
por Sulamita Esteliam
A Rodovia MG 129, por onde transitam os funcionários da Samarco, empresa do grupo Vale-BHP, amanheceu fechada nesta terça-feira, 5. É o primeiro dos três atos que lembram e protestam pela tremenda injustiça a que são submetidos os ex-moradoras de São Bento, o lugarejo varrido do mapa pela lama de rejeitos da mineradora. Há quatro anos.
Os 19 mortos seguem sendo lembrados pelas famílias e movimentos sociais. Os vivos sobrevivem sem teto, sem o lugar de pertencimento, sem a indenização que lhes é de direito, sem saúde, sem eira e sem beira.
O Rio Doce está morto, consumido por cerca de 39 milhões de metros cúbicos de lama que espalhou miséria e desalento por 826 km, até a foz em Regência, no Espírito Santo.
Em Minas, comunidades centenárias de Mariana, como Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira foram varridas do mapa com o rompimento da Barragem do Fundão.
Moradores de comunidades vizinhas, como Barra Longa, também foram atingidos, mas não há reconhecimento. Mas o povo se organiza, via MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens -para fazer o que lhe é negado.
Nenhuma casa foi construída nestes quatro anos. A Fundação Renova, criada para a intermediação entre empresa e vítimas empurra com a barriga. Até porque é dirigida por funcionários da companhia que praticou o crime.
É cabrito tomando conta da horta.
O “Novo Bento” é miragem. Além das 430 famílias, há outras que ficaram sem o ganha-pão, pescadores, garimpeiros ao longo do Rio Doce, que não foram reconhecidos como atingidos.
Sim, o crime compensa. A empresa faz o que quer, e já está autorizada a voltar a operar.
Mesmo depois do outro crime de proporções gigantescas em Brumadinho, que soterrou três centenas de pessoas, 19 das quais seguem desaparecidas. O Rio Paraopeba, como o Rio Doce, está imprestável e dezenas de comunidades estão sem meios de sustento.
De sua parte, a mineradora fechou o terceiro trimestre de 2019 com lucro de US$ 1,6 bilhões (R$ 6,5 bilhões). A extração de minério e ferro também aumentou 20,2% no mesmo período, comparado ao anterior.
Nenhum dos acordos de reparação de danos, firmados desde 2015, foram cumpridos.
Em maio de 2016, o Ministério Público Federal acionou a Samarco-Vale-BHP em R$ 155 bilhões para a total reparação dos danos. É oito vezes mais do que os R$ 20 bilhões acordados pelos governos com as mineradoras, valor absolutamente insuficiente para atender às necessidades dos atingidos.
E o que se descobre, então? Que a Vale adulterou relatórios para confundir investigação, perseguiu manifestantes e ocultou estudos que mostram contaminação na poeira das casas de Mariana.
Desde novembro de 2016, há 22 pessoas e quatro empresas denunciadas pelos crimes do desastre em Mariana. Não há julgamento à vista.
O Brasil de Fato, que tem acompanhado os fatos desde o desastre criminoso. E recupera fatos e consequências em edição especial sobre esses quatros anos.
Foi lá que o A Tal Mineira buscou as informações desta postagem. Vale à pena conferir a íntegra, é só clicar e seguir a trilha.
