por Sulamita Esteliam
O Brasil vive uma epidemia, triste, trágica e repugnante, inaceitável, de violência sexual contra menores. Não está sozinho. Infelizmente; o fenômeno é mundial.
Significa que o problema está na humanidade, e é ela que tem que gestar a solução.
Um tipo de prática comum desde os primórdios, mas que antes se encerrava nas quatro paredes do lar sacrossanto. Tabu se quebra na prática, com informação, educação e coragem de agir.
Hoje, além do amparo da lei, os canais de denúncia abrem a possibilidade de investigação e estimulam a quebra do silêncio.
Normalmente as meninas são as principais vítimas, muitas vezes do pai, padrasto, tio, irmão, padrinho, amigo de confiança da família.
Em boa parte das vezes, a mãe, a avó, a tia sabem do que acontece, mas escondem. Ou o que é pior, não dá crédito ao relato da criança, ou até culpa a menina ou jovem pelo ocorrido.
A negação da realidade perpetua o abuso.
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019, uma menina de até 13 anos é estuprada a cada 15 minutos.
O Instituto Sou da Paz está finalizando estudo inédito a respeito, que divulga em breve. Revela o crescimento de 1% no registro de casos de abuso contra menos de 14 anos; isso no primeiro semestre deste ano comparado a igual período de 2018. No geral, todavia, os estupros caíram 2,5%.
Falei sobre abuso infantil na Prosa com o Autor de que participei no 5º FHist – Festival de Histórias Não Contadas, em Diamantina, na quinta-feira, 3. A conversa se deu a propósito do meu último livro Em Nome da Filha, editado pela Viseu, Maringá-PR, que fala de relacionamento abusivo, feminicídio e luta por justiça.
Introduzi o assunto no debate sobre o imperativo de se meter a colher para salvar vidas. Sobre a necessidade absoluta de se quebrar os silêncios de homens e mulheres. Sobre como é fundamental se educar meninos e meninas para a relação parceira, igualitária, de respeito mútuo.
Sobretudo, como é preciso eliminar, desde a raiz a cultura da posse.
Uma plateia atenta e participativa, que me cravou de perguntas e fez relatos de experiências educativas importantes, conduzidas por mulheres, em diferentes partes do Brasil, inclusive na cidade anfitriã. Meu livro vai entrar na roda, e isso me deixa muito feliz e grata.
O assunto estupro, abuso infantil, tem que ser entendido como violência doméstica que é. Certamente a forma mais perversa e pervertida que há: o estupro de vulnerável, menos de 14 anos. Mas não só.
Há que se considerar também, o medo das consequências. Não raro o agressor ou agressora ameaça a vítima, caso ela não guarde segredo, estabelece com ela uma cumplicidade que termina por gerar, também, um sentimento de culpa.
É essencial educar meninos e meninas, desde cedo, para contarem à mãe e/ou ao pai qual situação estranha de invasão do seu corpo – desde a aparentemente simples mão boba. Ninguém está autorizado a tocar seu corpo.
Fiz isso com cada uma de minhas filhas, e também com meu filho, desde cedo. Se alguém tocar em você, sobretudo em suas partes íntimas, grite.
Era uma obsessão de quem aprendeu cedo, e sozinha, a escapar de situações abusivas.
Na Agência Patrícia Galvão, leio reportagem publicada no sítio Universa com relato de uma perita criminal, sexóloga do IML de São Paulo.
Bastante elucidativa sobre a crueza da realidade, que precisa ser enfrentada – em casa, nas escolas, nos órgãos públicos de saúde, polícia e justiça, na sociedade.
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