por Sulamita Esteliam
Ganhei uma abraço do Lula ontem. Estava no elevador de serviço do hotel onde se realiza o IV Encontro de Blogueiros, “sujos”, e Ativistas Digitais. Duas garotas, de um outro evento, junto. Eis que no andar onde fica o restaurante, a porta se abre e damos de cara com o ex-presidente.
– Ói, o Lula, que coincidência feliz … – balbuciei.
Seus acompanhantes, dentre eles o ex-ministro da saúde do governo Dilma, Alexandre Padilha, candidato ao governo de São Paulo pelo PT, hesitaram por um segundo. Lula, com o largo sorriso que carrega, feito tatuagem, tomou a dianteira, e os outros três o seguiram, acomodando-se como possível.
Fiquei meio que espremida no canto direito do elevador. E Lula, talvez para me compensar, passou o braço por trás das minhas costas, e puxou-me junto a si. Claro que não ofereci a menor resistência. Em compensação, emudeci.
Um das garotas, que há pouco vociferava contra uma colega de trabalho, remota, que lhe reservara um dia a menos de estadia, o que a obrigaria a passar o domingo “naquela roça de Limeira”, abriu seu sorriso de moça e não perdeu tempo:
– Lula, por favor, deixe-me tirar uma foto com o senhor…
– Claro, mas quem vai bater?
– Eu mesma – e cruzou o exíguo espaço para posicionar-se ao lado do ex-presidente, desfazendo o nosso abraço, colou o rosto na face de Lula e esticou o braço esquerdo. Grudei-me no cantinho, feito lagartixa na parede – no caso, alcochoada.
– O pessoal agora tá com mania desse tal de … – comentou Lula
– Selfie… -, emendou alguém.
– … Isso, selfie.
A emoção, talvez, ou a exiguidade do espaço, interferiu na destreza da menina, e o Padilha compareceu para executar o serviço.
Nesse meio tempo, o elevador parou no 13. A porta se abriu e fechou sem que ninguém se manisfestasse. A foto, enfim, foi batida, as meninas desceram no 17, e Lula e companheiros, então, cederam passagem para mim.
– Vou com vocês até o 18, um passeiozinho não me fará mal, e estou em boa companhia.
Lula olhou para mim.
– O meu era o 13… – sorri.
– E ela ficou quietinha…! – disse o Padilha.
– Não é ? – retorquiu Lula, e acionou o 13, enquanto se despedia com um tapinha no meu braço e o sorriso maroto.
– Sou mineira… ainda consegui dizer.
No andar onde desembarcou, outro fã esperava o ex-presidente. Pude ver e ouvir, antes que a porta do elevador se fechasse:
– Lula, que coincidência boa…! Olha, quero fazer uma pergunta que ninguém fez para você…
Ri da situação, que, para Lula, certamente é rotineira e ele tira de letra.
Mais tarde, cruzei com o rapaz no corredor do salão de convenções, e ele me contou radiante:
– Você estava no elevador com o Lula, né? Pois você não vai acreditar: tirei foto com ele, cara, duas, você sabe o que é isso?
– Imagino.
– Você não tirou?
– Não.
– Não acredito!
– Meu celular estava descarregado. Estava indo ao quarto, justamente, pegar o carregador…

Sim, Lula passou o dia no hotel que abriga o IV BlogProg. Veio para palestra no meio da manhã, que atraiu um batalhão da imprensa. Um séquito de políticos o esperava no evento: o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o senador por São Paulo, Eduardo Suplicy, o presidente estadual do PT e ex-prefeito de Osasco, Emídio Souza, Arthur Henrique, secretário Municipal de Governo e ex-presidente da CUT, dentre outros.
O ex-presidente chegou irradiando bom humor, e com a língua afiada, como sempre. Fez o que melhor sabe, e ama, fazer: política.
Começou jogando para o auditório lotado, com mais de três centenas de blogueiros e ativistas sociais: “Não sabia que vocês despertavam tanto interesse na imprensa. Número igual ao que está aqui só mesmo na cobertura da Copa.”
Em seguida, provocou: “Gosto do muito da imprensa. A imprensa me trata sempre muito bem. Só que quando eu critico, dizem ‘Lula ataca a imprensa’; quando me atacam, dizem que é crítica. Mas eu não ligo, e isso deixa a imprensa mais brava”.
Depois confessou: “Nunca tive depressão na minha vida. Mas fiquei quase deprê com a violência com que setores da mídia trataram a entrevista que dei para os blogueiros no Instituto Lula de Cidadania.
‘Quem é essa Conceição (Lemes, editora do Vi o Mundo) que entrevista o Lula e eu não consigo…?’ Ora, digo que não tenho nenhum cargo público, e dou entrevista para quem eu quiser.”
Cumprimentou a blogosfera e os movimentos sociais pela vitória na aprovação do Marco Civil para a internet. E emendou o recado: “Não é tudo, mas conseguimos. Neutralidade é uma conquista que um dia alcançará os meios de comunicação no Brasil”.
Fez um mea culpa pelo que deixou de fazer enquanto esteve presidente da República: “Hoje estou mais consciente da briga pela comunicação do que ontem. Amanhã estarei mais consciente do que hoje”.
Valeu-se, como sempre, das metáforas: “É como um pé de fruta: eu, o governo, o partido estamos amadurecendo para fazer o debate sobre a regulação dos meios de comunicação no país. A nossa, como diz o Franklin (Martins, ex-secretário de Comunicação do seu governo), a nossa é do tempo em que havia mais televizinho do que televisor.”
Lembrou que países-símbolo da liberdade de imprensa e expressão já fizeram o dever de casa: Inglaterra, União Europeia, Portugal, França, Espanha e até os Estados Unidos; além da Argentina, do Equador e do Uruguai. Falta o Brasil.
Caso de esta escriba observar. Nessa hora não baixa o complexo de vira-latas tão caro à casa-grande e seus capatazes.
E Lula assinalou: “Não são governos esquerdistas. São países-símbolos da democracia e da liberdade de imprensa. Faço questão de frisar, para depois não dizerem que eu quero censura. Quero neutralidade, e respeito ao direito de cidadania que tem o expectador, ouvinte, leitor, internauta de ser informado.”
E avisou: “Posso prometer uma coisa a vocês: a partir de agora, toda vez que eu abrir a minha boca, a necessidade de regulamentar os meios de comunicação está presente em minha fala.”
A blogosfera e cidadania brasileira agradecem.
Mais sobre Lula e o Encontro de Blogueiros nas próximas postagens. Agora vou ao desjejum, que estou famélica.
Puxa, que feliz surpresa, hein, Sula? Maior respeito tenho por este cidadão.
Bom fim de semana pra você!
É como disse um jornalista e professor de boa cepa, durante o almoço, pós-fala de Lula: “Lula é fora de série!”