Marielle e Anderson: o que falta esclarecer

por Sulamita Esteliam

A violência política desrespeita a lógica, a humanidade, a identidade de classe ou mesmo de gênero. É o avesso da empatia, da convivência em sociedade, ao bem comum, do respeito às regras de convivência em comunidade, que é o que deve reger a política.

É o puro suco da intolerância com o pensamento divergente, a negação do diálogo, da possibilidade de entendimento.

Há seis anos, a vereadora Marielle Franco foi executada, junto com Anderson Gomes, seu motorista, exatamente por que defendia, dentre outros bens sociais, o direito de acesso à moradia para toda a gente; que estimulava a organizar-se para conquistar.

Ao fazê-lo contrariou interesses da milícia da especulação imobiliária na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Mas será apenas essa a razão?

Seis anos e dez dias após o crime brutal, e dois cadávares queima-de arquivo, presos o executor e um comparsa, a Polícia Federal responde o que todo mundo quer saber: quem mandou matar a vereadora do PSol, e acabou levando junto seu motorista, e  por que Marielle e Anderson morreram?

Foi preciso uma delação, a do assassino confesso, para se apontar os mandantes, agentes do Estado: um conselheiro do Tribunal de Contas, Domingos Brazão, seu irmão, deputado federal, Chico Brazão e um ex-delegado-chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa.

Repito a pergunta que fiz nas redes sociais: é o fim? Acaba aí, ou foram pegos os contratadores, o planejador e os embaralhadores da investigação?

Até porque há conexões públicas nos interesses comerciais e nas relações com a milícia unindo a família Brazão à do Coisa-ruim, e sobram coincidências para além da vizinhança com o assassino assumido no condomínio na Barra da Tijuca.

Para o colega Luís Nassif, a família do Coisa-ruim é a peça que falta:

A prisão de Rivaldo Barbosa, indicado para a chefia da Polícia Civil pelo general Braga Neto – interventor do Rio de Janeiro na operação de Garantia de Lei e Ordem (GLO) – é a penúltima peça que faltava para montar o quebra-cabeças da morte de Marielle Franco. A última peça é a família Bolsonaro.

Outro delegado detido foi Giniton Lages, chefe da Delegacia de Homicídios na época da morte de Marielle.

Lá no Jornal GGN, editado por Nassif, tem muito mais a respeito deste imbróglio. Linco ao pé da postagem.

Todavia, é impossível dissociar o assassinato da vereadora carioca do PSol do panorama político vivido pelo Rio de Janeiro e sua inserção no cenário nacional. Não se pode esquecer que o Brasil vivia em estado de golpe, a ponte para o abismo, desgovernado pelo Mordomo vampiresco de direitos sociais de toda ordem.

E o Rio estava sob intervenção federal, sob o comando do militar general Braga Neto; que nomeou o delegado Rivaldo Barbosa, um ex-militar, chefe da Polícia Civil um dia antes da execução de Marielle e Anderson. 

A respeito, leio em Carta Capital artigo que analisa a questão essencialmente política como pano de fundo para explicar o assassinato da vereadora. Reconhecido fenômeno eleitoral nas municipais de 2016, seria provável candidata a senadora pelo PSol em 2018.

Quem assina é o cientista político e professor da UFRJ e da Pós-Graduação na matéria, Josué Medeiros. Ele coordena o Opel –  Observatório Político e Eleitoral e o Nudeb – Núcleo de 
Estudos sobre a Democracia Brasileira, e avalia que a execução de Mariele, uma vereadora negra, foi um dos principais símbolos da erosão democrática brasileira – iniciada com o golpe contra Dilma e sacramentada com a vitória de Bolsonaro em 2018″

Não foi por acaso que mataram Marielle, uma mulher negra de um partido socialista. Ela simbolizava – se segue simbolizando – a força da interseccionalidade de raça, gênero e classe para o desenvolvimento da democracia brasileira. Quem a executou visava, sim, proteger seus interesses econômicos imediatos, como mostram as investigações, mas queria também fazer avançar um projeto político autoritário e violento no Brasil.”

Não foi por acaso que mataram Marielle

A Polícia Federal entregou seu relatório final à PGR com o indiciamento dos irmãos, do ex-chege da Polícia Civil, como mandantes do crime e mais um delegado por interditar as investigações. 

Entretanto, tem mais caroço nesse angu e há pegadas fortes por todo lado. A ver em quanto tempo poderemos dizer caso encerrado.

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Com:

Jornal GGN: Aparece a penúltima peça do caso Marielle. Falta a última – por Luís Nassif

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