por Sulamita Esteliam
Leio no The Guardian, jornal para o qual Dom Phillips, escrevia, há algum tempo, que o embaixador do Brasil em Londres, Fred Arruda, enviou mensagem à família do desaparecido junto com o indigenista Bruno Pereira se desculpando pela informação repassada por funcionário da embaixada na manhã anterior. Linco ao pé da postagem.
“Lamentamos profundamente que a embaixada tenha passado à família ontem informações que não se mostraram corretas.”
Segundo ele, a equipe multiagências criada na embaixada para responder a desaparecimentos teria sido “enganada” por informações repassadas por “agentes investigadores”.
“Pensando bem, houve precipitação por parte da equipe multi-agências (sic), pelo que peço desculpa de todo o coração.”
“Nossos pensamentos permanecem com Dom, Bruno, vocês e os outros membros de ambas as famílias.”
Menos mal que a Embaixada, órgão oficial do Estado brasileiro, tenha assumido o erro grosseiro. Mas é uma trapalhada vergonhosa e inaceitável!
E só o fez, após a família de Dom Phillips divulgar nota reafirmando a informação recebida de funcionário da embaixada – abaixo.
Até então, o jogo colocava os familiares como repassadores de informação falsa, para dizer o mínimo. E o jornalista que primeiro replicou a informação, como engolidor de “barriga”.
Publiquei no Twitter replicando a carta do irmão e cunhada do jornalista:
O primeiro jornalista a divulgar a notícia de que os corpos de Dom e Bruno haviam sido “encontrados numa árvore” foi André Trigueiro, comentarista da Globo News e ativista pelo meio ambiente com presença frequente nas redes sociais. Ele replicou informação da mulher do jornalista britânico, Alessandra Sampaio:
Esta velha escriba replicou a informação no Instagram:
Na sequência, a mesma Alessandra voltou a ligar para Trigueiro informando que a Polícia Federal havia ligado para ela, desmentindo a informação da embaixada sobre a localização dos corpos.
Mais cedo, quando circulou a notícia de “contrainformação”, em reportagem da Pública, tuitei e reproduzi o tuíte no Instagram:
Bruno e Dom desapareceram no dia 05 de junho, quando se empenhavam em reportagem de quatro dias na Floresta Amazônica. Dom investigava informações sobre garimpo e pesca ilegal, desmatamento da floresta e invasão de terra indígena para o livro que escrevia: “How to Save the Amazon”– Como Salvar a Amazônia.
Eles partiram em um barco em Atalaia do Norte, na região do Javari, em direção à comunidade ribeirinha de São Rafael. A ultima vez que foram vistos, retornavam ao ponto de partida, mas não chegaram.
A informação é da Unijava – União dos Povos Indígenas, organização à qual Bruno Pereira assessorava, depois que foi exonerado da chefia da Funai pelo então ministro da Justiça, Sérgio Moro.
A dupla também faria contatos com os povos isolados, que se encontram em maioria no Vale do Javari.
Leia mais a respeito aqui no A Tal Mineira.
Com o desmentido da localização dos corpos, a busca pelos desaparecidos foi retomada pelos indígenas e pela PF. Todavia, é cada vez menor, senão nula, a esperança de encontrar Bruno e Dom com vida.
O tempo na floresta é fundamental, e mais uma vez, as autoridades brasileiras falharam no cumprimento do seu dever.
A Apib – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil responsabiliza o desgoverno pelo desaparecimento do indigenista e do jornalista britânico e pelo genocídio e perseguição aos povos indígenas, seus defensores. A denúncia ao Tribunal de Haia foi atualizada nesta terça-feira, 14.
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