por Sulamita Esteliam
Só nesta sexta, 7 pude apresentar o documentário Barreiridades, de Luiz Claudio Diaz, produzido pelo Instituto Macunaíma – Escola de Cidadania e Cultura, à parcela do meu núcleo familiar no Recife. Já está disponível no Youtube.
E neste sábado vai ser exibido para a comunidade do Bairro Ururucuia, no Barreiro de Cima, Sudoeste de Belo Horizonte, minha Macondo de origem.
Minha netinha caçula, de 2 anos, atenta a tudo que a rodeia, conectou-se com o som da minha voz, soltou os olhos do desenho animado que assistia no celular da mãe – loucura isso, bem sei – e apontou para a tela do computador sobre a mesa:
– Vovó, de péu (chapéu)!
Prova de que DNA, ethos e pertencimento são coisas sérias. Por essas e outras, digo que não vi ao mundo a passeio.
E fico muito contente em saber que onde Euzinha brotei e floresci tem uma nova geração disposta a cobrar a parte que lhe cabe neste latifúndio. Talvez um pouco afoitamente, mas é parte do processo para se chegar ao começo da aurora.
A cultura resgata e aduba a autoestima. É o fazer da nossa gente, da nossa juventude, da Maria e do Zé Povinho, o alicerce do cotidiano. Não é só comer, tem que ter prazer e arte, diversão, batalha, balé, show de rock, samba e que tais…
E as leis de incentivo à cultura estão aí para isso.
O Barreiro é uma região de Beagá que antecede à fundação da cidade, e vai completar 165 anos, celebrados este ano. Uma Belo Horizonte que sempre padeceu sob o peso de suas próprias escolhas. E é no verão, estação das águas do sudeste-sul, como se vê neste 2020, que elas se revelam mais equivocadas.
E o Barreiro, sob a Serra do Rola Moça, sente no lombo as consequências. Sempre foi a caixa d’água daquelas plagas.
Já foi o celeiro de abastecimento da capital, e que hoje responde por mais de um terço do PIB do município. Reúne cerca de 300 mil pessoas em 54 bairros, uma cidade de porte médio, que, se cidade oficial fosse, seria a oitava maior das Minas Gerais. E que não recebe de volta a atenção devida.
Aí é que mora o perigo… A volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar, em livre citação dos versos de Geraldo Vandré, 1967. E os políticos, de partidos vários, que vão lá buscar votos a cada eleição, ainda não se aperceberam disso.
Falo a respeito no meu livro Estação Ferrugem, Vozes/Prefeitura de BH, 1998. Falo também da tendência de votos da região em 50 anos dos então 100 anos da capital, completados em 1997 – que é a época que o livro cobre.
E é agoniante constatar que pouco ou nada mudou. Lula e Dilma, Patrus Ananias, Nilmário Miranda e Célio de Castro, o doutor Célio – para mim, “ti Célio” – são muito bem votados na região. E contrapartida, Marcelo Antônio, o ministro do laranjal do capiroto exposto em delito, foi eleito majoritariamente por lá; tal e qual o pai dele, Álvaro Antônio foi vereador e deputado mais votado ao longo de décadas.
Desconfio que também o capiroto, amplamente escolhido em toda capital. Que tristeza! Daí que nem o papa, e muito menos o bispo, salva.
O livro é a razão por Euzinha fazer parte deste documentário, cujo lançamento oficial, em dezembro passado, pude estar presente, em mais uma conspiração do Universo.
A experiência me animou a levar adiante o projeto de reedição do livro, agora sob meus próprios direitos. Mas isso é outra história.
Compartilho com você o documentário. Veja e curta lá, para dar força ao pessoal:
Ah, sim, tem folia na celebração dos 165 anos do Barreiro: na terça de carnaval, tem desfile de bloco local, com sabor de protesto: Barreiro 165 Anos de Luta – Do Alforriado Matias ao Esperando o Metrô: às 13:00 horas na Rua Coramandel, 801 – em frente à UNA Barreiro.
Estás por aí, vá lá conferir.
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