Resistência, solidariedade e superação fazem o cotidiano da Vigília Lula Livre

Vigília Lula Livre – Fotos: SEsteliam
por Sulamita Esteliam

A Vigília Lula Livre é uma estação solidária em construção e sob ameaça permanente. Agora mesmo, está sob interdição judicial. O prefeito de Curitiba rompeu o acordo que ele próprio assinou e acionou a Justiça. Segunda-feira, 4 é dia D para a ocupação cidadã.

Regina Cruz, presidenta da CUT-PR, de camisa listada e boné

A organização da Vigília Lula Livre, que tem o PT e a CUT Paraná à frente, recorreu da sentença que determina a desocupação, mas não foi atendida.

– Não vamos sair. Terão que nos tirar – desafia Regina Cruz, presidenta da CUT Paraná.

Ela acredita que o ano eleitoral seja freio o bastante para impedir o uso da força policial contra a Vigília, embora autorizada pela sentença que determinou a desocupação. A governadora em exercício é candidata para o posto efetivo, e não estaria disposta a carregar o ônus de jogar a PM sobre civis em resistência pacífica.

A lembrar que, já na noite do 7 de abril, as pessoas que foram apoiar Lula em sua chegada à sede da PF foram recebidas à bala e bombas de gás lacrimogêneo pela própria Polícia Federal, com apoio da PM.

Não se pode esquecer, também, quem elegeu o prefeito Rafael Greca (PMN). Certamente muitos dos seus eleitores estão entre os moradores que se incomodam com a presença da Vigília Lula Livre. Aqueles que fazem questão de demarcar seu espaço ideológico com a bandeira nacional ostentada em suas fachadas.

Salvo raras e honrosas exceções, a convivência entre vigilantes e residentes não tem sido fácil, por óbvio. Alguns chegam às raias do nonsense e não se furtam, inclusive, de extremos do tipo fazer “xixi em garrafas e desovar o conteúdo” na frente das barracas.

De qualquer forma, a Vigília Lula Livre vai manter as atividades, como o”bom-dia, boa-tarde e boa-noite, presidente Lula!”, apoiadas pelas pessoas abrigadas em alojamentos no entorno.

É o exercício do direito à livre manifestação, reconhecida, aliás na decisão do desembargador do Tribunal de Justiça, Fernando Paulino da Silva Wolff Filho.

PS: Atualizo as informações já no Recife, a partir de matéria do Brasil de Fato, que é parte do coletivo de comunicação da Vigília:  o desembargador considera a legitimidade do movimento quando retira a multa contra o PT e a CUT.

Todavia, coloca o uso do espaço para manifestações apenas a cada 15 dias. Os movimentos afirmam que vão manter as atividades diárias.

A vigília desde sempre, é uma manifestação política, que visa fortalecer o ex-presidente Lula, e é o que tem feito cotidianamente e de fato. Além de viabilizar-se como canal para as mensagens de Lula, candidatíssimo e líder das pesquisas, mesmo encarcerado há quase 60 dias.

Tornou-se então, um problema político que precisa ser removido, na visão da direita, aí bem representada pelo prefeito Rafael Greca.

Você pode apoiar a Vigília Lula Livre mesmo à distância. Clique e faça uma doação para ajudar na sustentação das atividades. Passe adiante para seus amigos e contatos.

E há a Casa da Democracia, ocupada por comunicadores dos movimentos sociais e ativistas da mídia livre e independente, e sustentada em financiamento coletivo.

São dezenas de sítios eletrônicos, blogues e que tais em atuação cotidiana e em rede. Até por que é preciso romper a barreira estabelecida pela mídia venal, que teima em desconhecer que há resistência à arbitrariedade da prisão de Lula. O A Tal Mineira está conectado, ainda que à distância.

A Vigília Lula Livre é local de entrega, de doação de tempo, trabalho e amor à causa. É um bunker de resistência e de cidadania. É trincheira e lugar de acolhimento.

Tem gente que está lá há desde o 7 e abril, quando Lula chegou à sede da Polícia Federal como preso político que é. Tem gente que chega para ficar. Tem gente que só vem visitar. Tem gente que vem passar uns dias. Tem gente que vai e volta. E tem gente que vai para nunca mais…

Todos os dias é um vai e vem… E a vida se repete naqueles menos de 100 metros de ocupação, no cruzamento das ruas Guilherme Matter com José Antonio Leprevost, nomeado pela militância de Esquina democrática Olga Benário.

Olga, a amada de Prestes que foi entregue pelo Estado brasileiro a seus algozes. A analogia com o sacrifício de Lula, condenado e preso sem crime e sem provas, para que não possa voltar a presidir o Brasil, explica a escolha.

Aquele pedaço do bairro de classe média Santa Cândida é lugar de emoções, traduzidos em encontros e despedidas. Como naquela canção do Milton Nascimento, em parceria com Fernando Brant – ouça ao final da postagem. Mas são mais, muito mais que dois lados da mesma viagem…

Restam quatro barracas – a de suprimentos e recebimento de doações; a da coordenação, que mantém uma biblioteca, mas também recebe doações de roupas; a da comunicação, onde acontecem as entrevistas com visitantes célebres, e também debates com convidados dos movimentos sociais; e a barraca da saúde.

É assim, desde que, em meados de abril, a Justiça determinou a desmontagem do acampamento – removido para cerca de 1,5 km do local -, outros desmembramentos ocorreram, teoricamente por razões de segurança. Todavia, certamente, há também motivos humanos, para além do político, do tipo que própria razão desconhece.

O Acampamento Marisa Letícia, hoje, se autodefine como “a resistência da resistência”, e está em campanha de financiamento coletivo para se manter. Mas isso é pauta e objeto da próxima postagem.

A Vigília Lula Livre, na prática, unifica todas as vertentes. O apoio a Lula preso político e a luta pela sua libertação são o foco que importa.

Os 100 metros que separam os vigilantes de seu objeto de amor e dedicação, encarcerado numa cela no 4º andar da sede da Polícia Federal em Curitiba, é distância imensa. Para quem não pode cruzar a faixa de isolamento que leva à rua de cima, a Professora Sandália Monzon, onde as instalações da federal ocupam cerca de um quarteirão, o remédio é conformar-se.

É parte do acordo, que está sendo cumprido do lado de cá, mas que foi rompido pelo lado de lá – aqui entendido como a municipalidade, o governo do estado e a Justiça local.

Do lado de cá, há gente dos sete cantos do país. Há pessoas simples, que se dão de corpo e alma. Há pessoas graduadas, que se despem de sua posição privilegiada para somar.

Dona Maria, sabedoria popular a serviço da saúde
Maria Dantas é paulista integra o programa Mais Médicos em Goiás

Gente como dona Maria, a coordenadora da barraca da saúde, de genuína simplicidade, com seus chás de ervas e outras técnicas da “medicina” popular usadas pelo MST. Ela está de volta, depois de ter ido cuidar da própria vida por alguns dias no interior do Paraná.

Gente como a médica, também Maria, que usou a folga do programa Mais Médicos em que atua no interior do Goiás, divisa com Tocantins, para dar plantão na Vigília durante o feriado.

Gente como a massoterapeuta Cícera, também do MST, e outros colegas que oferecem o poder de suas mãos para ajudar a aliviar a tensão de quem ali está, permanente ou eventualmente.

Dores de cabeça e nas costas e pressão alta são as principais queixas. Mas as Marias, a curandeira e a médica, não atribuem tão somente à ansiedade ou tensão pelas ameaças à Vigília. Hábitos alimentares e de postura entram na conta. E há os resfriados e as gripes por conta das intempéries próprias do outono-inverno curitibano, e também da queda de imunidade.

Medicamentos e “equipamentos” de cura são trazidos pela manhã, e recolhidos no início da noite, e levados para o alojamento alugado pelo MST a algumas centenas de metros da Vigília, todos os dias.

Gente como Bia, professora aposentada, que veio de Vitória do Espírito Santo, e reservou parte de suas férias anuais para apoiar a Vigília. Instalou-se num hotel no centro de Curitiba, e já há quatro dias tornara-se ajudante na cozinha instalada na casa de Regiane, moradora a um quarteirão, na rua de baixo, que se diz “convertida ao PT”.

Bia completou 70 anos dia 1º de junho. Escolheu comemorar com a resistência. Com direito a bolo e cantoria, e tudo mais. Ganhou de presente o acolhimento em casa de militante da terra. Prova de que há curitibanos e curitibanos, como de resto é a humanidade em qualquer lugar do planeta – alguns mais do que em outros.

Gente como a assistente social Sara, também habitante de Curitiba, que trouxe roupa de frio para dona Maria e passou a tarde na barraca, ajudando a atender aos pacientes. A intimidade entre elas mostra que há regularidade no apoio.

Gente como a cantora popular e pedagoga Susi Monte Serrat (recebendo massagem na foto acima, da barraca da saúde), que empresta sua voz e talento musical para alegrar as atividades diárias, sempre que possível. Na quinta, cantou no “boa-tarde!” E tocou gaita para acompanhar o “olê, olê, olê, olá, Lu-la , Lu-la!” no “boa-noite!”

Gente como Fábio, que faz segurança da Vigília desde o 8 de abril, “doido pra ir para casa” em São Paulo. Mas “o homem” vale o sacrifício.

É ele quem me dá notícias de Jefferson, o dirigente do Sindicato dos Motoboys de São Paulo que foi atingido por uma bala no pescoço, no ataque a tiros ao Acampamento Marisa Letícia, na madrugada do 28 de abril. Até hoje não esclarecido, diga-se; embora haja farto material com imagens do atentado.

– Ele está bem. Teve a audição um pouco afetada, mas está bem, sim. Vem aqui toda semana – me conta enquanto almoça uma espécie de mexidão de arroz, feijão e farinha, e reclama da falta de tempero.

O colega do lado, também segurança, diz que a comida “só é boa quando é feita pelas cozinheiras do MST”. Não era o caso, no dia.

Na “casa de baixo”, a um quarteirão, o rango sai um pouco mais tarde, e é da melhor qualidade. Palavra de cozinheira, chata. O cardápio da quinta-feira, 31 de maio, foi arroz com açafrão, feijão carioquinha, guizado de frango desfiado, também com açafrão, farofa de ovo e salada verde – mostarda e escarola picadas. Tempero leve, equilibrado.

A fila é imensa e vale repetir. Todos comem e lavam pratos, copos e talheres. Quem pode deixa a contribuição na caixinha.

Caravanas se sucedem: de São Paulo, Minas, Brasília, Rio, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Maranhão…

O movimento é maior nos horários da saudação a Lula: por volta das 9 da manhã, das 14 horas e entre 18 e 19 horas.

– Bom-dia, presidente Lula!

– Boa-tarde, presidente Lula!

– Boa-noite, presidente Lula!

Contei: o coro de militantes, desde há muito puxado por um megafone – porque o som foi quebrado por um policial federal em surto -, repete 12 vezes  – creio que a intenção era chegar a 13 – o cumprimento a cada ciclo do dia.

Todos os dias, tenha ou não visita célebre.

Lula ouve, se reconforta e é grato ao carinho. É o que tem dito a todos que o visitam.

Na sexta-feira, Euzinha já estava de volta a São Paulo. Mas a Agência PT nos diz que o ‘boa-noite, presidente Lula” ecoou com a força de 900 jovens da juventude petista, que fez ali, na Esquina Democrática Olga Benário, a abertura do seu congresso anual.

Na noite da quarta-feira, quando já estava na capital do Paraná, ninguém menos do que Danny Glover, ator estadunidense e embaixador da ONU para os direitos humanos e questões raciais, levou seu apoio, foi recebido com entusiasmo, e puxou a saudação cotidiana.

Na quinta, Glover voltou, após visitar Lula. Depois dele, veio a presidenta Dilma Rousseff, a legítima.  Não participaram, entretanto do “boa-noite”.

Ambos, cada qual a seu tempo, falaram com a militância sobre o estado de ânimo do ex-presidente: indignado com a injustiça, mas firme, forte e determinado a seguir adiante com a candidatura, enquanto espera que reconheçam sua inocência. Agradecido às pessoas que deixaram suas casas e suas vidas para lhe dar força todo esse tempo.

Digo que não há como não se emocionar com a entrega de cada um, indistintamente. Energia e sinergia carregadas de esperança.

Ninguém escapa à força da gravidade. Nem as crianças.

– Aonde você vai, querida? Espere por mim…

– Quero ver a Dilma – responde a pequena à voz aflita.

A menina, de 4 anos, não espera que a avó, de cuja mão se desprendera, se refaça da surpresa. Literalmente escorrega entre o emaranhado de pernas adultas na direção de outra voz, a que soa ao megafone.

Valentina, soube o nome depois, quando lhe perguntei, conseguiu seu intento; me contou com um sorriso desconfiado. Mas a avó, instigada por esta velha escriba, teve que ir buscá-la.

Mesmo constrangida, rompeu o paredão de pessoas que se aglomeravam em semi-círculo para ouvir os recados de Lula; pela boca da presidenta legítima – mulher forte, valente e vigorosa -, que a neta, digna do nome, reverencia.

*******

Euzinha e Sara-Assistente Social
Euzinha e Sara-Assistente Social na barraca da Saúde

A Tal Mineira passou o chapéu para estar no 6º BlogProg, dias 25 e 26 de maio, em São Paulo. Um esforço coletivo para viabilizar a viagem desde o Recife, traslados e estada, que inclui dois dias em Curitiba, aonde esta escriba chegou no início da tarde da última quarta-feira, retornando a Sampa nesta sexta, e daqui para o Recife na segunda à noite.

A estadia foi programada em função das ofertas disponíveis para as passagens aéreas com milhagem e benefícios.

Sou extremamente grata a cada uma e cada um d@s amig@s que até agora contribuíram para esta jornada. A começar pela minha caçula, Bárbara Esteliam, e o pai dela, que me transferiram milhas e/ou benefícios para garantir os votos.

Muito obrigada, Reiko Miúra pela acolhida em São Paulo, desde o primeiro dia. E obrigada à sobrinha Natália Areta e seu marido Rafael Coelho, por me receberem em sua casa a partir deste sábado e até segunda-feira.

Obrigada, também, Juliana Soares, filha do coração, a primeira a batizar a conta. E obrigada amigas, Mereh, Maria de Lourdes Fonseca e Lúcia Helena; e amigos, Ricardo Campos e Marcos Barreto.

Mas digo que continua valendo, pois ainda não atinge a meta baseada na estimativa das despesas com traslados, alimentação e hospedagem, em Curitiba. Quem puder e quiser contribuir, pode usar a seguinte conta para depósito:

Ideias e Letras Comunicação

Esteliam & Estelian Comunicação integrada Ltda (razão social)

cnpj: 13.602.046/0001-22

Caixa Econômica Federal

Agência 0867 Operação 022 Conta 238-6

Seguimos na batalha.

Abração.

Sulamita

 

 

 

 

 

 

5 comentários

  1. Republicou isso em Gustavo Hortae comentado:
    Estamos mesmo é no cu de Zé Esteves
    >
    https://gustavohorta.wordpress.com/2015/12/10/3508/

    … …Daí minha ocupação permanente em reforçar para as mentes não comprometidas com esta laia canalha, a que adoto a denominação de coxinhas GOLPISTAS e hipócritas, que o pecado mora nas casas de todos e, pela primeira vez em minha vida – e tenho 61 anos de idade e muitos de estudos – vejo um governo permitindo ações contra a bandalheira.

    Como tantos outros fico a pensar quantos rabos presos este canalha pode ter para poder se sustentar em um cargo tão importante do país e da república, apesar de todas as denúncias comprovadas? De onde vem tanto poder? De onde vem tanta blindagem, tamanha impunidade, tão cretina sobrevivência? Seriam mesmo as mesmas instituições secretas seculares a atuar mais uma vez em nossa pátria?… …

  2. Pingback: A Tal Mineira

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