A greve dos caminhoneiros e a natureza da prática do quanto pior melhor

por Sulamita Esteliam

Não bastasse o meu dia, o Recife que depende de tráfego e trânsito viveu o caos nesta quarta-feira, 23 de maio. A greve dos caminhoneiros já provoca desabastecimento, atiçando a sede de quem sempre aposta no quanto pior melhor. Está reeditada a lei de Gerson, com a mídia venal em orgasmo múltiplos.

E depois, a culpa é dos políticos, tão somente…

Botaram o terror para cima da presidenta Dilma Rousseff, a legítima, com greves, bloqueios, pitis em postos de combustível, e todo o tipo de esculhambação, que me recuso a reproduzir aqui.

Pouco importa se foi locaute, greve patronal ou o escambau em 2013/14. O fato é que as parcelas médias da população se locupletaram no escárnio. E deu no que deu.

E viva o Mercado que tudo sabe e tudo pode.

Fato é que está aberta a temporada de leilões de panelas gourmet – algumas nem tanto. Só não se imagina que vá aparecer um providencial salvador aos 48 minutos do segundo tempo para arrematar o lote sem dono.

Por que, até agora, não apareceu seu ninguém para pedir desculpas a Dilma. E nem uma faixazinha mambembe pelo #ForaTemer ou em defesa do Pré-Sal ou da Petrobras, ou por #LulaLivre.

O Grande Recife não está só nesta bagaceira: é da natureza do empresariado brasileiro remexer as brasas para fazer churrasco da dignidade humana. Não têm e nunca tiveram pudor. E as exceções só confirmam a regra.

Neste dia, o terceiro da greve nacional dos caminhoneiros, o preço médio da gasolina no Recife subiu de R$ 7,30. Quem precisou abastecer rodou para encontrar um posto com combustível disponível; além do diesel, que entope as bombas sem demanda.

As filas se tornaram quilométricas no correr do dia, e houve unidades que elevaram o preço a R$ 8,99 da gasolina comum. O nome disso é assalto.

Traduzido em regras de consumo, “prática abusiva”, conforme o Código Nacional do Consumidor – Lei 8.078/1990, e suas atualizações.

E o Procon Recife distribuiu autuações,e interditou o posto objeto do vídeo. Mas o estabelecimento não está sozinho. Se procurar direitinho, no entorno também há prática abusiva no mesmo molde.

Diz o Artigo 39 da Lei 8.884, de 11.06.1994, em seus parágrafos I e II:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: 

– condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;

II – recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes;

(…)

É o preço do golpe tungando o seu bolso. Pouco importa se você, como Euzinha, não bateu panela, muito antes pelo contrário, tem um carro que não sai da garagem – aliás está à venda, quem quer comprar?

Paga assim mesmo. Se não tem carro, paga no caos do trânsito, na elevação dos preços dos alimentos. Como já pagou com a degola de direitos, o enterro dos empregos com carteira assinada e o cancelamento da Lei Áurea.

Se a fome já grassa no país, e a renda dos dois quintos mais pobres caiu absurdamente nos últimos dois anos, não há por que chiar com o aumento acumulado de 60% nos preços dos combustíveis, pois não?

Por que este país é movido a derivados fósseis, no substantivo e no abstrato; além de energia elétrica – lembra-se do apagão de FHC, com o mesmo Parente na equipe econômica?, pois é…. Some-se a ganância e a falta de vergonha na cara.

E o desgoverno do mordomo usurpador golpista está lá a serviço de quem o sustenta – o capital da casa-grande. Além do completo de vira-latas, que o faz lamber as botas do vizinho todo-poderoso.

Começa aí o desmantelo das políticas de soberania e de defesa das riquezas do País, acusada pela Associação dos Engenheiros da Petrobras – aqui, a Nota de Apoio da Frente Brasil Popular à Greve dos Caminhoneiros.

Abstenho-me de comentar.

Inclui-se a política nefasta de desmonte da maior empresa nacional, que orienta a prática de aumentos sucessivos e inexplicáveis. E que termina no saque ao bolso do consumidor, pato ou mortadela, coxinha ou Zé e Maria Povinho.

Os comerciantes, empresários no modelo Pindorama, nada mais são do que o espelho em que se mira o desgoverno. No mais, é o cachorro correndo atrás do próprio rabo. E o povo se lascando.

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Paro por aqui porque ainda tenho uma mala para fazer. Viajo na madrugadinha desta quarta, e desde ontem estou meio lerda – muito por conta de exame invasivo a que me submeti. Não estou doente; submeto-me ao lema “melhor prevenir…”

Estarei a postos no horário previsto. Apesar de notícias de que os aeroportos, curiosamente os administrados pela Infraero, estão sem combustíveis; o que inclui o Guararapes/Recife, de onde decolo, e o Congonhas/São Paulo, onde aterrizo.

De qualquer forma, tenho até sexta-feira para chegar ao objetivo que é o 6º Encontro Nacional de Blogueir@s e Ativistas Digitais, na capital paulista.

Além do que, confio na máxima de que praga de urubu gordo não pega em cavalo magro. Inverto o ditado para adequá-lo às circunstâncias.

E saravá!

 

 

 

 

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