ 3,6 bilhões do orçamento secreto para regar os interesses eleitoreiros.
Há cerca de 350 mil famílias à espera de água, por que há um ano e meio não se instala uma cisterna, sequer.
A instalação de cisternas para coleta e armazenamento de água de chuva durante o inverno é uma solução simples e barata para dois problemas que pareciam eternos para o povo nordestino: o flagelo da seca e a manipulação política para manutenção de poder nas mãos dos de sempre.
A ASA – Articulação do SemiÁrido – uma rede de organizações que trabalha no minoramento dessa agonia – há 23 anos instala esses equipamentos junto a casas, escolas e plantações.
“Considerando uma média de cinco integrantes por família em cada casa, o programa estima ter alcançado seis milhões das 27 milhões de pessoas que vivem no semiárido. Cerca de 1,2 milhão de cisternas foram construídas desde 2003, quando o Programa Um Milhão de Cisternas, o P1MC, foi institucionalizado.
O projeto, que alcança o norte de Minas Gerais, foi sendo sufocado a passos largos: em 2020, foram construídos somente 8.310 equipamentos, uma queda de 73% em relação a 2019, quando 30.583 cisternas foram implementadas. Para se ter ideia, a entidade já conseguiu instalar 149 mil delas em um único ano, 2014.
O apagão completo de uma política vital para fazer mudar o histórico quadro do Nordeste como “tipo ideal” do pobre brasileiro tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro. O governo do presidente e candidato à reeleição tem diversos motivos para desidratar não só a existência do projeto, mas a de milhões de adultos, crianças, jovens e idosos que dependem dele para viver. Ignorância sobre as dinâmicas climáticas da região, preconceito contra nordestinos explicitado diversas vezes e uma menor popularidade no segundo maior colégio eleitoral do país são os mais aparentes. Mas tem mais, muito mais: o investimento pesado na destruição tem ainda como meta privilegiar repasses para o Centrão, que é hoje um misto entre corte real, churrascaria e ministério da Economia, concentrando poder, apetite e chave do cofre.”

Clique para ler a reportagem completa – na reprodução do Outras Palavras.