Pauta do dia: o preconceito e o benefício da dúvida

por Sulamita Esteliam

Dois assuntos pipocando nas redes sociais: como será a gestão da primeira mulher procuradora-Geral da República do Brasil, Raquel Dodge; e o que será do Brasil quando, não bastasse a qualidade de políticos que infestam o Congresso Nacional, quando a Justiça pisa na Constituição para legitimar o preconceito, a homofobia?

Raquel Dodge, pelo que se sabe, é procuradora rígida e discreta, sem medo de cara feia. O diabo é que foi indicada pelo mordomo-chefe do desgoverno fruto do golpe e promotor da lambança que habita o fundo o abismo aonde jogou o País.

Vozes se dividem sobre como será o amanhã da PGR: vai manter-se no ataque, conveniente, aos políticos, como Rodrigo Janot; vai estancar a sangria, como quer a quadrilha que assalta o poder, ou vai atuar para trazer a atuação do Ministério Público Federal para os limites constitucionais, restaurando a instituição?

O benefício da dúvida também é um direito. A ver…

Sobre o infeliz que se vale do título de magistrado para legitimar a discriminação e o ódio à população LGBT, só se pode lamentar pelo seu destino. Mesmo com o nível de omissão da Corte Suprema, é difícil imaginar que o STF possa vir a dar guarida a uma barbaridade desse porte.

Não existe “cura gay”, e o próprio Conselho Nacional de Psicologia já se manifestou a respeito, e desautorizou os profissionais da área a fazerem esse tipo de “tratamento?”.

Doença é o preconceito.

Vários memes disseminados pelas redes sociais tocam na questão central dessa falsa polêmica. Escolho um, que, a meu ver, põe o dedo na ferida:”Homossexualidade não é escolha. Homofobia é.”

No mais, compartilho a análise, como sempre certeira, do colega jornalista Bob Fernandes, na TV Gazeta, ontem à noite, via Tijolaço e Youtube. Assino embaixo:

Transcrevo o texto:

O procurador Ângelo Vilela era “amigo íntimo” do procurador-geral, Janot. Por suspeita de vazar informações para a JBS, Vilela ficou 76 dias preso.

Solto, em entrevista para Camila Mattoso, da Folha, Vilela expôs intestinos. Do procurador Janot e das delações na Lava Jato.

Vilela conta: Janot armou com a JBS para derrubar Temer. Porque assim evitaria que Raquel Dodge, a quem Janot chamava de “bruxa”, se tornasse a nova procuradora-geral.

O procurador Vilela diz: na Lava Jato se prende para investigar, ao contrário de investigar para, só com provas, prender.

Segundo o procurador, não é o Estado que tem provado a culpa, como manda a lei mundo afora…

Aos investigados se tem imposto o ônus de provar sua inocência….Certamente, uma contribuição desse “novo direito brasileiro” ao direito universal.

O procurador Vilela criticou ainda a tática dos “vazamentos seletivos para assassinato de reputações”.

O sistema político-partidário se auto-avacalhou, isso é fato.

Mas há outro fato: há mais de uma década, desde o chamado “mensalão”, vazamento é método e as manchetes são o verdadeiro tribunal.

Quem é fuzilado nas manchetes está moral e socialmente morto.

Também isso, avacalhação e auto-avacalhação da política, deu oxigênio, abriu espaços para ultraconservadores. Quando não, fascistas.

Como em Porto Alegre. Onde devotos bolsonáricos e bando MBélico fizeram o Santander se acovardar. E fechar a exposição “Queermuseu”.

Em Campo Grande, no Museu Marco, a polícia prendeu… um quadro. E em Jundiaí o ultraconservadorismo levou à censura de uma peça de teatro.

Hoje, em Brasília, um juiz autorizou tratar homossexuais como se fossem doentes.

O incomodo, de sempre, é com sexo. Isso se resolve no divã ou na cama, não com censura.

Na questão quadros e exposição, um bando de jecas. Sem noção, profundamente ignorantes.

Por isso, e por saberem disso, a reação fascistóide. As manifestações de recalque com a própria incultura.

Não buscam aprender, saber. Buscam impor sua ética/estética: linguagem e pensamento rasteiros, brutalidade, a ameaça constante da força, inclusive física.

Uns são ultraconservadores. Outros são a jecaria fascista.

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