Recomeçar é sobreviver; aqui e agora!

por Sulamita Esteliam

Está no ar o vale-tudo pelo voto da brava e camuflada gente brasileira. Uma verdadeira guerra está em curso, e dela nem  Deus escapa. Em nome Dele, vale todo tipo de profanação, blasfêmia  perversidade e mistificação.

Refiro-me à campanha pela sucessão presidencial, que na verdade é a eleição que se tornou a luta do bem contra o mal.  E não é preciso muito discernimento para saber que lado coloca em jogo a nossa já frágil democracia e cidadania.

A lembrar que o sonho do títere que nos desgoverna é sagrar-se ditador, implantar de vez o facismo e viver fazendo de conta o resto de sua vida inútil.

Nos estados onde há segundo turno, o calor da disputa se reflete na corrida para ocupar a cadeira da governança. Mas é no plano federal que se dá a batalha de nossas vidas.

E a religião, mentiras e desfaçatez são as armas do desgoverno que visa perpetuar-se.

Cruzada da mistificação

Religião e política sempre andaram juntas ou em oposicão, uma abusando da outra, desde que o mundo é mundo. A História está aí para não nos deixarmos enganar – Antes e Depois de Cristo.

Os invasores das Américas praticaram o genocídio dos povos originários, curraram suas mulheres, degolaram suas crianças e estriparam seus homens para tomar-lhes as terras e as riquezas.

Não contentes, invadiram o território africano e de lá trouxeram acorrentado o povo que seria escravizado para o trabalho duro. Bem que tentaram, mas os indígenas que sobreviveram ao genocídio não se sujeitavam.

As mulheres pretas trazidas da África foram igualmente violadas, seviciadas pelo patrão no cotidiano de suas vidas. Trabalho e sexo movido a chibata.

Emprenhadas eram obrigadas a ceder suas crias para a engorda do plantel, como se bichos fossem, equanto amamamentavam os filhos da patroa desrespeitada pelo mesmo macho.

Tudo em nome da fé cristã – ortodoxa, católica ou protestante – e da moral de fachada.

O sexo, real ou imaginário, é outra necessidade vital que caminha de mãos dadas e pernas trançadas com a religião e com a política.

Um verdeiro ménage sob a névoa do cinismo da pretensa moralidade, a esconder repressões, taras, safadezas e maldades de toda ordem.

A luxúria, aqui, deixa de ser pecado capital para tornar-se ato de fé e obediência ao condutor do espírito pelas veredas da salvação. Devidamente lambuzado em dinheiro santo entregue pelos fiéis seduzidos pelo fogo sagrado, virtual e literal.

Teatro do absurdo

Estão aí, de público, para não nos deixarmos iludir, atos, falácias e exibicionismos torpes do “imbroxável” títere que ocupa a cadeira presidencial. Tudo em nome de “Deus, (da) Pátria e Família”,  lema importado do fascismo.

É nesse vai-e-vém que “pintou um clima” com umas “menininhas venezuelanas de seus 14, 15 anos, bonitinhas”, num sábado à tarde, lá “em São Sebastião”, cidade periférica de Brasília. “Perguntei: posso entrar na vossa casa?”.

Entrou, viu que o que viu: “Um monte de meninas bonitinhas, arrumadinhas, pintadinhas, numa tarde de sábado, para quê?” E concluiu para os entrevistadores: “… claro que eram prostitutas!”

Diz e desdiz. Ri, perde o sono, levanta para fazer uma live, desmente, chora. Pede socorro à parceira, que chama a senadora-pastora eleita pelo DF, e vão as duas atrás das meninas, convencê-las a não denunciarem o assédio pedófilo e depor para o guia eleitoral.

Deu ruim, em parte. Não teve gravação. Houve protesto público das mães da meninas assediadas –  sim, os vídeos com mais de uma entrevista, no mesmo tom e com as mesmas palavras, provam – pelo despresidente da República do Brasil.

O Coisa-ruim faz outra live com cara de madalena arrependida. Ao lado da santa mulherzinha -maquiada naturalmente de mulher comum e cordata – com cara de paisagem, mais a constrangida embaixadora do país ofendido; mudas e caladas.

Tudo é farsa, delírio e deboche a nos distrair do que interessa: “Detenham-me se forem capazes! Eu tenho a máquina, rios de dinheiro público, o Congresso e as polícias e as Forças Armadas, mais “o povo de Deus”.

Calma, dia 30 vem aí: é o dia do basta!

E o que dizer, poucos dias antes, da senadora eleita pelo Distrito Federal, a ex-desministra dos Direitos Humanos, aquela que já viu Jesus na Goiabeira?

Doidivanas e sádica, fantasia crianças de dentes extraídos, deliberadamente, para evitar que mordam o membro do pobre-alvo durante o boquete, que antecede o sexo anal. Isso dito num templo, na presença de crianças e suas famílias.

Fez a “mamadeira de piroca” e o “kit gay” da campanha de 2018 parecer chic-chic e fábula do Palhaço Chocolate.

Confrontada, não reconhece que mentiu: “São conversas que tenho com o povo por aí, na rua…”

Tudo naturalizado. Tudo risível. Tudo ridiculamente e premeditadamente grotesco. Cito Márcia Tiburi, a filósofa, em seu “Ridículo Político – sobre o risível e a manipulação da imagem”.

Há pouco tempo, no Brasil se prendia, se torturava, se estrupava e se matava, com requintes de crueldade. Os alvos eram religiosos de diferentes matizes, leigos e comunistas.

Tudo em nome da segurança nacional. Com apoio de parte da cristandade, da família em Deus pela liberdade – de quebrar no pau nos opositores. Alguma semelhança?

Nada era piada, muito menos delírio. Em nome de quem e do quê, agora!?

Invade-se templos, esculhambam-se padres, pastores e irmãos de fé. Agridem, esperneiam e mentem. Acima de tudo, mentem, mentem, mentem.

Em nome de Deus ou de seu filho Jesus é que não é.

Acorda, povo de Deus, porque ele tudo vê!

Memória faz bem e ajuda a ser feliz.

Fui treinada para ser piedosa, no sentido da prática religiosa, mas escapei bem cedo. Pulei de culto em culto até chegar à conclusão de que não precisava de uma igreja para chamar de minha ou culto ou terreiro para se sentir acolhida pelo Divino.

Não abandonei a fé numa força superior, que as vezes chamo de Deus, ou nomeio Universo. Apenas passei a dispensar intermediários, neste plano.  Creio e me valho dos Anjos: peço e agradeço.

Cedi à minha mãe e batizei minhas crias, que terminaram fazendo a primeira eucaristia, também por influência dela; menos a caçula, que foi criada à distância, e a avó encantou-se antes que chegasse a sua vez de, nas regras da casa, ela optar: não quis, respeitamos.

Minha mãe me ensinou que tudo que é melhor para todo mundo está de bom tamanho. E que isso só é possível se a gente fizer a nossa parte, e olhar ao redor, respeitar o outro, e repartir o pão de cada dia.

Dia desses, ouvi minha caçula fazer um comentário com um amigo, que achei melhor não replicar. Ela dizia: “Maiinha é a única capricorniana que conheço que não gosta de dinheiro”.

Creio que ela quis se referir ao que considera minha “pouca ambição”. Pensei comigo: “Menina, você não faz ideia de onde veio sua mãe!”

Claro que ela sabe de ouvir dizer, que aqui não é casa de segredos. Falo do sentir. Para saber é preciso vivenciar – odeio esta palavra, mas não veio outra.

Não é verdade que não gosto de dinheiro. Apenas não faço dele meu objetivo central de vida, a ponto de passar por cima dos meus princípios, das minhas origens, de atropelar o que acredito.

Escolhi viver o aqui e agora. Dinheiro é necessário para se ter algum conforto, prazer e alegria. Basta o suficiente.

Devo confessar: nunca tive dinheiro o suficiente. Embora tenha trabalhado e dado o meu melhor uma vida inteira, desde que me entendo por gente, e foi bem cedo.

Nunca soube o que é fome, e minha prole passou longe, muito longe de sabê-lo. É um privilégio que 33 milhões de brasileiros desconhecem, só nesses tempos.

De uma coisa podem ter certeza: não me conformo em ver meu país dizimado pela ganância, pela insensibilidade, pela indigência, pelo fundamentalismo, pelo cinismo, pela hipocrisia, pela insensatez, pela crueldade da fome, o travo da violência e a escuridão da ignorância.

Precisamos recomeçar, e já! Sorte nossa é chegado o tempo do povo ter juízo: o suficiente é o bastante,

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