por Sulamita Esteliam
A temporada de protestos contra o golpe permanente e pela democracia veio para ficar. O ato pelas Diretas, já!, no Rio de Janeiro este domingo, reuniu milhares, e reforça uma campanha necessária, e que já está nas ruas há muito.
É sim, um marco reunir 100 ou 150 mil pessoas na Praia de Copacabana num domingo que terminou sob névoa. Mais um dia para ficar na história, a exemplo do que foram a Greve Geral do 28 de Abril e o Ocupa Brasília no último 24 de Maio.
E as centrais sindicais prometem nova greve nacional para o o fim de junho, contra o desmonte de direitos sociais, trabalhistas, previdenciários, em data ainda a ser definida.
Diretas sempre. Afinal todo poder emana do povo e por ele será exercido. É o que diz a Constituição.
Mas esta reles escriba insiste, e não está sozinha, felizmente: a Constituição foi violada, e o caminho para restaurar a plenitude democrática passa, primeiro, pela anulação da fraude do impeachment, que sequestrou 54,5 milhões de votos conquistados nas urnas por Dilma Rousseff.
Impressiona o fato de nenhuma liderança de esquerda e dos movimentos sociais faça qualquer menção sobre esta via da soberania popular. É preciso, ao par da campanha por eleições diretas, que se pressione o STF para anular a farsa que depôs a presidenta.
Dilma retornaria ao governo para organizar a transição, que passa pela convocação de uma Constituinte para realizar a reforma política, com referendo popular, e aí, sim, convocação de eleições gerais livres e diretas.
É fundamental agir em todas as frentes, porque os golpistas o fazem, simultânea e ininterruptamente.
A propósito, agrego pós-escrito: está circulando abaixo-assinado que requer da presidente do STF – ela não conhece o feminino da palavra, e será preciso agregar o verbete do dicionário da ABL – que coloque em votação no pleno o mandato de segurança que pede a anulação do impeachment. Euzinha acabo de assinar, e se você concorda pode fazê-lo clicando aqui.
Há que lembrar o que foi e no que resultou a campanha original pelas Diretas, Já! em 1983/1984. Acabou no Colégio Eleitoral.
Milhões foram às ruas, mas a Câmara dos Deputados, atendendo a um complô das elites políticas – algumas delas frequentes nos palanques dos comícios pelo direito ao voto popular, Brasil afora – frustrou as expectativas populares.
Em conluio com o regime militar, já em seus estertores, as forças conservadoras, aliadas ao centro, acabaram derrubando a Emenda Dante de Oliveira, e a eleição de Tancredo Neves em 1985 foi pela via indireta.
Um remendo que alijou o povo do processo. Deu no que deu. Tancredo adoeceu e morreu sem tomar posse. Um novo arranjo entregou ao seu vice, Sarney, o cargo.
E os brasileiros só voltariam a escolher o presidente cinco anos depois, uma escolha atravessada e manipulada pelos meios de comunicação, sobretudo a Globo, onipresente.
Ironicamente, 21 anos depois do avô ser ungido presidente pelo Congresso, outro Neves, o neto, batido nas urnas, optou pelo terceiro e quarto turnos, jogando o Brasil de volta ao pântano no qual ele próprio se afunda.
O desgoverno está moribundo, mas ainda esperneia. E o que não falta é quem ainda tente lhe dar sobrevida.
Nem que seja para “encher o saco”, na expressão polida do neto de Tancredo, que a essa altura se contorce onde quer que esteja.
Cá pra nós, deve invejar o colega Miguel Arraes, companheiro nos palanques pelas diretas, que tratou logo de combinar com o poderoso a retirada do próprio neto de cena, antes que este enlameasse irremediavelmente o nome da família.
Fala-se, por exemplo, da costura de um “acordão”, para salvar a pele do mordomo e seus asseclas. O usurpador deixaria a ribalta, para evitar a cassação pelo TSE e a aprovação da PEC das Diretas. Está no Nocaute, blogue do Fernando Morais.
Mas, de alguma forma seria anistiado por seus malfeitos, ou pelo menos aqueles enquadrados no Caixa 2. Ele e a camarilha e, por tabela, os envolvidos do PT e outros partidos.
A tramoia implicaria entregar pontos essenciais do desgoverno, como o Ministério da Fazenda, aos tucanos, mas não haveria ainda um nome para substituir o mordomo, a despeito das especulações.
A trama deixa, contudo, um monte de pontas soltas, inclusive, o destino do usurpador. Teria começado a ser armada neste fim de semana, em reunião no Palácio do Jaburu.
Não obstante, é a velha história: falta combinar com o povo.
Fotos:
1 e 2 -Diretas, já! no Rio, 28 de maio de 2017 – Mídia Ninja e Jornalistas Livres /via Rede Brasil Atual
3 – Diretas, já! Candelária, 10 de abril de 1984 – O Dia
Um comentário