por Sulamita Esteliam
O A Tal Mineira publica mais abaixo a nota conjunta das bancadas dos partidos de esquerda na Câmara dos Deputados – PT, PSol, PCdoB, PDT e PSB comunicando a intenção de acionar o Conselho de Ética da casa, pedindo a cassação do mandato do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Nesta tarde, junto com a Rede e a liderança da Minoria, a oposição no Congresso deu entrada no STF de notícia-crime contra o deputado, que defendeu o retorno do AI-5 – Ato Institucional que instituiu o terror do Estado em 1968, durante a ditadura civil-militar no Brasil.
Tem razão o senador pernambucano Humberto Costa (PT), em comentário registrado pelo Jornal GGN:
“Nós não podemos tratar como garoto, o garoto tem que responder pelo que faz. Ele não é inimputável. No Brasil, é o que está acontecendo hoje, o que parte do Bolsonaro e de quem está ao lado dele, ninguém leva em consideração. Só que ele diz essas coisas há trinta anos e acabou virando presidente da República”.
Até que enfim uma atitude contra os arroubos irresponsáveis de todos do clã do capiroto. Não é doença, é manipulação grotesca da opinião pública publicada, que reflete na consciência popular.
Desta vez, o número 3 – aquele que queria ser embaixador nos Estados Unidos porque sabe fritar hamburguer – abusou, tirou partido, além da conta. Não é doença, como aventa Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça e ex-sub-procurador-geral da República.
Não se pode ignorar, deixar para lá para ver como é que fica. Mesmo para um filho de presidente da República – que, aliás, já defendeu a medida, anos passados, conforme lembra Fernando Brito, no Tijolaço.
A primeira reação não poderia ser outra: quem afinal governa e desgoverna o país? O pai, os filhos, os patronos, a milícia, o laranjal? Um desgoverno eleito graças à notícias falsas, e com o empenho de fraudes processuais e midiáticas, se vale de diversionismo para esconder a podridão que o cerca.
E cadê o Queiróz, por que não foi chamado a depor até hoje, mesmo depois de vazar aúdios complicando toda a famíglia?
Quem estava na casa 58 quando o parceiro do assassino de Mariele adentrou ao condomínio Vivenda da Barra, procurando pelo então ainda deputado Jair Messias Bolsonaro, no dia da execução da vereadora do PSol e seu motorista?
Perguntinha, dentre muitas, que não quer calar. A CPI que investiga a ação das fake news na eleição presidencial, tem revelado fatos interessantes, que não surpreende partindo de onde vêm.
Ouça e veja o que diz o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) depois da seção do dia da CPI:
E como explicar que o 02, o vereador carioca, tenha tido acesso às gravações dos contatos da portaria com os moradores do condomínio antes que a Polícia Civil do Rio as examinasse?
Tão bonzinho o Carlos Bolsonaro, roteirista do mundo animal, certamente preservou a íntegra do conteúdo! Ao ponto de a procuradora do MP fluminense dispensar a perícia no computador, conforme denuncia a Folha de São Paulo, e mesmo assim declarar que o porteiro mentiu.
Pior, o condomínio não tem interfone, descobriu Luis Nassif; as ligações do portaria são diretamente para os celulares dos respectivos moradores. A polícia e o o MP não saberiam disso?
A procuradora, aliás, vestiu a camisa bolsonarista durante a campanha presidencial; a foto dela está em todas as redes sociais.
Seria o porteiro, cuja identidade não se conhece até o momento, um suicida em potencial. Mentiria, repito, pelo prazer de ver-se perseguido incontinenti?
Mais, como não se conseguiu avançar as investigações por mais de um ano e meio e em menos de 24 horas, tudo ficou “esclarecido” para incriminar o porteiro e inocentar Bolsonaro-pai!?
E por que o silêncio retumbante do STF, da PGR e do des-ministro da Justiça, Moro, durante 20 dias, até que a Globo vazasse o depoimento do porteiro?
Concidentemente, o presidente citado estava em férias pelo Oriente nababesco, enquanto sua bancada de apoio botava para arrombar em cima dos beneficiários, pobres, da Previdência Social.
Pregar o retorno do AI-5, como resposta a uma possível adesão do povo brasileiro à recente efervescência política latino-americana, não pode ser entendida como mera distração. Ainda que seja tão ao gosto da famiglia, sempre que confrontada com seus malfeitos.
Alguém tem que dar um basta nessa pantomina mafiosa, enquanto ainda temos um simulacro de democracia e um país para chamar de nosso.
Mais cedo, nesta quinta-feira, até o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) reagiu à fala do 03 como inaceitável, por contrariar o juramento constitucional:
“O Brasil é uma democracia. Manifestações como a do senhor Eduardo Bolsonaro são repugnantes, do ponto de vista democrático, e têm de ser repelidas como toda a indignação possível pelas instituições brasileiras. A apologia reiterada a instrumentos da ditadura é passível de punição pelas ferramentas que detêm as instituições democráticas brasileiras. Ninguém está imune a isso. O Brasil jamais regressará aos anos de chumbo” .
Também o ministro Marco Aurélio Mello criticou a quebra dos princípios democráticos, recorrendo à poética:
“Ventos estão levando embora ares democráticos”.
Faz tempo, ministro, faz muito tempo…, e com o auxílio luxuoso da Suprema Corte, infelizmente!
Eis a íntegra da nota:
“As Bancadas do PT, PSOL, PCdoB, PDT e PSB, juntamente com a Liderança da Minoria na Câmara, repudiam veementemente a declaração do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em defesa de um novo AI-5. Trata-se de um ato criminoso e de extrema gravidade, pois atenta contra a Constituição Federal e a democracia.
É inadmissível um parlamentar eleito pelo voto popular e que jurou respeitar a Constituição fazer apologia ao crime e a defesa da volta dos anos de chumbo. Diante disso, entendemos que a única punição cabível é a perda de seu mandato, medida que será analisada pelo Conselho de Ética da Câmara com base em representação que os cinco partidos vão protocolar.
O ato do Deputado, por ser filho do Presidente da República, que reiteradamente defende a ditadura e a tortura, faz da declaração um risco concreto para a democracia.
O parlamentar do PSL e o grupo que no momento ocupa o Palácio do Planalto são uma ameaça constante às instituições democráticas e ao Estado de Direito. Reiteradamente, demonstram intenções autoritárias, aversão ao diálogo e descompromisso com a democracia tão duramente conquistada pelos brasileiros. São inimigos da democracia e da liberdade e, por isso, devem ser contidos por toda a sociedade brasileira.
Ditadura nunca mais! Democracia sempre!
Brasília, 31 de outubro de 2019
Assinam os líderes do PT, PSOL, PDT, PCdoB, PSB e da Minoria.
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