
Sulamita Esteliam
Sigo em ritmo de pré-carnaval para não quedar-me ante o desvario da pátria amada, Brasil. Afinal, nada expressa melhor um povo que sua cultura e tradições.
E como resistir é preciso, recorro ao mestre Capiba, amplamente visitado nesta época. E ao frevo mais adequado à essa situação de desmantelamento de um país pela voracidade dos predadores que usurpam a vontade popular.
Fala de pertencimento, à revelia da matilha.
É imperioso resistir ao aniquilamento da dignidade de nossa gente.
Até para mostrar que, “queiram ou não queiram os juízes, nós somos madeira de lei que cupim não rói”.
O vídeo é da amiga-irmã Reiko Miúra, jornalista de boa cepa, que nos deu a alegria da visita por esses dias.
No sábado, 13, Dia Nacional de Mobilização, fomos a Olinda para o lançamento do bloco/troça Sapo Barbudo, em defesa de Lula e da Democracia.
Nossa troça tá na rua/Vem pra fazer a festa popular/É a Troça do Sapo Barbudo/Que o Moro vai ter que engolir./Queremos justiça sem perseguição/A soberania da nossa nação..
Em respeito à democracia/Pelo direito do trabalhador/Queiram ou não queiram os juízes/O Sapo Barbudo vai participar da eleição.
Emocionamo-nos com o encontro de estandartes na sacada do sobrado-sede de outro bloco da resistência, com lado, na Praça Laura Nigro: Eu Acho é Pouco.
Troca de energias fundamentais para aguentar esse rojão. Até que justiça se faça e possamos recomeçar.
Agrego o samba-enredo da Beija-Flor de Nilópolis para este Carnaval. O enredo Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu vai na gênesis do terror que nos assalta.
É mais uma escola a traduzir na avenida o inconformismo que o brasileiro parece não manifestar em atitudes. A outra escola a tratar da malversação da política é a Paraíso do Tuiuti, do Grupo de Acesso, com o enredo Meu Deus, meu Deus! Está extinta a escravidão?
Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar não leve a mal
Pela Luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social
Os autores do samba da Tuiuti são Claudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal. Ouça na voz dos interpretes Nino do Milênio, Celsinho Mody e Grazzi Brasil.
Já o samba da Beija-flor é assinado por Di Menor BF, Kiraizinho, Diego Oliveira, Bakaninha Beija Flor, JJ Santos, Julio Assis e Diogo Rosa.
Na voz do puxador Luiz Antônio Feliciano Marconde ou, como o conhecemos, Neguinho da Beija-Flor, vai ser o maior sururu na Sapucaí.
Sou até capaz de assistir à transmissão, só para ver o que os comentaristas globais vão se arranjar para traduzir essa história.
Sou eu…
Espelho da lendária criatura
Um monstro…
Carente de amor e de ternura
O alvo na mira do desprezo e da segregação
Do pai que renegou a criação
Refém da intolerância dessa gente
Retalhos do meu próprio criador
Julgado pela força da ambição
Sigo carregando a minha cruz
A procura de uma luz! A salvação
Estenda a mão, meu senhor
Pois não entendo tua fé
Se ofereces com amor
Me alimento de axé
Me chamas tanto de irmão
E me abandonas ao léu
Troca um pedaço de pão
Por um pedaço de céu
Ganância veste terno e gravata
Onde a esperança sucumbiu
Vejo a liberade aprisionada
Teu livro eu não sei ler, Brasil!
Mas o samba faz essa dor dentro do peito ir embora
Feito um arrastão de alegria e emoção o pranto rola
Meu canto é resistência
No ecoar de um tambor
Vem ver brilhar
Mais um menino que você abandonou
Oh, pátria amada, por onde andarás
Seus filhos já não aguentam mais
Você que não soube cuidar
Você que negou o amor
Vem aprender na Beija-Flor
Maravilha. Pudess
emos todos no pais sair cantando a alegria como esses irmãos do Nordeste. Ainda que em tempos sombrios. Parabéns, Sula, por sua segunda terra.