por Sulamita Esteliam
O Brasil já está em ritmo de pré-Carnaval. Aliás, folia é algo que a pátria brasilis sabe fazer como ninguém – para o bem e para o mal. E o desgoverno et caterva estão aí para não nos deixar ter ilusões.
No entanto, refiro-me ao reinado de Momo, como catarse ansiada e merecida do Zé e da Maria Povinho. Para além da farra, a crítica política, mais do que nunca, está na ordem do dia, a mostrar que a propalada alienação não é exatamente o que parece.
Aqui em terras pernambucanas, a troça Homem da Meia Noite juntou adeptos em grande festa noite passada, de Guadalupe até o Rosário, em Bonsucesso das Olindas, para a entrega da roupa que o calunga gigante vai vestir este ano.
Famílias inteiras compareceram, unidas no propósito que, já escrevi neste blogue outras vezes, é quase uma religião. Um casal de sobrinhos, que nos visitou por esses dias, vindos de São Paulo, esteve lá com o filho de 3 anos. Voltaram encantados.
Aí a política é a da veneração – para além das origens do Zé Pereira.
Aqui, o profano está de mãos dadas com o sagrado emerso das religiões afro-brasileiras. Há quem associe o boneco a Exu, senhor da meia noite. Há quem o ligue às figuras dos “mestres” da umbanda, cuja variação de nomes e sempre precedida de “Zé”.
Fato é que uma profusão de “zés” sacodem o largo, quando o Homem da Meia Noite assome à porta da sede do bloco. Uma verdadeira catarse coletiva que pude presenciar ao longo de cinco anos que acompanhei o bloco.
Nesta quarta, em Santo Amaro do Recife, é a vez do Bloco Sapo Barbudo reunir foliões-militantes em torno da customização de camisetas. A camisa de cada um/a sai de lá serigrafada por artistas da terra, de graça. Na sede do PT, Rua Gouvêa de Barros, 124.
Já na quinta, no Sintepe – Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco, será lançado o Comitê Metropolitano em Defesa da Democracia.
O bloco é uma iniciativa da setorial de Cultura do PT local. Dia 13 estreia nas ruas, carnavalizando o Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Democracia e do Direito de Lula ser Candidato. Só que em Olinda. Concentração a partir das 15:00 horas, na Praça do Carmo.
Tem carnaval também em Fortaleza, no sábado 13, puxado pelo Bloco Tô com Lula. Concentração a partir das 9:00 horas, na Praça do Carmo.
No Rio, o dia 13 será também de Carnaval, e o povo se concentra na Praça XV, a partir das três da tarde.
A lembrar que o julgamento do recurso a jato pelo TRF-4 é dia 24, em Porto Alegre. Mas o PT e os movimentos sociais se organizam para estar em Porto Alegre em vigília a partir do dia 22.
Em Beagá, minha Macondo de origem, a agitação das prévias carnavalescas também já começou. E dia 13 tem lançamento do Comitê Popular na Praça 7, às 10:00 horas.
Mas a novidade do ano é o lançamento do Lindo Bloco do Amor, em homenagem a Gonzaguinha. Deu-se em setembro passado, mas é o seu primeiro Carnaval.
Merecido tributo ao cantor e compositor que escolheu a capital mineira para morar nos últimos 10 anos de sua vida breve.
Aliás, o amigo Pedro Ferreira, agitador cultural da cidade, avisa que no fim de tarde do sábado 13, tem uma espécie de pré-estreia do bloco na folia, que tem a pegada de Renegado e Manu Dias. No Festival Sensualize, na Abílio Machado, 3081, no Bairro Alípio de Melo.
Um encontro pra arrepiar com dois blocos sensações do carnaval belo-horizontino: o Volta Belchior e o Unidos do Samba do Queixinho.
“Aumenta tudo, aumenta o trem
Aumenta o aluguel e a carne também
É… mas, sei, vai melhorar
Pior que tá não dá pra ficar”
Mas a minha preferida do Gonzaguinha diz assim:
“A gente não está com a bunda exposta na janela/
para passarem a mão nela.
A gente quer viver pelo direito.
A gente quer viver todo o respeito.
A gente quer viver uma Nação.
A gente quer é ser um cidadão.
É, é, é, é, é, é é…”
Leio na página do coletivo Jornalistas Livres e também no Tijolaço, que a escola de samba Paraíso do Tuiuti, do Grupo Especial do Rio Janeiro, leva à Sapucaí, no Carnaval, o golpe que desmantela o País.
Uma ala inteira com integrantes fantasiados de patos – os amarelinhos da Fiesp – envergando camisa da CBF, batendo panelas e manipulados por uma grande mão.
A ala com cerca de 100 pessoas vem dentro do enredo que questiona a reforma trabalhistas e expõe a atual situação dos trabalhadores brasileiros.
Mas tem muito mais. Transcrevo o texto de Fernando Brito, que comenta matéria publicada, ora vejam só, pelo O Globo:
Carnaval do Rio terá escola com “patos paneleiros”
por Fernando Brito – no Tijolaço
Quando algo entra na cabeça do povo, acaba saindo por sua boca.
É por isso que a Paraíso do Tuiuti, do Grupo Especial do Carnaval do Rio de janeiro terá uma ala, revela O Globo, composta de integrantes fantasiados de patos, batendo panelas, enquanto são manipulados por uma grande mão.
Sem legendas, não é?
Mas tem mais, conta o repórter Rafael Galdo:
Além disso, uma das fantasias das alas, chamada de Guerreiro da CLT, trará um trabalhador sobrecarregado com várias tarefas, tentando se proteger do que a escola chama de “exploração patronal”. Como defesa, ele usa uma carcomida carteira de trabalho como escudo.
A apoteose, porém, é o último carro alegórico, que traz um boneco gigante de Michel Temer vestido de vampiro.
Vai ser de levantar a arquibancada.
O carnavalesco Jack Vasconcelos explica o enredo “Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão?”:
— Na alegoria de encerramento a gente faz uma reflexão sobre a situação (atual) do trabalhador no Brasil, especialmente o mais pobre que herdou a falta de preparo na hora da abolição. A escravidão fica datada. Essa relação de opressor e oprimido está aí, e as pessoas não percebem isso.
Percebem, Jack, percebem. E é por isso que o carnaval é a catarse que é.
Republicou isso em Gustavo Hortae comentado:
QUAL É A SUA TURMA NESTE BACANAL? QUAL É O SEU GRUPO? NÃO, NÃO, NINGUÉM FICA DE FORA!
> https://gustavohorta.wordpress.com/2016/05/06/qual-e-a-sua-turma-neste-bacanal-qual-e-o-seu-grupo-nao-nao-ninguem-fica-de-fora/
Qual é a sua turma neste bacanal? Qual é o seu grupo? Não, não, ninguém pode ficar de fora! Qual é o seu grupo nesta orgia? Voluntário, predador, oportunista ou esculachado, esculhambado, arregaçado? Nem pense que seja possível ficar de fora. Não ha fora quando tudo é dentro. Não tem lado de fora, não se vê nenhuma saída!…