
por Sulamita Esteliam
A semana recomeça com resistência estudantil às ações desastrosas do capitão-fake-delirante, o demolidor do Brasil, presente na celebração dos 130 anos do Colégio Pedro II. Estudantes, acompanhados de pais, mães e professores protestaram contra os cortes nas verbas de educação, que inviabilizam a entidade tradicional no ensino carioca.
“Hoje a aula foi pública!”
Tomara seja indício de que o Rio de Janeiro se ressuscita, ainda que tardiamente. Algum alento a gente há de ter.
Tomara sirva como estopim da reação que precisa vir nos sete cantos deste país.
Antes que o garrote financeiro imposto às universidades, aos institutos federais e também ao ensino fundamental, desmonte de vez o que apenas se iniciou, e que nos custou tanto para construir.
Vem aí a greve nacional da Educação, marcada para 15 de maio. Os petroleiros garantem que estão na briga, mas é preciso mais. O caldeirão precisa ferver e precisa entornar.
De qualquer forma, é bom não esquecer como tudo começou no processo que levou à queda de Fernando Collor de Mello: os chamados caras-pintadas nas ruas, protagonistas do movimento que depôs o então presidente do Brasil, que havia sido eleito como “caçador de marajás”.
Para o bem ou para o mal, estudantes sempre estiveram à frente das manifestações que mudaram o rumo da história do país. Devo concordar com o amigo jornalista mineiro, Marcelo Procópio, em reposta a um tuíte desta velha escriba.
Parar o capitão-fake-delirante significa impedi-lo pelas vias legais. Tipo “ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”, na frase profética do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que viveu por aqui a pretexto de estudar plantas.
Todavia, não devemos esquecer de quem e de onde vem o vice da aberração que habita o poder no momento atual. Não foi o caso em 92. O vice era o Itamar Franco, ex-senador por Minas Gerais, estado que posteriormente governou.
Ele podia até ter fama de mercurial, mas era um político sensato, nacionalista, cioso de suas responsabilidades para com o país; e que não enriqueceu fazendo política. Aliás, vivia confortável, sim, e modestamente.
Quem acompanha o noticiário nacional, e conserva algum nível de sanidade, está chocado ante tanto desmantelo.
Leio no Jornal GGN que a polícia do governador do Rio, Wilson José Witzel,para variar, atirou sobre moradores do Complexo da Maré nesta segunda, justo na hora em que as crianças deixavam a escola.
No sábado, 4 o próprio governador brincou de soldado em helicóptero do qual snipers-atiradores de elite disparam contra a população pobre em Angra. Depois se hospedou com a família num hotel de luxo. Quem paga as diárias?
Ainda nesta segunda, no mesmo cenário, a cidade Maravilhosa, moradores da Rocinha foram dispersados, à base de spray de pimenta, gás lacrimogênio e balas letais. Deu-se enquanto protestavam contra o assassinato de um morador de 27 anos, negro, pai de família.
As denúncias são de que a polícia atirou a esmo sobre os moradores. Deixou feridos dois e o mototaxista Josileno Soares da Silva foi abatido. Hoje, na Maré, foram oito homicídios.
Está na Revista Fórum: o último balanço divulgado dá conta de que a Polícia Militar do Rio de Janeiro matou 434 pessoas só nos três primeiros meses deste ano. A média é de sete abates por dia.
Nas Minas nem tão gerais, semana passada, o governador Romeu Zema, o probo, disse a jornalistas que autoriza violência para desocupar propriedades privadas. Enquanto isso, em Juiz de Fora, a PM mineira segue o exemplo fluminense: atira 18 vezes em carro de cidadão, a pretexto de combater bandidos.
Essa é a paz que eu não quero ter para tentar ser feliz. O nome disso é genocídio.
Luiz Nassif acerta quando diz que é preciso parar Witzel, assim como é preciso dar um basta nos delírios do capitão-fake-delirante que desgoverna o Brasil. Transcrevo um trecho:
O país ainda não se refez do trauma do impeachment de Dilma. O desmonte institucional, induzido por Aécio Neves e convalidado pelo Supremo Tribunal Federal, produziu um caos geral. Assim, há sempre o prurido de reincidir e banalizar o impeachment como saída para as crises institucionais.
Mas o caso Bolsonaro é diferente de tudo o que se viu no país antes e depois da democratização. O país está entregue a um celerado, com ligações diretas com as milícias do Rio de Janeiro, comandando um bando de alucinados que assumiram posição de destaque no Ministério e que tem como único objetivo a destruição de todo sistema formal construído ao longo da história.
O que está ocorrendo não são apenas erros de políticas públicas que poderão ser consertados a partir das próximas eleições: estão promovendo desmontes irreversíveis, que se refletirão sobre o presente e sobre as futuras gerações.