
por Sulamita Esteliam
Fizemos o bom combate, mas não deu. Nós que lutamos do lado esquerdo da força, temos a responsabilidade de seguir na oposição.
A vontade do povo é soberana.
A diferença é de cerca de 11 milhões de votos, apuradas 99% das urnas: 55,1% para o o coiso, 44,9% para o professor Fernando Haddad.
Fizemos uma campanha linda, sem baixarias nem mentiras, uma campanha propositiva em cima de um projeto de País melhor e mais generoso para todos.
Mas a maioria não entendeu, e escolheu o inominável – e assim será tratado aqui, até que empossado seja; aí, se ainda existir o A Tal Mineira, o trataremos pelo nome que mereça.
Não respeitaram os 54,5 milhões de votos da presidenta Dilma Roussef, é bom que não se esqueça. Mas nós aceitamos a escolha dos eleitores do você sabe quem, embora dela discordemos profundamente.
Está feito, e continuamos a luta pela Democracia e pelos direitos de cidadania. #SomosResistência.
Aliás, é o que enfatiza Haddad ao agradecer os 45 milhões de votos (com 94,44% das urnas apuradas) que recebeu em menos de dois meses de campanha como candidato oficial.
“Agradeço aos meus antepassados que me ensinaram o valor da coragem e a defender a a justiça a qualquer preço. Todos os demais valores dependem da coragem.”
“Gostaria de agradecer os 45 milhões de eleitores que nos acompanharam. Uma parte expressiva da população que precisa ser respeitada.
“Vamos nos reconectar com as bases para organizar a resistência democrática.”
“Tem muita coisa em jogo no Brasil. Daqui a quatro anos tem uma nova eleição.”
“Não tenham medo. Nós estaremos aqui. “
“Verás que um professor não foge à luta.”
Eis, mais abaixo, o vídeo com o pronunciamento emocionado, mas firme e sempre tranquilo, do candidato, professor Fernando Haddad.
Veja que ele se coloca, indubitavelmente, como líder da oposição e da resistência democrática.
Não, não ligou para cumprimentar o coiso pela vitória, como é praxe. Em entrevista, após o pronunciamento disse o porquê:
“Ele me chamou de canalha, e disse que mandaria me prender.”
Como se vê, Haddad é cordial, mas não é cordeiro. Dignidade e altivez revelam a fibra do caráter.
Ao vídeo, pois. Ao seu lado, a vice Manuela Dávila, com a filha no colo e o marido presente; do outro lado, mulher, Ana Estela, a filha, o filho, a mãe, familiares, a presidenta Dilma e outros companheiros de luta.
Estou triste, muito triste, não posso negar. Acreditei na virada, como creio no ser humano como criatura divina, malgrado os gênios contrários. É o caso.
Eles venceram. Mas, como disse o professor Haddad, o sinal não está fechado para nós. Mesmo os que, como Euzinha, não são mais tão jovens assim…
#SomosResistência, repito.
Falo, sim, como militante e cidadã que sou, e que sempre fui.
A jornalista é parte desse etos que me constrói.
Assim como dele fazem parte a mulher, a mãe, a avó, a escritora, a poeteira, a artesã eventual, a dona Maria de todo dia, a feminista inorgânica, mas em tempo integral, a fêmea que ainda não morreu, a sertaneja de raiz, a bruxa que muitas vezes confunde as luzes com desejo, necessidade e vontade …
Todas as mulheres cabem em mim. Menos as que eu não pude parir.
A minha geração, assim como esta velha escriba, está acostumada a juntar os cacos, sacudir a juba, erguer a cabeça e seguir adiante.
É o que digo às pessoas que me ligam e me enviam mensagens de solidariedade e, pasmem, de agradecimento pelo meu exemplo de luta.
Apenas fiz a minha parte. Mas, obrigada por achar que eu sou parte desse todo sem medo da lutar para ser feliz, coletivamente.
Recebo como afeto que acalma meu peito flamejante e em chagas.
Obrigada, Haddad, Manu e Estela, pelo exemplo de serenidade e bravura com que vocês se colocaram nesta campanha; e mais ainda com que assimilam a derrota. Orgulho de vocês.
Obrigada Nordeste, que mostra, mais uma vez que não falha na luta pelo bem da maioria, que, ao contrário do que se apregoa, carrega este País no lombo.
Aqui, em Pernambuco a votação foi 66,5% a 33,5% em favor de Haddad. Em boa parte dos Estados passou de 70%. Não é à toa que fiz daqui minha Macondo. A região está a anos luz do sul-sudeste maravilha, em termos de compreensão da política como instrumento de inclusão.
Seguimos juntos. Não nos afastemos. Vamos de mãos dadas, como no poema de Drummond.
Amanhã é outro dia.
Fico por aqui.
Deixo o vídeo com O Samba Utopia, com que a querida Vera Vieira, feminista e ativista das boas causas, me brindou no início da noite.
Um afago, absolutamente premonitório.
Jonathan Silva é o autor e o vocal, que traz ainda a voz cristalina de Ceumar Coelho. A letra e a ficha técnica completa estão lá no Youtube.
A música, Vera me completa a informação na manhā seguinte, é abertura da peça Ledores do Breu, apresentada pela Cia do Tijolo, em São Paulo. O texto se inspira em Paulo Freire, educador pernambucano, autor da essencial Pedagogia do Oprimido.
“A peça fala das relações do homem sem leitura e sem escrita com o mundo ao seu redor.”
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