
Num país onde até a Suprema Corte está metida, com todas as togas, no jogo político, não surpreende que ao invés da Lei Maior, impere a barbárie. Na cidade e no campo.
Veja a execução de Marielle e Anderson, em 14 de março, no Rio, e os ataques à caravana do ex-presidente Lula no Sul do País, no fim daquele mês e, agora em abril, Lula encarcerado, ao Acampamento Marisa Letícia e à Vigília Lula Livre em Curitiba.
Veja a reação das autoridades e da mídia venal frente ao incêndio e desabamento, até hoje não explicado, do Edifício Wilton Paes de Almeida, ocupado por sem-tetos no centro de São Paulo no 1º de Maio. Dois corpos de adultos já foram localizados, e ainda se busca oito desaparecidos, duas crianças incluídas.
Culpar as vítimas pela tragédia anunciada é uma ignomínia. Moradia digna é um direito, e é obrigação do Estado garantir políticas públicas que lhe dê guarida, assim como é preciso respeitar o princípio constitucional da função social da propriedade.
Começou na Igreja da Sé e saiu em passeata pela área central até o Largo do Paissandu, onde prestaram solidariedade às vítimas e se realizou ato ecumênico.
Num país em que um ex-presidente da República é mantido preso ao revés da Constituição, condenado sem crime e sem provas. Pior, com a anuência dos tribunais superiores, que se recusam a reconhecer seus direitos, vale tudo, e dignidade é uma quimera.
Num país em que se derruba uma presidenta da República, legitimamente eleita, a partir de farsa montada para usurpar o poder, a esperança de normalidade se esconde em gruta profunda para além do horizonte. É condição, talvez, de sobreviver.
Mas se engana quem pensa que se escafedeu a consciência. Os fatos recentes o desmentem.
Veja a resistência álacre, apesar dos ataques frequentes e do arbítrio que a motivam, da militância na vigília no entorno da Polícia Federal em Curitiba, dos trabalhadores em São Bernardo. E veja a mobilização dos sem teto em São Paulo e dos sem terra pelos sete cantos do País.
Prova disso é que têm que manter o Lula preso para que ele não derrube, nas urnas, o golpe engendrado pela elite mesquinha e seus asseclas maus perdedores.
O povo sente no lombo os efeitos do retrocesso. E está claro que não foi, como alardeado, para conter a corrupção nunca dantes desvendada, tanto que uma quadrilha tomou de assalto o País.
Também não o golpe não foi a bem da economia, argumento dos estúpidos, porque o Brasil vai de ponta-cabeça, embora patos e paneleiros mantenham obsequioso e envergonhado silêncio.
Todo mundo que vestiu verde amarelo para derrubar a Dilma, caladinho da cunha!
Pagam duas vezes mais o preço do gás de cozinha e do combustível. Pagam o mico da explosão dos preços dos serviços, porque, retiraram o emprego com carteira assinada, e bico agora é mato.
Pagam o preço do minguamento dos seus negócio, porque retiraram direitos, a produção industrial encolheu, o dólar disparou, o desemprego explodiu.
E sem trabalho, o povo não tem honra e não há renda. e sem renda não há venda, e o cachorro passa a correr atrás do próprio rabo.
E depois reclamam da insegurança, e batem palma para o mico da intervenção militar no quintal dos outros, e assistem ao fiasco da balela, mudos e ressabiados.
Pesquisa divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Paraná mostra que apenas 8,3% das 2002 pessoas ouvidas, de 27 de abril a 2 de maio, acham que a vida melhorou depois da derrubada da presidenta Dilma Rousseff, a legítima.
Está no Blog do Esmael: “O Brasil era mais feliz com Dilma, e não sabia, diz pesquisa”.
Não obstante, é entre o nojo e o terror que leio artigo do colega, muito mais habilitado nas ciências políticas e humanitárias, nas quais é doutor, Leonardo Sakamoto, em seu blogue.
Trata de tortura de bebês, isso mesmo, e mulheres grávidas pisoteadas até o sangramento. Aconteceu em acampamento de trabalhadores rurais sem-terras às margens do Rio Araguaia, em São José dos Pinhais, próximo a Marabá, no Pará, semana passada.
No sábado a Polícia Civil esteve lá para iniciar as investigações.
A denúncia é da Comissão Pastoral da Terra. Obra de encapuzados que chegaram em duas caminhonetes ao local em que 10 famílias estavam acampadas à beira do rio. Estavam armados de pistolas, revólveres e escopetas. Barbarizaram por mais de uma hora, seviciando adultos e crianças. Nem bebês escaparam.
Transcrevo parte do relato contido na postagem no Blog do Sakamoto:
”Os adultos foram espancados a golpes de paus, facões e coronhadas. As marcas ficaram espalhadas pelos corpos dos trabalhadores. Os pistoleiros dispararam suas armas próximo do ouvido de duas crianças gêmeas de três meses de idade para aterrorizar sua mãe. Atiraram em redes com crianças dentro, além de derrubarem e pisotearem crianças no chão. Uma das mães que estava grávida, que também foi pisoteada e teve sangramento”, afirma nota da CPT, entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). No acampamento, havia crianças entre três meses e dez anos de idade.
(…)
Após as torturas, os pistoleiros colocaram fogo nos barracos nos trabalhadores rurais, queimando seus pertences e documentos pessoais. As famílias foram obrigadas a subirem nas caminhonetes para serem deixadas na rodovia Transamazônica, a 30 quilômetros de distância. Teria sido dada ordem para que as famílias fossem para o Tocantins e não voltassem mais.
Clique para ler a íntegra da matéria.

No sítio da CPT Nacional, a informação de que, na última semana de abril, um acampamento do MST foi destruído por milícia em Paudalho, Região Metropolitana do Recife.
Cem familias havia ocupado a terra do Engenho Planalto, no dia 14 de abril, durante a Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária. Lá instalaram o Acampamento Lula Livre IV, lema da mobilização deste ano.
“A questão mais simbólica e mística da Jornada foi termos nomeado todos os novos acampamentos com a palavra de ordem Lula Livre!, em todas as grandes regiões do estado, desde a Zona da Mata até o Sertão, os acampamentos foram batizados de Lula livre!”
Se a violência no campo sempre foi um câncer no Brasil, a situação agravou-se severamente nos últimos dois anos, justo no desgoverno golpistas. A violência letal recrudesceu.
No ano passado, foram 70 assassinatos em conflitos no campo, o maior número de mortes desde 2003 e 15% superior a 2016. O levantamento é da CPT, e foi divulgado dia
16 de abril.
Deste total, 28 trabalhadores rurais foram mortos em massacres. O Pará lidera o ranking de 2017 com 21 pessoas assassinadas, sendo 10 no Massacre de Pau D’Arco. É seguido de perto por Rondônia, com 17, e pela Bahia, com 10 execuções.
Note que Pernambuco não está entre os 10 mais, e Minas ocupa o sétimo lugar na lista dos estados que mais mataram camponeses em 2017.
A realidade, dizia Dom Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás, é pior do que se consegue apurar neste País imenso e desigual: “A publicação da CPT é apenas uma amostra dos conflitos no Brasil”.
Em tempo: quimera, como se sabe é um animal mítico, de aparência híbrida de diferentes bichos, que solta fogo pelas ventas. Uma besta-fera mitológica, define o wikipédia.