por Sulamita Esteliam
Primeiro a obrigação, me ensinou dona Dirce, minha querida e saudosa mãe. Neste rito, nos reunimos ao pé da Serra do Curral neste domingo para clamar pela liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva.
Convocadas pelo Coletivo Alvorada, as pessoas, como de hábito, juntaram suas vozes, sua energia e seus corpos para gritar por @LulaLivre. Desta vez, com a presença estimulante do trompetista braziliense, Fabiano Leitão.
A praça é a mesma onde, há 39 anos, o papa tido como pop, João Paulo II, exclamou extasiado: “Ma que belo horizonte!”. Praça cercada por residências da elite belo-horizontina. Horizonte diverso, que esconde em seus morros o Zé e a Maria Povinho.
Euzinha estava lá, neste domingo de ativismo, e também quatro décadas passadas, junto com dezenas de colegas do Brasil inteiro para cobrir a missa campal repercutida mundialmente.
Poucas vezes voltei à praça desde então, mesmo enquanto morava por aqui,. E isso foi até o começo dos anos 90 do século passado .
É um espaço realmente impressionante. em tamanho e beleza Um oásis retumbante da desigualdade social avassaladora neste país. Todavia, lugar apropriado ao lazer contemplativo, mas não só.
Neste domingo, com a Tenda da Democracia armada, havia espaço de sobra para a numerosa militância vermelha, alguns piqueniques familiáres e, até, celebrações de aniversários. Um hábito entre os mineiros das Alterosas.
Conviv:ência civilizada, felizmente. Mas que me faz lembrar os versos da canção de Marcelo Yuka sucesso da banda O Rappa:
“Às vezes eu falo pra vida/às vezes é ela quem diz/qual a paz que eu não quero conservar/pra tentar ser feliz.”
A capital que votou maciçamente pelo inominável, pela velha e corrosiva política travestida de “nova” e “proba”, segue linda e sobranceira,
É como se não tivesse nada a ver com o descalabro que nos devasta a todos neste Brasil, ao que parece, esquecido pelo Criador – os prós e os contras..
Engalada de vermelho, botons e lenços #LulaLivre, subi a serra por cerca de dois quilômetros e meio, desde onde me hospedo, sem ouvir um nada a propósito; não sem certo alívio, devo confessar.
O mesmo se deu na descida ou mesmo no restaurante ainda em reduto classe média bem-fornida, no Mercado Distrital do Cruzeiro, onde almocei com amigxs.
Minto: dois dentre os garçons que nos serviram, para nossa surpresa, se manifestaram em meio às lides:
– A gente quer tirar foto com vocês, depois … – disse um.
– Nós somos de São Bernardo, no ABC, a terra do homem ;;; – completou o outro, sorriso aberto.
Nos entreolhamos, e respondemos que estávamos às ordens. Mas eles não voltaram a tocar no assunto durante a hora e meia em que permanecemos no local.
Teriam, talvez, zoado da nossa cara? Ou será que nossos pensamentos teriam chegado até suas mentes: melhor não correr risco de ser marcado pela clientela, ou cobrado o preço do emprego pelo patrão.
Quanto a nós, que integramos o espectro político de esquerda, nos fortalecemos nessas tertúlias. É sempre bom ver nossxs companheirxs de tez grisalha ou já cobertos com a neve do tempo, unidos no mesma causa e propósito.
É revigorante comprovar que parte da juventude não se furta a segurar a bandeira e seguir adiante na trilha do bom combate.
Resistência e resiliência. Funcionam como elixir da vida.
O desafio, e isso ouvi de vários de diferentes bocas ao longo da manhã, e fazer nosso grito romper a barreira da Serra do Curral.
Chegar ao outro lado do morro ou ao morro, ou nas comunidades escondidas pelas torres de concreto.
Chegar aonde o povo está, sofre, e peleja, e segue em frente apesar de… e sem olhar para o lado.
Aqui, em Beagá, no Recife, nos sete cantos deste País.
Em São Paulo, também houve manifestação silenciosa, visual: um bandeirão com a imagem de Lula quando presidente foi hasteado em pleno Viaduto Santa Ifigênia, no centro da capital paulista.
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Postagem revista e atualizada dia 30.04.2019, às 17: 53h: correção de erros de digitação e de pontuação em vários pontos do texto, pelo qual peço desculpas. na segunda, postei sem óculos, que deixei na casa de uma amiga do outro lado da cidade. Não que me exima de erros, mesmo com o par de lentes que clareiam o meu mundo de perto, mas sem eles a coisa fica bem mais capenga…