
por Sulamita Esteliam
O Brasil é um dos 10 piores países do mundo para os trabalhadores, dentro 145 estados nacionais. É a primeira vez que o país aparece nesta na lista da OIT – Organização Mundial do Trabalho, que passou a monitorá-lo desde o desmonte dos direitos trabalhista pela Lei 1.467 de 2017, desgoverno do mordomo usurpador golpista, nominado Temer, o vampiro.
A divulgação foi feita durante a 108ª Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, pela CSI – Confederação Sindical Internacional. A escala parte da análise de 97 indicadores, entre eles o assassinato de sindicalistas, informa a Rede Brasil Atual.
Se a coisa já não era fácil antes, com a burla da CLT, só tende a piorar nesta indigestão que chamo de desgoverno – eleito, mas desgoverno.
O presidente da CUT, Vagner Freitas, presente na Conferência está certo dessa perspectiva adversa, e se manifesta na reportagem:
“No Brasil, além de não haver mais legislação trabalhista, não há democracia. Há perseguição às liberdades individuais e ao direito coletivo. E, acima de tudo, há o desrespeito muito grande aos tratados e convenções internacionais, não apenas no que diz respeito aos direitos trabalhistas, mas também aos direitos humanos.”
“A única saída que o governo brasileiro propõe é mais violência. O governo propõe armar a população e ignora que o Brasil está entre os dez países onde foram constatados ass da assinatos de sindicalistas, como aponta o relatório da CSI.”
A economia brasileira está de pau a pique, com sucessivas revisões do PIB para baixo, desinvestimento, desemprego, fome e violência crescentes.
Em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, a economista Laura Carvalho traduz o que definie como “Caixa-preta” da crise econômica, que tem seu epicentro no desmonte de um setor primordial para o emprego massivo de mão de obra, a construção civil.
Mais uma na conta da Lava Jato, a operação que, cada dia fica mais claro, não tinha o combate à corrupção como objetivo expresso.
O A Tal Mineira transcreve o texto, a partir do Conversa Afiada:
Caixa-Preta
por Laura Carvalho – na Folha, via Conversa Afiada
Seja pela sua profundidade, seja por sua longa duração, a crise econômica brasileira atual é bastante atípica. Tal como na queda de um avião, é preciso uma confluência de fatores para explicá-la.
A caixa-preta, que nos desastres ajudam a revelar alguns deles, pode ser encontrada, no caso de nossa recessão, em um setor-chave da economia: a construção civil.
Se considerarmos que a recessão começou no segundo trimestre de 2014, tal qual identificado pelo Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos), o PIB brasileiro ainda está 5,3% abaixo de seu valor pré-crise, tornando esta a mais lenta recuperação da história.
Ainda assim, nada comparado ao que se passa no setor de construção, que ainda sofre com um produto 31,8% menor do que no pico.
Mas não é apenas pela forte queda no produto e pela lentidão na recuperação que o setor de construção civil é tão crucial para explicar nossa crise. Por ser muito intensivo em mão de obra, a perda de empregos no setor é, sozinha, responsável por mais de 20% do aumento no número de desempregados no país.
Além disso, por empregar majoritariamente trabalhadores menos escolarizados, de salários mais baixos, o momento vivido pela construção civil também explica boa parte do aumento nas desigualdades de renda desde o início da crise. O rendimento médio recebido em todos os trabalhos já era, no primeiro trimestre de 2014, 17% maior do que os rendimentos na construção.
Mas essa disparidade subiu para 33%, de acordo com os dados da Pnad Contínua do primeiro trimestre deste ano.
Ou seja, ao contribuir fortemente para o aumento do desemprego e da desigualdade, a crise na construção tem impacto nos outros setores da economia, na medida em que prejudica a recuperação do consumo das famílias. Mas ainda resta a pergunta: por que o setor de construção tem sido o mais afetado desde 2014?
É aí que entra em cena a confluência de fatores. Primeiro, na semana em que foi protocolado o maior pedido de recuperação judicial da história brasileira, pela Odebrecht S.A., não é possível ignorar os impactos econômicos de curto prazo da Operação Lava Jato.
Como apontou o economista Bráulio Borges, da LCA Consultoria e do Ibre/FGV, a lentidão e a incerteza envolvendo a aprovação dos acordos de leniência com as grandes empreiteiras envolvidas têm também efeitos sistêmicos, na medida em que seus credores respondem aos riscos de inadimplência dessas empresas, contraindo o crédito.
A segunda explicação não é menos importante: o setor é o mais punido pela queda brutal nos investimentos públicos em obras de infraestrutura e construção de escolas, hospitais e moradia desde o início do ajuste fiscal, em 2015.
Segundo dados da IFI (Instituição Fiscal Independente), os investimentos do governo central caíram pela metade, em termos reais, entre 2014 e 2017. Nas empresas públicas federais e nos governos estaduais e municipais, a queda foi ainda maior: de 58%, 58% e 56%, respectivamente.
“O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que descontruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer”, declarou o presidente Jair Bolsonaro em um evento em março nos Estados Unidos.
Acho que agora eu entendi: a ideia é continuar procurando a tal caixa-preta no BNDES enquanto destruímos completamente a capacidade de investimento e de financiamento do Estado brasileiro —nossos possíveis motores de retomada.