por Sulamita Esteliam
Dentre as notícias do dia, há que se celebrar a liberdade de José Dirceu, ex-ministro dos governos Lula, ex-deputado e ex-presidente do PT. Por três votos a dois, a 2ª Turma do STF acatou o recurso de sua defesa, contra o cumprimento antecipado da pena que lhe foi imposta em processo da Lava Jato.
Uma decisão que mantém acesa a chama da resistência, sem que a persistência tenha que ficar roxa de tanto assoprar. É a tal da esperança equilibrista de que nos fala o poeta. O show aqui é luta sem trégua, e tem que continuar.
O mesmo recurso foi tentado duas vezes pela defesa do ex-presidente Lula, mas em mais uma manobra covarde do ministro-relator, Edson Fachin, foi remetido ao plenário. E só´deve ir a julgamento em agosto, depois do recesso. Isso se Carmen Lúcia, a presidente da Corte, pautá-lo.
Na verdade, o recurso de Lula deveria ser julgado pela mesma turma neste 26. Fachin o retirou da pauta, depois que o TRF-4, mais uma vez transmutado em lebre, negou a possibilidade de exame de recurso extrordinário pelo STF. A defesa do ex-presidente recorreu da suspensão de pauta e Fachin, para não decidir, remeteu ao plenário.
A seção desta terça foi a última antes das férias judiciárias. E dentre outras decisões, a segunda turma anulou a busca e apreensão realizada pela Polícia Federal no apartamento da presidenta do PT, senadora Gleisi Hoffmann, há dois anos, e que tinha como alvo o marido dela, ex-ministro Paulo Bernardo. Eventuais provas colhidas são nulas de pleno direito.
O pote da Lava Jato está trincado faz tempo, e agora começa a fazer água.
Nesta terça se completam 80 dias do encarceramento do ex-presidente na Polícia Federal de Curitiba. São 80 dias, também, da Vigília Lula Livre que, na manhã deste dia, voltou a sofrer um ataque indireto, através de ameaça armada ao Acampamento Marisa Letícia, um dos locais de suporte ao movimento de solidariedade a Lula.
Relatos da militância dão conta de que quatro acampados retornavam do “Bom-dia, presidente Lula” no local da Vígilia Lula Livre, a cerca de 1,5 km, quando, na rotatória já próximo ao acampamento, um automóvel gol, cinza, tentou atropelá-los. Um dos militantes reagiu, chutando um dos pneus do carro.
Não contente, o homem que dirigia o veículo seguiu os militantes até o acampamento ameaçando-os de morte. Retornou ao local cerca de 10 minutos depois, estava armado e atirou, segundo testemunhas, para cima.
A placa foi devidamente anotada e o sujeito gravado pelas câmeras de segurança. A PM foi acionada, visitou o local e registrou a denúncia em Boletim de Ocorrência. No primeiro ataque, no final de abril, houve dois feridos, um deles com gravidade.
Em Nota de Repúdio, a coordenação da Vigília Lula Livre denuncia o ocorrido e exige das autoridades a apuração e a responsabilização dos culpados.
Transcrevo:
“Repudiamos o atentado na manhã desta terça-feira (26), com tentativa de atropelamento e relato de tiros, contra os integrantes do acampamento Marisa Letícia, um dos espaços de dormitório dos militantes que estão na defesa do ex-presidenteLula.
Nos solidarizamos e exigimos a apuração por parte das autoridades e responsabilização dos culpados. Lembrando que o atentado a tiros no dia 28 de abril, que feriu gravemente um militante no pescoço, ainda não apresentou qualquer resultado nas investigações!
Frente a isso, é fundamental reforçar a organização dos trabalhadores, coletiva, com unidade entre os que constroem a Vigília, frente aos ataques da extrema-direita, que despreza o povo, negros e negras, trabalhadores e trabalhadoras, todos que lutam pelos direitos humanos.”
A Vigília Lula Livre segue, apesar das ameaças de desocupação, já objeto de matéria neste blogue. Num gesto de boa-vontade, a coordenação retirou, semana passada, duas das quatro barracas que restaram dos primeiros dias da resistência, quando se assinou um acordo de retirada do acampamento para o local onde hoje se mantém o Marisa Letícia
Desta vez, ainda não há acordo formal; o primeiro, afinal foi desrespeitado pela municipalidade, que acionou a Justiça depois de novo ataque à própria Vigília, conforme já relatado aqui.
Busca-se um acordo na Justiça que sacramente a manutenção dos atos de bom-dia, boa-tarde e boa-noite, presidente Lula, que há quase três meses reúne, em esquema de rodízio, apoiadores do Brasil e do mundo.
Nota da Vigília Lula Livre: 80 dias de resistência e luta
1. A Vigília Lula Livre alcança 80 dias de resistência, nesta esquina que virou símbolo nacional de luta pela democracia, de denúncia contra o golpe e contra a prisão política de Lula. E que a luta batizou: Praça Olga Benário.
2. A Vigília é a praça pública, permanente e diária, a tribuna por onde passam lideranças políticas do Brasil e internacionais, onde a luta se mantém viva e recebe caravanas de todo o país, em caráter de formação, de solidariedade militante, de troca de conhecimentos, enviando energia ao ex-presidente e mantendo forte a mensagem dele. Por aqui, já circularam mais de 40 mil pessoas, de diferentes setores da sociedade, contra a prisão seletiva e sem provas materiais.
3. Aproveitamos a simbologia do dia 26 de junho para lembrar que, há um ano, o prefeito de Curitiba Rafael Greca (PMN) aprovava um pacote neoliberal na capital, empregando violência contra servidores e sociedade. A mesma violência que a prefeitura vem solicitando às autoridades contra a Vigília. Não passarão!
4. Nós da Vigília sabemos de nossos limites e potencialidades, de nossas lutas e do caráter de nossas organizações, das brasileiras e brasileiros que nos apoiam. De que o fundamental é dialogar com os trabalhadores sobre a justeza da nossa luta. Nossa organização é coletiva e plural e nosso objetivo é sair daqui apenas com Lula Livre, Lula Inocente, Lula Presidente.
Vigília Lula Livre
Curitiba, 26 de junho de 2018