por Sulamita Esteliam
É…
“A vida é dura, vestida de chita ou de seda.
É expiação. Útero só para tanto acontecimento. Dura vida! Às vezes, demora anos drenando
fraqueza só para ver se a alma vinga,”
Poema Para quem Vive, página 107 do livro Mulheres Q’Rezam, da mineira Ana Cruz, de Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata.
Os versos abrem o Epílogo do meu livro Em Nome da Filha, Viseu, 2018, a ser lançado dia 23 de março, no Recife e dia 12 de abril, em Belo Horizonte. Detalhes depois da folia. Mas quem não conseguir esperar, e não fizer questão de autógrafo, pode adquirir através da Viseu, onde se encontra disponível também no formato ebook. Pode clicar também na imagem do livro na lateral da página inicial deste blogue, que você chega lá,
É Carnaval, mas não dá para esquecer o genocídio e crime ambiental da Vale em Brumadinho. O A Tal Mineira atualiza as informações mais abaixo. Tem notícia ruim, menos ruim e positiva. Antes, porém, convido você a assistir ao vídeo:
O documentário foi produzido pelo MAB – Movimento dos Atingidos por Barragem para o aniversário de um mês do rompimento da Barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho, crime de responsabilidade da Vale, que causou um verdadeiro genocídio, além dos prejuízos ambientais, materiais e emocionais incalculáveis.
Na mesma data, o MAB também lançou o dossiê O Lucro Não Vale a Vida, denúncia do crime da Vale sob o olhar dos trabalhadores.
Nós, atingidos por barragens, que sofremos na pele a recorrente violação de direitos, também denunciamos a destruição e a apropriação de bens naturais, a exploração dos trabalhadores e o desrespeito às comunidades por parte das grandes empresas para a geração de lucros extraordinários. O MAB continuará denunciando esses crimes e lutando pelo direito dos atingidos por barragens em todo o Brasil.
Água e Energia com soberania, distribuição da riqueza e controle popular
!
Outros celebrações-protestos aconteceram no município e Brasil afora.
Às 12:48 horas do dia 25 de fevereiro, momento em que a barragem se rompeu um mês antes, um helicóptero do Corpo de Bombeiros fez chover pétalas de flores sobre as pessoas presentes nos atos em Córrego do Feijão e no Parque das Cachoeiras.
Naquela manhã, centenas de balões brancos preencheram os céus da comunidade do Córrego do Feijão, que perdeu 17 pessoas para a lama tóxica da Vale. Uma procissão na sede do município, à tarde homenageou os mortos no desastre que se revelou trágico.
Em Belo Horizonte, algumas centenas de pessoas vestiram luto e lembraram o genocídio e crime ambiental da Vale em frente ao memorial da empresa na Praça da Liberdade. Houve também culto ecumênico na Praça Sete, centro da capital.
Estamos a 33 dias do desastre que ceifou a vida de ao menos três dezenas de pessoas, dentre empregados diretos da Vale, terceirizados e moradores das localidades junto à barragem que se rompeu. Os números oficiais no aniversário do crime contavam 179 vítimas fatais, todas identificadas, mais 131 “desaparecidos”.
O Rio Paraopeba, que abastece cerca de 2,3 milhões de pessoas no percurso de pouco mais de 300 km até a represa de Três Marias, no centro de Minas, é um rio morto. A água tornou-se imprópria para o consumo devido a alta incidência de metal pesado. A contaminação já atinge o Rio São Francisco, onde se situa a represa.
Está no relatório da Fundação SOS Mata Atlântica, a partir da análise da água em 21 município, desde o Córrego do Feijão, em Brumadinho, até a Usina de Retiro Baixo, em Felixlândia, já nos domínios de Três Marias, Dentre os pontos analisados, em 10 a qualidade da água vai de “ruim a péssima”.
No Córrego do Feijão, entretanto, a dor que não passa cedeu espaço à gratidão, e os atingidos do Córrego do Feijão entregaram à corporação do Corpo de Bombeiros medalhas de “honra ao mérito” e toalhas de banho “em agradecimento pelo esforço e amor dedicados à nossa comunidade”, nas palavras da moradora Sara de Souza, tornada porta-voz.
Como escreve Adélia Prado, outra poeta mineira – esta de Divinópolis, na Região Oeste do Estado – “o ser humano é um adjetivo de Deus”, às vezes…
Nem tudo é está perdido, entretanto. A mobilização dos atingidos pela barragem rompida em Brumadinho e outras sob responsabilidade da Vale e que tais conseguiu sensibilizar os podres Legislativo e Executivo de Minas e do Brasil, a saber:
. A Assembleia Legislativa de Minas Gerais aprovou, e o governador Zema sancionou Lei de Segurança de Barragens que endurece as regras para a construção e manejo de barragem de rejeitos.
. Os atingidos de Brumadinho conquistaram o TAP – Termo de Ajuste Preliminar, junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Dentre outras coisas, afasta a Vale do procedimento de cadastro da população atingida, e amplia o conceito de atingidos para todos os moradores da cidade e da região atingida próxima ao leito do Rio Paraopeba,
. Significa que todos têm o direito ao auxílio emergencial a ser pago pela mineradora, estabelecido pelo TAP pelo período de um ano. Uma assessoria independente vai cadastrar a população.
. Sim, o governo federal, através do Agência Nacional de Mineração, soltou resolução que visa proibir nacionalmente o uso de barragens a montante, no estilo da que a Vale deixou romper em Brumadinho. A ideia é que o modelo seja extinto do Brasil até 2021.
Claro o rompimento da Barragem do Fundão, que destruiu Bento Rodrigues e matou 19 pessoas em Mariana, não foi suficiente para gerar providências fundamentais, que cabiam às autoridades exigir da empresa.
Foi preciso um genocídio do tamanho da negligência e da imprudência da Vale em Brumadinho. Sócia da Samarco e da BHP em Mariana, a mineradora é reincidente e tem que pagar não apenas materialmente. Em qualquer país civilizado do mundo, sua direção estaria presa preventivamente, para não destruir provas nem influenciar testemunhas.
É para isso, resguardar provas e contextos, não para perseguir, intimidar, manipular a opinião pública, que serve a prisão preventiva.
Basta de impunidade!
*com informações do MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens.