por Sulamita Esteliam
Todas as vezes que leio algo sobre a ação, postura e o comportamento dos procuradores da Lava Jato, sobretudo em relação a tudo que diz respeito ao ex-presidente Lula, a indignação fustiga meu estômago e tenho ânsia de vômitos.
Mas não só. Vem um travo de fel na garganta e a sensação de que sou capaz de explodir. O nome disso é ira, e não faz bem a ninguém. Quando atinjo esse estado, debreio; fujo do computador para não escrever com o fígado.
Sempre que penso nas ações lesivas ao Estado de Direito, e portanto à cidadania, do Ministério Público, lembro-me do jurista Sepúlveda Pertence, mineiro de Sabará.
Ele foi um dos relatores na Comissão Provisória de Estudos Constitucionais, no capítulo do sistema jurídico, que inclui o Ministério Público. Também integrou a Comissão de Sistematização da Constituição de 1988.
Teve papel ativo, portanto, na formatação do órgão nas bases que sustentam o poder de fogo do MPF: o poder de fiscalizar a ação policial e garantir a cidadania.
É o que trouxe o MPF para onde está: um dragão de sete cabeças, que investiga, produz provas, acusa, participa do sistema de Justiça, produz ações de marketing, faz campanhas e age politicamente. Tudo a um só tempo.
Sepúlveda Pertence é advogado de gente graúda, e chegou a integrar a defesa de Lula, retirando-se, segundo consta, por divergir das estratégias de atuação.
Foi também procurador-geral da República, no governo Sarney, e é bem possível que tenha pesadelos ao ver confirmada sua premonição ao deixar a PGR: “Criei um monstro” !
Sim, caro Sepúlveda, o senhor criou um monstro. Obrigada, Aroeira. E a sociedade tem que se encarregar de decepar-lhes a cabeça. Ou ele nos engolirá a todos.
A Suprema Corte, que já foi presidida por ele, parece ter acordado. Se foi parte do golpe que nos mergulha, com tudo, no pântano, pode muito bem puxar o guincho do resgate.
As últimas revelações da #VazaJato, do The Intercept, publicadas pela UOL, na terça, 17, escancaram o nível a que pode descer o ser humano quando se acha senhor de plenos poderes.
A zombaria com a dor do outro, como a dor de Lula pela perda de seus entes queridos – Marisa Letícia, o irmão Vavá e o neto Arthur, é de uma crueldade, de uma baixeza e vilania, que é impossível não desejar que eles provem do próprio veneno.
Que Deus me perdõe.
Do cárcere onde está encerrado na Polícia Federal de Curitiba, o ex-presidente Lula, ainda consegue ser magnânimo diante da injúria que lhe aviva a chaga das múltiplas perdas, e claro da rejeição potencializada pela injustiça.
“Peço a Deus que ilumine essa gente, que poupe suas almas de tanto ódio, rancor e soberba. Quanto aos crimes que cometeram contra minha família e contra o povo brasileiro, tenho fé que, deles, um dia a Justiça cuidará. “
A nota divulgada na terça, 27, é carregada de tristeza e de melancólica estupefação. Lula diz que que sabia do ódio, mas não imaginava que chegasse “a esse ponto: de tratar seres humanos com tanto desprezo, como se não tivessem direito, no mínimo, ao respeito na hora da morte.”
Pobre Lula! Recusa-se a entender que a conciliação de classes é algo tão possível quanto o pote de ouro na ponta do arco-íris.
No Twitter, o sociólogo Jessé de Souza vai ao ponto quando avalia o horror e a lógica da desfaçatez. Compartilhei nas minhas redes sociais e o faço também aqui, transcrevendo, pois meu portátil está cheio de gracinhas.
Escreve Jessé, logo às sete da manhã desta quarta, 28:
“O ódio dos Tessler, Moro, Cheker, Dallagnol e Hardt a Lula não tem nada de pessoal. É o ódio de uma classe média branca, brega e racista, que se acredita europeia sem compartilhar nenhum valor europeu, ao povo que humilha todos os dias. Esta é a verdadeira canalhice brasileira! “
No final do dia, às 18:03, o sociólogo lembra, também no Twitter:
“Nunca nos esqueçamos que Moro e Deltan são só Marionetes. Quem controla? A “elite do atraso” e sua boca que é a imprensa. Montou-se uma mentira que reduziu os brasileiros a um povo inferior, supostamente corrupto, para melhor ser controlado. Dessas idéias saem os Moros e Deltans. “
Jessé é autor, dentre outros, do livro “A Elite do Atraso: da escravidão a Bolsonaro”.