Rapazes de Brasília Teimosa se arriscam para resgatar vítimas da queda do helicóptero global no Recife

Foto: reprodução
por Sulamita Esteliam

Passei o dia atordoada com o acidente de helicóptero orla do Pina, vizinho à Boa Viagem, mais precisamente em Brasília Teimosa. A vida é mesmo um sopro. Melhor vivê-la como se não houvesse amanhã.

Agora à noite, recebi um vídeo feito pela gente local, que registra os detalhes do resgate de três ocupantes da aeronave. Curioso é que veio do maridão, que se encontra em Belo Horizonte e o recebeu de um grupo no zap-zap.

Não costumo publicar esse tipo de imagem. Mas creio ser importante fazê-lo, pois mostra que a solidariedade do povo não tem limite. Nem o risco à própria vida é barreira.

Minha caçula me alertara para o ocorrido, quando voltava da academia. Li a notícia no G1-PE.

Trata-se do chamado Globocop, que presta serviço à Globo Nordeste, e retornava do sobrevoo na Praia de Boa Viagem para fazer imagens para o noticiário matinal da emissora.

Havia nevoeiro, pois o Recife amanheceu sob chuvas, e o mar estava bastante agitado e a maré cheia.

Três pessoas estavam na aeronave. Sobreviveu  Miguel Brendo, 21 anos, operador de transmissão, funcionário da Heliase, dona do helicóptero e prestadora da Globo há 15 anos. Está no Hospital da Restauração, em estado grave.

Morreram o comandante Daniel Galvão,  37 anos, também funcionário da Heliase, e a 1ª sargento da Aeronáutica, Lia Maria Abreu de Souza, convidada para atuar como controladora de voo, segundo a empresa.

Ela foi resgatada com vida, mas não resistiu ao transporte para o hospital. Tinha 34 anos e deixa uma criança de 2 anos.

Tais detalhes não estão nas matérias do G1. Encontro-os no Correio 24 horas, da Bahia. Eles falaram com o dono da Heliase, prestadora do serviço à Globo, e traz um pouco da história de cada um, com fotos inclusive.

A segunda postagem a respeito foca tão somente no piloto Daniel Galvão, um norte-americano com cidadania brasileira. Bem ao estilo global, fala da dor da família, e do amor dele pela aviação, segundo relato do pai.

A terceira matéria faz um resumão do ocorrido, fala sobre a empresa, informa hora e local dos velórios e dá detalhes sobre o curso das investigações a serem feitas pela Força Aérea e pelas polícias Civil e Federal no prazo de 30 a 90 dias.

Todas omitem o local exato onde se deu o acidente. Nem no mapa registra Brasília Teimosa como o local “perto de algumas pedras”.

Ora, é a Globo.

A história da comunidade explica a omissão: Brasilia Teimosa é palavra maldita, pois nasceu da luta para manter-se no local, rodeado pela orla de lazer classe média, de um lado, e pelo Iate Clube, do outro.

Só há coisa de 16 anos, nos governos petistas, nacional e local, o povo brasilino teimoso ganhou direito à urbanização e faixa de areia para lazer, onde havia palafitas e “pedras”.

É chocante, ademais, o distanciamento, a pretensa “imparcialidade”, eu diria, frieza, com que a tragédia é relatada no sítio da emissora.

O que contrasta com o relato emocionado, a despeito do profissionalismo, da veterana e correta repórter, Bianca Carvalho, a enviada ao local logo cedinho.

Note-se que a gente só sabe da atuação solidária dos rapazes, moradores da comunidade, pela voz dos heróis locais, quando se assiste o vídeo com o que seria o vivo da repórter.

E foram estas imagens e relatos que foram ao ar no noticiário do meio dia na TV. Aí, sim, o tom emocional é imprimido pela âncora, as informações estão reunidas; inclusive a participação impecável dos moradores da comunidade, que, no entanto, permanece sem nome.

https://glo.bo/2F8z5ea

É compreensível que não se reproduza a imagem dos corpos, e eu mesma não o faria. Mas do resgate é fundamental, por que foi a presteza dos moradores que deu a possibilidade do rapaz, um garoto, sobreviver.

Só o comandante estava morto quando os corpos foram retirados da água. Naquele momento o impulso era salvar vidas. A despeito de colocar as próprias vidas em risco.

Quando os bombeiros e o Samu chegaram, o resgate já havia sido feito.

Há menos de uma semana, um barraqueiro do Posto 8, próximo aqui de casa, se despediu da vida na tentativa de ajudar os guarda-vidas a salvar duas crianças e seus pais, às voltas com a correnteza. Tinha cerca de 40 anos, e também era pai de família.

Jornalismo sem humanidade e respeito aos fatos como eles são, não é digno do nome.

Dito isso, que os mortos descansem em paz.

Força, recuperação, consolo e coragem para os vivos; especialmente familiares e amigos das vítimas.

 

 

 

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