por Sulamita Esteliam
Forçoso é voltar ao tema: nossos jovens estão morrendo feito formigas. Cada vez mais, morrem de morte matada, de morte acidental e também de morte suicidada. Morrem brancos, mas sucumbem pela violência, especialmente, os pretos e pardos – negros pobres.
São vítimas da omissão, do descaso da sociedade, da cultura do olho por olho, dente por dente, que começa nas próprias famílias. São alvos da ausência de políticas públicas de educação, cultura, lazer e trabalho, que contemplem as necessidades e anseios dessa juventude escanteada nas periferias dos nossos Brasis. Por mais que tenhamos evoluído.
São o foco da sanha repressiva que traduz o despreparo de quem deveria proteger. São o fruto da impunidade nossa de cada dia, que concede licença para matar, os de sempre, sem temer as consequências.
Os números do Mapa da Violência 2013 estão aí, quentinhos, divulgados nesta quinta, 18, pelo Cebela -Centro de Estudos Latino-Americanos: em três décadas, a contar de 1980, as mortes não naturais mais que dobraram: 207,9% na faixa de 14 a 25 anos. As mortes por homicídio triplicaram; o crescimento chega a 326,1% na comparação com 2011.
Em cada 100 mil, 53,4 jovens foram assassinados em 2011, para 27,1 mortes totais. Trata-se da média nacional. Em estados como Espírito Santo, mais do que duplicam esse índice; Alagoas ultrapassa o triplo; na Paraíba é quatro vezes mais e no Rio Grande do Norte, por Deus, multiplica-se por seis ou mais. É uma pandemia.
Acidentes com algum meio de transporte, carros e motos principalmente, levaram a vida de outros 27,7 jovens em 100 mil.
Outro dado alarmante é que a taxa de homicídios de jovens é desproporcional ao peso demográfico desse grupo, que representa 18% da população enquanto o número de homicídios é o dobro – em torno de 36% do total.
O estudo, coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, aponta polos de concentração de assassinatos: o interior de estados mais desenvolvidos; as zonas periféricas, de fronteira e de turismo predatório; áreas com domínio territorial de quadrilhas, milícias ou de tráfico de drogas; o arco do desmatamento na Amazônia – estados do Acre, Amazonas, de Rondônia, Mato Grosso, do Pará, Tocantins e Maranhão.
Há algumas boas ou notícias menos ruins, entretanto: nos estados e capitais em que eram registrados os índices mais altos de homicídios, como em São Paulo (76% na capital) e no Rio de Janeiro (44% na capital), houve redução significativa de casos, devido aos investimentos na área.
Ainda assim, 20,3 em 100 mil é a menor taxa de assassinatos juvenis no Brasil, que é no estado de São Paulo; e praticamente duplica os níveis considerados epidêmicos, que é de 10 homicídios em 100 casos, conclui a análise do Mapa 2013.
Em Pernambuco, o único estado do Nordeste a reduzir o índice de homicídios por habitantes, também entre a população jovem (31,8%), cai a pecha de estado mais violento do país. Passa ao quinto em homicídios totais e ao sexto em assassinatos da juventude. É redução significativa, ainda que não seja para se orgulhar, pois que de vidas e de não-futuro se trata.
Recife também perdeu o vice-reinado dentre as capitais, e agora ocupa o quinto lugar, depois de Maceió, João Pessoa, Salvador e Vitória, pela ordem. A queda, no período, foi de 36,8% em números absolutos, ou 41,3 em 100 mil habitantes. Continua, entretanto, a exemplo de outras nove capitais – além das supracitadas, Fortaleza, Natal, Belém, Manaus e Belo Horizonte – com taxas inaceitáveis, acima de 100 mortes de jovens por 100 mil.
A maior queda nos índices de assassinatos de jovens nas capitais nos últimos 11 anos encontra-se, justamente, em São Paulo: -76,2%. O menor percentual de morte na faixa etária de 14-25 anos está na Região Sudeste, ainda que estados como Minas Gerais apresentem crescimento preocupante: 83,9% no mesmo período – 21, 3% em Belo Horizonte, a única capital do Sudeste a aumentar o número de homicídios.
Natal, no Rio Grande do Norte, é o novo polo de crescimento da violência contra jovens: 267,3% de crescimento em 11 anos. Sua posição na lista, contudo, está aquém do Recife, em sétimo lugar.
O Mapa da Violência é realizado com base nos dados do SIM – Subsistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde. Há muito mais informações no estudo – clique para conhecer a íntegra do relatório.
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Com informações da Agência Brasil.
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