por Sulamita Esteliam
Recebi a notícia da morte de Paulo Henrique Amorim logo cedo, quando acordei e, como de hábito, sentei na cama para chegar as mensagens no celular. Chegou pelo zap-zap, em dois grupos de colegas de profissão e ativistas políticos digitais. Todos chocados.
Costumo dizer que ninguém vai de véspera. Não parecia, mas PHA tinha 76 anos, completados no último fevereiro. Era dono, porém, de uma energia que parecia inesgotável e uma disposição de fazer inveja a muita gente moça. Não jogava a toalha nem se deixava convencer facilmente, testemunham os amigos, como Luis Nassif, do GGN.
Levei um tempo para deglutir a informação.
A cabeça girou pelas ocasiões em que pude desfrutar ao vivo de seu humor audaz, da prosa fácil em palavras corrosivas e certeiras, do faro para desnudar o que está por trás da notícia. Talentos que incomodam muita gente grande – e pequena de espírito.
Comentei nos grupos na rede: mataram ele; não conseguiu deglutir o afastamento da Record, depois de tantos anos de combate à hegemonia global. Canalhas!
E é bem isso. Comentários de diferentes pessoas nas redes sociais, amigos chegados, colegas de profissão ou simplesmente admiradores, vão nesta direção.
PHA, soube somente hoje, tinha problemas cardíacos, sim, desde o tempo em que era correspondente estrangeiro da Globo em Nova Iorque. E não era homem de deixar-se abater, de cultivar bode.
Mas, a sacanagem – não há palavra melhor para definir o que fizeram com ele – da imposição política sobre anos de dedicação e profissionalismo explodiram seu coração.
Não tinha intimidade com ele. Conheci-o no primeiro encontro de blogueiros progressistas, em São Paulo, organizado pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, idealizado por ele e um grupo de jornalistas baseados em São Paulo; era seu presidente de honra.
Altamiro Borges, que preside o Barão, faz homenagem emocionada ao amigo e parceiro de lutas:
Em duas ou três ocasiões, troquei algumas palavras com sua mulher, Georgia Pinheiro, muito gentil. Ela também jornalista e fotógrafa das boas – certamente a última foto de PHA, no Maracanã, é dela – e é a responsável comercial pelo Conversa Afiada.
Paulo Henrique foi um combatente, que muitas vezes passava por arrogante. Cometia equívocos, como todo mundo, mas é o tipo do sujeito cuja ausência abre um tremendo buraco na existência de muita gente.
Mino Carta, da Carta Capital, o amou como a um irmão.
O Conversa Afiada, seu bunker de trabalho, criatividade e ativismo, noticiou assim a passagem de PHA para o outro plano:
PHA, jornalista e tricolor (1943-2019)

O jornalista (e torcedor tricolor) Paulo Henrique Amorim faleceu na noite desta terça-feira, 9/VII, aos 76 anos de idade.
Os familiares, amigos e a equipe do Conversa Afiada agradecem as mensagens de apoio e carinho dos amigos navegantes.
Atualização, 15:32: o velório irá acontecer amanhã (11/VII), das 10:00 às 15:00, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI): Rua Araújo Porto Alegre, 71, no Centro do Rio de Janeiro.
Seguem-se a reprodução de carta de Lula ao “ansioso blogueiro”, manifestação de pesar da ex-presidenta Dilma, Fernando Haddad e de outros políticos, amigos e colegas jornalistas/blogueiros, celebridades e que tais.
Importante dizer que Paulo Henrique Anorim ajudou a popularizar o termo “PIG”, ou “Partido da Imprensa Golpista”. O termo foi criado pelo ex-deputado pernambucano, Fernando Ferro (PT), em discurso na Câmara Federal durante os embates do chamado “mensalão”, em 2005, que, como diz o Mino Carta, “não restou provado”.
Deve estar se divertindo com a comoção que seu encantamento causou. Mas certo é que cria um rombo na luta por um país com liberdade e direitos, a começar pelo direito à uma comunicação mais democrática e um jornalismo decente, corajoso e humano.
O que nós, que navegamos na mesma frota podemos fazer, é não deixar fazer água nos barcos sob a tormenta.
Não conheço sua filha, mas certamente Georgia sabe bem como seguir sem recolher as velas.
Rip, Paulo Henrique Amorim. Muita luz para você.
A exemplo do Miro, também tomei uma em sua homenagem.