por Sulamita Esteliam
Primeiramente, um pensamento de luz para Waldir Pires, uma das pessoas mais encantadoras e um dos políticos mais gentis que tive oportunidade de conhecer, e entrevistar, nos meus tempos de repórter-pauteira de política. Força e conforto para familiares e amigos.
Vai, Waldir, encantar estrelas!
Pires era governador da Bahia, quando aconteceu a entrevista mais impactante, dentre várias coletivas em diferentes ocasiões, ele como ministro da Previdência do governo Sarney, governador, deputado federal… Uma exclusiva, ou quase, concedida a mim, então editora-adjunta de Política do diário mineiro Hoje em Dia, e a Armando Rolemberg, repórter do Correio Braziliense,.
Armandinho, era como o tratávamos, à época presidia a Fenaj – Federação Nacional dos Jornalista. Euzinha estava diretora de Base, por Minas Gerais, e fomos a Salvador para um encontro nacional de jornalistas. Trazer a entrevista com o governador era nossa contrapartida com os respectivos veículos à liberação dos dias de trabalho.. Combinamos de tentar juntos e conseguimos.
O governador nos recebeu no Palácio de Ondina, residência oficial, onde acolheu toda a galera para um lanche. Enquanto os colegas se refestelavam nos quitutes oferecidos, e se encantavam com a simpatia e simplicidade da primeira dama, dona Yolanda, Waldir Pires conversou com a dupla em seu gabinete.
Saímos de lá com o furo: o governador Waldir Pires estava disposto a ir à convenção do seu partido disputar a indicação para candidato à Presidência da República, nas primeiras diretas para o cargo desde o golpe de 1964. Seu adversário seria ninguém menos do que o deputado Ulysses Guimarães, o “senhor Constituinte” e presidente do PMDB e da Câmara dos Deputados.
A entrevista acabou inaugurando uma série, que propus como pauteira, com todos os candidatos a candidato à Presidência da República em 1989. A equipe trabalhou brava e lindamente na meta e a cumpriu. Euzinha, em outra negociação com o HD para atividade sindical, terminaria entrevistando, também, Ulysses Guimarães, em Brasília.
Waldir honrou a promessa anunciada. Disputou, mas perdeu para Ulysses por meros 30 votos, num universo em torno de mil convencionais. A diferença pequena obrigaria a segundo turno, evitado com acordo em que Pires se tornou vice na chapa de Guimarães..
Ao fim e ao cabo, a dupla do PMDB não logrou mais do que 5% dos votos, numa eleição que teve 22 candidatos, e acabou polarizada entre os opostos. Fernando Collor, do nanico PRN, conta a História, venceu Lula do PT no segundo turno, com o auxílio luxuoso da Globo, sempre ela, no episódio da despudorada edição do noticiário relativo ao debate final, em que favoreceu o “caçador de Marajás” das Alagoas.
Depois, deu no que deu.
Note-se que a Globo, anos depois, reconheceu a trapaça e pediu desculpas públicas pelo mau passo. Menos de uma década depois, entretanto, ela que apoiara o golpe civil-militar e os 21 anos de ditadura, armou de novo. Desta vez, para golpear um mandatário legitimamente eleito, no caso a primeira mulher a assumir a Presidência do País, Dilma Vana Rousseff.
Aliás,a presidenta Dilma, a legítima, manifestou no Twitter o pesar pela perda:
Waldir Pires seria convidado por Lula a compor sua equipe logo no primeiro governo, no posto de ministro-Chefe da Controladoria Geral da União. No segundo governo, viria a ser ministro da Defesa. Pires, então, migrara para os quadros do PT, depois de passar uma chuva no PDT e outra no PSDB.
O ex-presidente Lula sempre o teve em alta conta e, mesmo encarcerado, fez questão de divulgar nota exaltando as qualidades do amigo falecido neste 22 de junho, aos 91 anos.
Transcrevo a íntegra:
Nota de condolências pelo falecimento de Waldir Pires
“Waldir Pires foi um dos homens mais dignos que conheci.
Fomos companheiros em muitas campanhas, desde a luta pela democracia, e sempre admirei sua coragem pessoal e política.
Sem jamais perder a serenidade, Waldir enfrentou o arbítrio e as oligarquias, construindo uma trajetória admirável em defesa do Brasil, da democracia e do nosso povo.
Tive o privilégio de contar com ele em muitas campanhas e, no meu governo, como o ministro que implantou um sistema de Transparência Pública que efetivamente ajudou o Brasil a enfrentar os desvios do dinheiro público.
Serei sempre grato pela solidariedade que me prestou nestes tempos de perseguição, sempre presente nas horas mais difíceis.
A trajetória de Waldir Pires é motivo de orgulho para a Bahia e para o Brasil.
Meus sentimentos à família e aos muitos amigos que ele cultivou em 91 anos de vida reta, sempre ao lado das causas mais justas.
Saudades,
Lula.”
******* n
Postagem revista e atualizada às 12:40h do dia 23.06.2018: correção de erros de digitação e inclusão da imagem do Twitter da presidenta Dilma Rousseff sobre Waldir Pires.
Um comentário