por Sulamita Esteliam
Outro dia, vi nas redes sociais postagem que dizia que “trabalhador que apóia a PEC 241 é ruim da cabeça ou doente do pé”. Uma alusão ao Samba da Minha Terra, de Dorival Caymmi, composição dos idos de 1940 do século passado.
Creio que não é preciso explicitar que é no lombo do trabalhador, da trabalhadora assariados, e das pessoas que mais necessitam da ação do Estado, que o corte de investimentos em políticas sociais, a começar por saúde e educação, vai moer.
Assim, é preciso sair do comodismo e ir à luta para tentar barrar a PEC do Fim do Mundo. E que eu chamo de terremoto por que, se passar, só vai restar escombros de um país.
E o que dizer da pessoa que se diz religiosa, cristã, e que nega o principal postulado de sua fè: “Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo”?
Bom sujeito não é…
Se há pecado, o da conivência com o mal ao outro figura entre os mortais, por que de vida e morte se trata.
Destarte, se o Estado é e deve ser laico, é muito bem-vinda a preocupação manifesta da Comissão Episcopal da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil com os retrocessos nos direitos sociais.
Refere-se à PEC do Apocalipse, como quer o The Intercept Brasil, e a mudança de afogadilho no currículo do ensino médio.
Em fina sintonia com a pregação de Francisco, o papa que tem dito a que veio. Coincidentemente, no dia em que o programa Bolsa Família, o maior programa de transferência de renda no mundo, completa 13 anos.
Transcrevo a nota, a partir do sítio da CNBB, foto agregada a partir do Vi o Mundo:
Nota da Comissão Episcopal Pastoral Para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz
“Nenhuma família sem casa,
Nenhum camponês sem terra,
Nenhum trabalhador sem direitos,
Nenhuma pessoa sem dignidade”.
Papa Francisco.
Nós, Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, e bispos referenciais das Pastorais Sociais, da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil, reunidos em Brasília, nos dias 18 e 19 de outubro de 2016, manifestamos nossa preocupação com o cenário de retrocessos dos direitos sociais em curso no Brasil.
Entendemos que as propostas de reforma trabalhista e terceirização, reforma do Ensino Médio, reforma da Previdência Social e, sobretudo, a Proposta de Emenda Constitucional, PEC 241/2016, que estabelece teto nos recursos públicos para as políticas sociais, por 20 anos, colocam em risco os direitos sociais do povo brasileiro, sobretudo dos empobrecidos.
Em sintonia com a Doutrina Social da Igreja Católica, não se pode equilibrar as contas cortando os investimentos nos serviços públicos que atendem aos mais pobres de nossa nação. Não é justo que os pobres paguem essa conta, enquanto outros setores continuam lucrando com a crise.
Afirmamos nossa solidariedade com os Movimentos Sociais, principalmente de trabalhadores e trabalhadoras, e com a juventude, que manifestam seu descontentamento com as propostas do governo, bem como todas as organizações que lutam na defesa dos direitos da população.
Encorajamos as Pastorais Sociais a participarem, com os demais movimentos e organizações populares, na defesa das conquistas sociais garantidas na Constituição Federal de 1988, na qual a CNBB tanto se empenhou no final da década de 1980. Não desanimemos diante das dificuldades. Somos povo da esperança!
Com compromisso profético, denunciamos, como fez o Profeta Amós: “Eles vendem o justo por dinheiro, o indigente, por um par de sandálias; esmagam a cabeça dos fracos no pó da terra e tornam a vida dos oprimidos impossível” (Am 2,6-7).
O Espírito do Senhor nos anima no serviço da Caridade, da Justiça e da Paz. Com Maria cantamos a grandeza de Deus que “derruba os poderosos de seus tronos e exalta os humildes; enche de bens os famintos e manda embora os ricos de mãos vazias” (Lc 1, 51s).
Brasília, 19 de Outubro de 2016.
Dom Guilherme Werlang
Bispo de Ipameri – GO
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para
o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz
Fotos: Mídia Ninja