Um parque, namorado novo para chamar de meu…

por Sulamita Esteliam

Ganhei um novo quintal em Boa Viagem, um parque inteiro para chamar de meu. Agora, que estou um pouquinho mais distante da praia, coisa de 1,2 quilômetros, é bom ter a possibilidade de alternar minhas caminhadas na areia, com os pés na água, com o bom e velho tênis em pista demarcada, O calçadão da orla deixou de ser alternativa para mim faz tempo.

Caminhar é um prazer desenvolvido na necessidade, desde a infância.  Ia para a escola – e, ainda em tenra idade, concomitante, para o trabalho – a pé.

Melhor é fazer isso respirando ar puro, sem barulho do tráfego e riscos de ser abalroada por assediadores, em priscas eras, e, no caso da orla do Recife, por ciclistas que insistem em andar pela calçada, apesar da ciclovia.

Lugar de diversidade, como a praia. É um lugar para todas as idades e classes sociais. Um lugar para o Zé e Maria Povinho chamar de seu, sem favor nenhum. Isso faz toda a diferença.

A alma acolhe e é acolhida, e os sentidos agradecem todos os sons e cores desse quintal novo.

Por ele se caminha em meio ao alarido de crianças e jovens que por ali gorjeiam – nos parquinhos, nas quadras de cimento e de areia, no ginásio poliesportivo, nas pistas de atletismo e de skate, à saída das escolas…

O Parque Santos Dumont é também um complexo esportivo, referência de várias gerações de recifenses. As placas da reforma, desde 2017, anunciam a meta de um centro esportivo completo, inclusive com quadra de tênis, demarcada.

Ampliar sua capacidade de atender à demanda e oferecer uma multiplicidade de práticas esportivas é o mote alcançado. São 3.780 (eram 2.479) vagas em 38 modalidades, 11 a mais do que há três anos. Dentre as quais atletismo, artes marciais, capoeira, yoga, pilates, musculação e danças variadas, além dos esportes aquáticos, de quadra e areia.

Anexo ao parque funciona uma rede educacional pública – da educação infantil  ao ensino técnico de referência: Centro de Educação Infantil 14 Bis, Escola Brigadeiro Eduardo Gomes (fundamental I e II), Escola Manoel Borba ( ensino médio), Colégio Santos Dumont – Erem (ensino médio integral) e a Escola Técnica Estadual Cícero Dias, também de referência.

As atividades esportivas atendem aos recifenses que se inscrevam, geralmente no início do ano, ao longo de janeiro, dentro do número de vagas disponíveis. Pode-se praticar até três modalidades diferentes, apenas uma na água – natação ou hidroginástica, dentre outros – de cada vez.

Tudo, absolutamente tudo, público. Nada se paga, tudo se desfruta.

Demorei a estreá-lo. Cochilei e estou na fila de espera para a prática esportiva orientada. O propósito é começar pela natação: quero aprender a nadar antes de virar estrela, aproveitar que o medo tomou rumo.

O namoro com o Santos Dumont – é assim que é tratado aqui – há de esfumaçá-lo de vez. Sempre foi platônico. Em verdade, uma curiosidade de passagem, sempre que se vai ao aeroporto, abastecida por uma ou duas estadas para acompanhar a caçula em atividades esportivas comunitárias.

Veio o flerte dos últimos meses, porque margeá-lo tornou-se obrigatório para a descida para a praia ou qualquer outra atividade que obriga ir até o miolo de Boa Viagem. E para quem sempre viveu por lá, é quase um vício.

O desfrute, entretanto, só se concretizou em janeiro, quando fui apresentá-lo ao meu neto mineiro que aqui esteve rapidamente. Mateus, por assim dizer, inaugurou o parque por mim.

Nos meses que se seguiram à mudança de pouso reinou o tumulto e o cansaço; não apenas pelas exigências domésticas e que tais de toda e qualquer mudança. É que tudo aconteceu em meio à agenda de lançamentos do meu último livro, o segundo publicado, Em Nome da Filha, e outros afazeres.

Nos mudamos no início de agosto – somente Euzinha e o maridão, companheiro de muitas batalhas. A caçula, nossa derradeira companhia, foi viver a própria vida, como o e as demais o fizeram, bem mais cedo do que ela.

De setembro a dezembro, voltei a Belo Horizonte duas vezes para compromissos pessoais – o lançamento lá foi em abril, na sequência do Recife. Estive em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, para o Festival de Histórias Não Contadas, em Fortaleza  e em Brasília para lançar o livro.

O Santos Dumont me esperou, pacientemente, sem empatar um fio de brisa, nem quebrar a aba do chapéu. Guardou-se como senhor do tempo.

Ontem, passei o fim de tarde lá com minha netinha caçula. A mãe está viajando a trabalho, e o pai a trouxe, a meu pedido, para almoçar e passar a tarde conosco. Foi nossa primeira vez juntas no parque. E Agatha se esbaldou.

Hoje caminhei longamente e repetidamente por sua pista de 1.270 metros em cenários diversos. E aproveitei para escorregar pela saída lateral e contorná-lo pela esquerda de volta para casa. Descobri que já conhecia parte do trecho, e novidades úteis no percurso.

Pequenos prazeres que fazem a vida valer à pena, enquanto vida há.

Bom fim de semana.

Fotos esta escriba.

 

 

 

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