
por Sulamita Esteliam
Vou mudar um tantinho de assunto, porque é importante.
Com algum atraso, A Tal Mineira publica nota do Fórum de Mulheres de Pernambuco contra a implantação do chamado “vagão rosa” no Metrô do Recife, em teste desde a segunda, 16. Recebi via correio eletrônico, pela Rede Mulher e Mídia.
Segue exemplo do que já ocorre no Rio de Janeiro desde 2006, no Distrito Federal, em 2013, em São Paulo a partir de 2014, e em Belo Horizonte, em novembro do ano passado. Não sem críticas bem fundamentadas.
Há exemplos mundo afora, na Índia, Indonésia, Filipinas, Malásia; e também no Japão, Egito, México e em Dubai. Todos países de cultura claramente machista, como o Brasil.
O que não quer dizer que seja bom. Muito menos que resolva o problema a que se propõe: evitar o assédio sexual no transporte coletivo, a violência do famigerado encoxamento, dentre outros abusos, que não raro acaba em coisa pior.
Até porque, aqui como acolá e alhures, o nó da questão é a educação machista, a naturalização da posse sobre a mulher como objeto de consumo masculino, sob qualquer pretexto e via qualquer meio, ainda que pela violência, estimulada pela sociedade de consumo.
Um objeto a mais para o deleite dos machos, é no que nos traduzem a cultura incensada pela mídia e pelas instituições, todas, patriarcais e insanas.
As mulheres são maioria da população. Estão numericamente equiparadas no mercado de trabalho e, portanto, são maioria dentre os usuários do sistema de transporte.
No metrô do Recife, somam 56% de quem utiliza o transporte diariamente, cerca de 224 mil mulheres, maioria em Brasília, 58% em São Paulo, 50% em Beagá; no Rio, em 2006, quando se implantou o vagão exclusivo, as mulheres eram 49% dos usuários do metrô.
Se isso não nos dá o direito ao espaço público tanto quanto aos homens, então somos legadas a sermos cidadãs de segunda classe, ad eterno.
E o poder público, que não garante educação e segurança para o exercício da cidadania, escolhe retroagir ao tempo em que lugar de mulher era em casa ou na igreja, ou na escola em colégios e/ou classes exclusivas. Ao tempo em que mulher não podia votar nem ser votada.
No Recife, o vagão, em regime de teste, carregado de seguranças para garantir a “exclusividade”, é único em toda a frota. E seguirá único em todas as composições, sem garantia de segurança.
Quer dizer: o nome disso é demagogia política, barata.
Ou, como diria minha avó, passar mel na boca das ingênuas, que aplaudem a iniciativa.
O outro nome disso, tem razão o Fórum de Mulheres, é segregação, é retrocesso.

Transcrevo a nota do FMPE:
NOTA DO FMPE CONTRA MEDIDAS QUE SEGREGAM AS MULHERES NOS TRANSPORTES COLETIVOS E CONTRA O AUMENTO DAS PASSAGENS!
Em setembro de 2016, por ocasião do aumento do número de estupros e feminicídios em Pernambuco, o governador do Estado, Paulo Câmara, por incompetência em resolver esta onda de violência contra as mulheres ou por puro preconceito de gênero, declarou à imprensa que as mulheres deveriam evitar sair às ruas. Sua declaração revelou o que ele pensa, mas não declara: A culpa é da vítima!
Em novembro de 2016 o Ministério Público Federal, em conjunto com o Ministério Público de Pernambuco e com a Secretaria da Mulher de Pernambuco, realizou uma audiência com o objetivo de construir políticas que enfrentem a violência contra as Mulheres nos espaços urbanos. Na ocasião o Fórum de Mulheres de Pernambuco se manifestou contra quaisquer medidas que segreguem as mulheres nos espaços públicos e apresentou uma série de reivindicações.
O governador ignorou nossas reivindicações, optando pelo caminho da mediocridade e do preconceito contra as mulheres, destinando um vagão do metrô apenas para elas. Segregar as mulheres não resolve o problema. É preciso educar os homens! Queremos circular em todos os espaços da cidade e ser respeitadas. A medida adotada pelo governador reproduz a tradicional frase machista: Prendam suas cabritas que meu bode está solto!
Esta medida foi adotada na cidade do Rio de Janeiro e não há indicação de que resolveu o problema do assédio sexual e moral no metrô do Rio. Somos a maioria da população e também a maioria que usa transporte coletivo, portanto, segregar mulheres em um vagão não resolve o problema.
O transporte público é um equipamento de mobilidade, de acessibilidade e de convivência, assim, antes de aumentar as passagens: É preciso humanizar o transporte coletivo! Cotidianamente andamos em transportes lotados e sujos, com motoristas de ônibus que furam as paradas e se desviam das rotas, paradas de ônibus precárias e estações de metrô inseguras.
Por isso, reafirmamos as reivindicações que apresentamos na audiência acima citada:
Divulgação sistemática de cartazes com poemas e crônicas contra o assédio sexual e de áudios e/ou vídeos educativos durante o percurso de ônibus e de Metrô.
Formação de motoristas, cobradores e guardas das estações de metrô para atuar nos momentos em que ocorrem o assédio sexual e a violência.
Aumento da segurança nas estações de metrô com instalação de iluminação e câmaras.
Aumento do número de guardas nas estações de metrô, com formação continuada para lidar com o assédio sexual, a violência étnico-racial e a violência lesbofóbica, homofóbica e transfóbica.
Criação de uma lei que permita mulheres pegar ônibus fora das paradas após as 22 horas, como já acontece em João Pessoa.
Requalificar as paradas de ônibus, iluminando e abrigando as pessoas contra o sol e a chuva. Elas estão abandonadas.
Educação escolar que ensine os garotos a nos respeitar e as meninas a ser autônomas.
GOVERNADOR TRABALHE E NOS DEIXE EM PAZ!
CONTRA O AUMENTO DAS PASSAGENS!