por Sulamita Esteliam
Se fosse possível sintetizar em três frases o espírito do que se passou no 5º Encontro Nacional de Blogueir@s e Ativistas Digitais – #MenosÓdioMaisDemocracia, estas seriam:
- A blogosfera alternativa é fundamental no contraponto à narrativa da mídia venal, alimentadora do golpe.
- O processo político está em aberto, nada está consumado, e a resistência se dá a partir da presidenta legítima e das ruas.
- Esse governo interino é “provisório”, como define Dilma, e além de golpista, ou ilegítimo, é um desgoverno.
Frases confirmadas pelos acontecimentos políticos desde a sexta, quando se deu a abertura do #VBlogProg, quais sejam: o recuo do governo provisório e golpista em acabar com o Ministério da Cultura, e assim tentar se legitimar – falta devolver a Presidência; o vazamento da conversa gravada do ministro interino do Planejamento do governo provisório a planejar o golpe com um investigado da Lava Jato, Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro.
No último caso, a palavra está com a PGR – Procuradoria Geral da República e seu chefe Rodrigo Janot, sob cuja guarda está a gravação. Por que só agora veio à tona?
Não obstante, por mais que a mídia venal se esmere em socorrer o desgoverno vascilante, dando voz a Jucá para explicar o inexplicável, tudo isso junto pode ser traduzido em três palavras, que nada têm de mágicas: esperança, resistência e confiança.
“Soltemos os balões, numa manifestação de liberdade”, instou Dilma ao povo que carregava balões vermelhos no formato de corações. E os balões, em júbilo, ganharam os céus de Beagá.
A presidenta devolveu, calorosamente, o tom da amorosa e energizante recepção com que a gente belo-horizontina a acolheu em frente ao hotel onde já se desenrolava o #5BlogProg, no Centro de Beagá.
Devo dizer que estou orgulhosa da gente da minha “Macondo” de origem, que é a terra onde nasceu e cresceu Dilma Vana Rousseff.
Para não restar dúvidas, eis o vídeo, que certamente você não viu nem verá no PIG:
Imagina se fosse o Temer…
A lembrar que a Frente Brasil Popular adiou a Marcha #ForaTemer da quinta para a sexta, exatamente, para poder receber e abraçar a presidenta Dilma. Mas quem viu ou participou sabe que as dezenas de milhares presentes não se resumiam a ativistas dos movimentos sociais. Aos manifestantes que vieram da Praça Afonso Arinos, três quarteirões acima do hotel onde, no início da noite se deu o esperado encontro, se juntou gente que costuma frequentar a maioria silenciosa.
Dilma confessa que foi às lágrimas, sobretudo quando se soltaram “os balões vermelhos da liberdade deste estado da liberdade”:
“É isso mesmo, Daniela, bobeou a gente chora; eu mesmo acabo de chorar vendo a multidão ali na rua”, disse a uma garota de 16 anos que não parava de chorar diante do palco no interior do hotel, talvez por se sentir parte da História.
Depois que a presidenta Dilma entrou no hotel, a marcha seguiu seu curso rumo à Praça da Estação, onde se localiza o prédio ocupado da Funarte.
Lá, novas cenas de emoção se deram, segundo relato de pessoas queridas que estavam na praça, e me contaram, numa breve escapada, no sábado.
Na Praça da Estação acontece, desde sexta, o FIT-BH – Festival Internacional de Teatro. A apresentação que se desenrolava no momento da chegada dos manifestantes parou para ver a marcha passar. E a multidão que assistia à peça se incorporou aos gritos de “Fora, Temer!” e “Volta, querida!”.
O acolhimento popular à presidenta legítima, ora afastada, se repetiriam no auditório onde se desenrolava o #5BlogProg. Cerca de 500 pessoas, a maioria das quais blogueiros e blogueiras, que não se furtaram a aplaudi-la e brindá-la com palavras de ordens oriundas dos movimentos sociais: “No meu País eu boto fé, porque ele é governado por mulher!” , “Dilma guerreira do povo brasileiro”, “Dilma, eu te amo”, dentre outras.
As falas de vários blocos de conversa, a começar pelo discurso da presidenta Dilma Vana Rousseff, o primeiro desde o seu afastamento temporário pelo processo de impeachment, eclodem o repúdio ao golpe, ao ataque à Democracia e aos direitos civis, sociais e trabalhistas, usurpados pelo desgoverno.
Dilma, emocionada mas absolutamente descontraída, reiterou sua disposição em resistir, em não se deixar intimidar, em seguir denunciando o golpe, onde e até quando for preciso:
“O governo provisório – o caráter provisório é importantíssimo – é produto de um golpe. É provisório porque é ilegítimo. Não é produto do desejo popular. Não foi submetido as urnas, não só as pessoas, mas o programa que estão tentando implantar, e isso é o mais grave.”
A presidenta legítima, também destacou o retrocesso das medidas, que tem nas mulheres, crianças, nos negros, indígenas, quilombolas, na maioria do povo brasileiro seu alvo principal.
Identificou, também, as digitais de Eduardo Cunha na inércia da Câmara, no golpe, na composição e nas ações do governo provisório e golpista. O presidente afastado da Câmara dos Deputados é réu no STF por corrupção no processo da Lava Jato, e sofre processo por quebra de decoro na Comissão de Ética do Legislativo.
Por isso Dilma se sente na “absoluta obrigação de resistir; vou lutar contra isso até o fim, e ganhar”.
Ela assegura que, a despeito das ações intimidatórias, não vai ficar trancada no Palácio da Alvorada:
“Há algum tempo me chamavam de faxineira, pois agora vou mudar de profissão: vou ser zeladora da democracia.”
Eis a íntegra da fala de Dilma no #5BlogProg, indispensável também como registro histórico:
Que o processo de abertura de impeachment da presidenta Dilma, a legítima, é fruto de um golpe, a blogosfera e a mídia alternativa não se cansam de denunciar, faz tempo.
E muita gente embarcou nessa onda, acreditando que poderia surfar no tubo e chegar à praia da redenção, política e econômica. Em nenhum momento, os surfistas da oportunidade pararam para pensar na Constituição que garante o processo democrático, nem nas pessoas que usurpariam o poder.
Muito menos se deram ao benefício da dúvida sobre também vir a ser alvo de assalto a seus próprios direitos. Quem pisa no direito de alguns, não se furta a fazê-lo com todos e qualquer um.
E aí veio a frustração, que começou envergonhada depois do circo de horrores que foi o 17 de abril, quando se aprovou a admissibilidade do processo na Câmara.
A decepção foi alimentada pela omissão do STF em cumprir seu papel de “último reduto da cidadania”, como definiu de público o ministro Marco Aurélio de Mello.
E prosseguiu no show de hipocrisia no Senado, que resultou no afastamento de Dilma e na ascensão de Temer e seu ministério de “homens velhos, brancos e ricos.” E este blogue repete, “todos probos”.
Agora, está aí a degravação de conversa do ministro interino do governo provisório, Romero Jucá, publicado pela Folha de São Paulo, sempre ambígua e oportunista. Será o suficiente para a ministra Rosa Weber, que pede explicações da presidenta legítima para usar a palavra golpe?
Todo essa vergonhosa situação. que retumba mundo afora graças à blogosfera alternativa e a jornalistas internacionais, como Gleen Greenhwald, do The Intercept, é definida pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) como “o preço do golpe”.
Segundo ele, que esteve presente no #5BlogProg, Temer não conseguiu viabilizar um ministério de notáveis, nem deixar de “nomear um bandido para líder do governo, o deputado André Moura, porque o Cunha não deixa. Ele é o chefe da máfia.”
Por essas e outras é que o pastor evangélico, Ronaldo Nogueira, “um desconhecido do meu estado (RS) se tornou ministro do trabalho, ao invés de nomes conhecidos do PTB. Era precisos dar vaga ao primeiro suplente que sequer é do partido, mas é irmão do Augusto Nardes, o ministro das pedaladas fiscais do TCU”, afirma.
Em bom português, para viabilizar o golpe, travestido de impeachment, que o levaria ao poder, Michel Temer se tornou refém de Cunha e seus asseclas. Começa a pagar o preço, duplamente.
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Volto ao #5BlogPlog mais adiante. Por enquanto, compartilho acessos à cobertura e a artigos relativos ao evento:
Barão de Itararé: Dilma promete resistência e denuncia golpismo do impeachment
Barão de Itararé: Mídia Alternativa, resistência e revolução da imprensa
Barão de Itararé: Ataque ao Marco Civil vai ampliar apartheid digital, diz Bia Barbosa
Blog do Pepe: BH ovaciona Dilma, a “zeladora da democracia”
Tijolaço/Fernando Brito: A advertência de Dilma: superestimar “rombo” público é justificar cortes sociais e trabalhistas
Escrevinhador/Rodrigo Vianna: Dilma aos blogueir@s: “É minha absoluta obrigação resistir; vou lutar contra isso até o fim, e ganhar.”
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