
por Sulamita Esteliam
No Dia do Frevo, é dia 09 de fevereiro que Recife comemora, cumpre-me dizer que este ano, esta velha deixa o Antigo e as ladeiras de Olinda para experimentar a folia nas praças e ladeiras da minha Macondo de origem, Beagá.
A cidade está em festa desde há muito, e nesta sexta começa oficialmente a folia. Um amor intenso pela música, pela vida com toda sua grandeza e pequenez, que se traduz nos títulos dos blocos
Vou com o estreante O Grande Bloco do Amor, na Sapucaí, na Floresta, para começar.
No sábado, amanheço com o Então Brilha, na Guaicurus, no centro da velha boemia, e entardeço com o Volta Belchior e a Divina Banda, em Santa Tereza.
Espero estar viva no domingo para chegar no inclusivo Todo Mundo Cabe no Mundo, em Santa Efigênia e fechar com É o Amor, um sertanejo, na Savassi.
Não é minha praia, confesso, mas minha filha Carol desenhou os figurinos, e a família vai lá prestigiá-la. E se divertir, é claro.
A tarde da segundona é dia de homenagem: Ai que Saudade do Meu-Ex, envergando a camisa do olindense Sapo Barbudo, a minha de própria lavra.
E tem mais uns tantos outros até a terça-feira gorda, inclusive o Pescoção, dos jornalistas mineiros – eis a programação completa. Isso se a velha carcaça segurar o tranco.

Como já escrevi aqui, Carnaval é cultura e lazer, direitos que se inscrevem na cidadania, a política é parte indissociável, através dos tempos.
Quanto mais em tempos obscuros, a gente não quer só comida…
Ano passado, imperou o #ForaTemer. Este ano o leque se amplia para todos os golpistas, nos três poderes constituídos e àqueles agregados dominantes.
O A Tal Mineira que desde janeiro vem postando marchinhas e samba-enredos nesse diapasão, pega carona na Rede Brasil Atual para uma seleção de marchas e sambas-enredos da cena de Momo Brasil afora.
Dentre elas, uma das finalistas (o décimo lugar) no tradicional concurso de marchinhas Mestre Jonas, cuja final se deu no domingo, 4 , no Mercado Distrital do Cruzeiro.
De autoria do carnavalesco Gustavo da Macedônica, a canção satiriza o mordomo usurpador como “o vampiro, o covarde mestre-salas, que se esconde na Alvorada”.
A marcha vencedora foi Esperando o Metrô, de João Batera e Dimas Lamounier. Uma sátira à eterna promessa das autoridades locais, estaduais, federais, de levar essa modalidade de transporte para a região do Barreiro.
Nela se inclui a Estação Ferrugem, que inspira o título do meu primeiro e único livro editado; há 20 anos.
O mais próximo que se conseguiu chegar nesse processo, no Bairro das Indústrias, o antigo Ferrugem – por conta do córrego que ladeia o bairro -, foi cercar os trilhos e derrubar a estação local. Nenhum morador se colocou contra.
A última foto da estação, última antes da final, no Barreiro, está na capa do meu livro. E os destroços estão lá, há pelo menos 15 anos.
Só para não deixar a sexta passar em branco. Daqui até a quarta-feira ingrata, estarei concentrada em carnavalizar.
Evoé!
Transcrevo a letra da finalista do concurso e a selecionada pela reportagem da RBA, dentre as 10 publicadas pelo sítio alternativo:
Esperando o metrô – clique para ouvir
Autores: João Batera e Dimas Lamounier
Há tempos estou esperando
esperando o Metrô…
Eu era criancinha
hoje eu sou avô.
(2 bis)
Eu era criancinha de colo
quando o governo anunciou
que o Metrô ia chegar ao Barreiro.
Eu tenho 30 anos
e até agora não chegou.
Refrão (2 bis) Há tempos…
Será que vem,
acho que não.
Dizem que é culpa da inflação.
Cadê a verba, desapareceu.
Será que está em Brasília
ou o gato comeu?
Refrão (4 bis).
Marchinha da Assombração – clique para ouvir
Autor: carnavalesco Gustavo da Macedônia .
Abram alas para esse cortejo tão funesto
diabos vestem toga e terno
é a marcha do assombração!
O vampiro, o covarde mestre sala
se esconde na alvorada
“sangue de pobre que é bom”
A caveira, Serra todas as riquezas
abre a porta bandeira
as pernas para tio Sam
Sorria, vais trabalhar noite e dia
a sua aposentadoria
vai ser na outra encarnação
Fantasmas, os ritmistas dessa marcha
com as panelas empunhadas
homenageiam os animais – ” ô vaca, sua anta!!!”
Passistas, bestas em coreografia
jogam pro alto as mãozinhas,
meu Deus, que filme de terror!
Na plateia, os zumbis veneram um pato,
assistem tudo tão calados,
quanta indignação!
(2 x) Sorria, vais trabalhar noite e dia
a sua aposentadoria
vai ser na outra encarnação
Sorria, sorria, sorria