
Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
por Sulamita Esteliam
Há pouco menos de dois anos, depois de ouvir Lula na abertura do 4º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais,”sujos”, em São Paulo, relatei o encontro fortuito com ele no elevador do hotel onde se realizava o evento. Ganhei um abraço, que aceitei um tanto constrangida, e escrevi: Ninguém fica imune à presença de Lula.
Nesta sexta, que está na História da vergonha, mas também do júbilo, do papel das instituições e da política deste país, acordei chorando depois de noite mal-dormida – de angústia, de preocupação, em parte também pessoais. No despertar, sobreveio o medo e a tristeza com as noticias sobre os acontecimentos, aos quais já me referi no blogue – aqui e aqui.
Os destinos do nosso Brasil vistos do espelho são aterrorizantes. A falta de respeito para com o líder único, que veio do povo, fundou um partido, se elegeu presidente por duas gestões e fez sua sucessora, que por sua vez se reelegeu, não tem precedentes. É nojento e aviltante.
Na minha cabeça se sucediam imagens das lutas, das frustrações e vitórias que nos trouxeram até aqui. Teriam sido vãs? Com sofreguidão acompanhei o desenrolar dos acontecimentos, troquei impressões com amigos e amigas – por telefone, zap-zap, redes sociais.
Só consegui relaxar quando soube que Lula encerrara o depoimento, estava liberado e seguiria para a coletiva de imprensa, na sede do PT Nacional, em São Paulo. Fiz a primeira postagem no blogue, e só por volta das três e meia da tarde Euzinha e o maridão conseguimos almoçar.
À essa altura, o ex-presidente já podia ser ouvido e visto ao vivo, através da TVT – TV dos Trabalhadores. Aí, foi só riso. Lula, embora declaradamente magoado, como bom nordestino, sabe rir dos próprios infortúnios. E sabe como ninguém, se valer do sarcasmo para “tirar onda” da indignidade das situações e do ridículo de seus algozes.
Quem o conseguiria depois de horas e horas sob o poder da inquisição?
Como escreveu Fernando Brito, no Tijolaço: “Lula sambou e sapateou na Globo”. Fez mais, mostrou à Plim-Plim, à mídia venal e aos seus inquisidores que está ciente sobre quem move os cordões que querem enforcá-lo; ou em sua metáfora, “matar a jararaca”. Só que a cobra está viva, “porque acertaram o rabo, erraram a cabeça”.
Assista a íntegra da fala de Luiz Inácio. Até porque não se pode confiar na edição do PIG – televisado, falado, escrito e digitalizado. Embora tenham tido, no caso das TVs, Globo incluída, que valer-se sinal da TV dos Trabalhadores, como apontou o colega Marco Aurélio Mello no FB. Ironias do destino.
Aproveite que está aqui, e leia a beleza de carta aberta que o escritor e jornalista, Fernando Morais, um conterrâneo que orgulha os mineiros, escreve ao czar da república de Curitiba. Convida-o a ouvi-lo sobre as palestras de Lula no exterior, muitas quais ele pôde testemunhar nos últimos anos.
Postado esta tarde no Facebook/Fernando Morais:
São Paulo, 4 de março de 2016
Meritíssimo Juiz
Sérgio Fernando Moro
MD Titular da 13ª Vara Criminal Federal
Bairro Ahú
Curitiba – Paraná
Senhor Juiz:
Na manhã de hoje tive a oportunidade de assistir à entrevista coletiva concedida pelos procuradores do Ministério Público de Curitiba. Deixaram-me a clara impressão de que suspeitam que as palestras realizadas pelo ex-presidente Lula tenham sido uma fachada para encobrir o recebimento de recursos de origem escusa.
Há alguns anos venho acompanhando o ex-presidente em suas viagens pelo Brasil e exterior para levantar informações para o livro que estou escrevendo sobre um período de sua vida pública. Logo descobri que os aviões eram um ótimo local para meu trabalho: sem interrupções de telefonemas, agendas e visitas, eu podia passar horas tomando seu depoimento – lembro-me de um voo de mais de vinte horas de duração.
Acredito tê-lo acompanhado em mais de dez viagens internacionais. De memória, lembro-me de ter estado com o ex-presidente no México, Portugal, África do Sul, Moçambique, Etiópia, Índia, Alemanha, França, Espanha e Cuba.
Em todos os casos ele realizou, sim, as palestras para as quais havia sido contratado. Em alguns dos referidos países, mais de uma. Eu o seguia da hora em que acordava até quando se recolhia para dormir. Assisti a todas as palestras e testemunhei todas as audiências que ele concedeu a artistas, autoridades, sindicalistas e empresários locais. Em nenhum momento ele pediu que eu me retirasse para que pudesse conversar privadamente com alguém – o que seria absolutamente natural.
Trago o assunto à baila por uma única razão: sou testemunha da lisura e do comportamento ético que norteou as viagens do ex-presidente Lula ao exterior – e de que ele de fato proferiu as palestras agora colocadas sob suspeição. Nesse sentido, coloco-me à disposição desse Juízo Federal para oferecer meu depoimento, o qual, estou certo, contribuirá para a elucidação dos fatos sob investigação.
Atenciosamente,
Fernando Morais
jornalista e escritor