por Sulamita Esteliam
Está consumado. Henrique Mandetta não é mais ministro da Saúde, como se prenunciava. A incompatibilidade de posturas com o chefe capiroto no enfrentamento à pandemia do Coronavírus era insustentável.
Cai atirando. Na coletiva de imprensa que concedeu após o anúncio da demissão, elogiou a equipe que sobrevive a ele – porque é formada por técnicos, em sua maioria funcionários de carreira -, recomendou cooperação e uma “transição tranquila”, mantida a defesa “intransigente” do Sistema Único de Saúde e da ciência.
Há sérias dúvidas sobre tais possibilidades, a considerar o perfil do sucessor. Nélson Teich, publicamente um eugenista para quem o dinheiro fala mais alto no usufruto da medicina. Pudor nenhum, bem ao gosto do desgoverno em putrefação.
Esta fala é de 2019, num congresso de oncologia. Exprime bem o pensamento do novo ministro da Saúde. É uma avant première/pré-estreia do nosso futuro com o novo gestor da pandemia; que já ceifou, por baixo, 1924 vidas nesta quinta-feira de mudanças, e conta 30.425 casos de contágio, números oficiais – e irreais.
Há sete estados brasileiros em situação de emergência: Amazonas, Amapá, Distrito Federal, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro e Roraima. Significa que estão 50% acima da incidência nacional da doença, embora São Paulo e Rio de Janeiro concentrem o maior número de casos, e de mortes.
Alguém comentou, com propriedade, no Twitter: quando Teich – não sei como se pronuncia, mas que lembra Reich, é inegável – fala em escolha com base financeira, ou financista, certamente não se refere à escolha de um adolescente pobre ao invés de um velho rico.
O colega Fernando Britto o nomeia “o interventor”, “frio e calculista“, boa definição. Mas tendo a escolher o epíteto que brotou nas redes sociais: “o cocheiro do vampiro”. Tudo a ver com o genocida de plantão, tanto que aceitou seu convite.
A bem do contraditório e da tal luzinha verde no fim do túnel, o capiroto talvez não tenha lido o artigo em que o novo comandante da batalha contra o Coronavírus faz a defesa do “isolamento social”, pivô da discórdia com o antecessor. No início deste mês, escreve ele no LikedIn:
“Diante da falta de informações completas de comportamento, morbidade e letalidade de Covid-19, e com possibilidade do sistema de saúde não ser capaz de absorver a demanda crescente de pacientes, a opção pelo isolamento horizontal, onde toda a população que não executa atividades essenciais precisa seguir as medidas de distância social, é uma melhor estratégia no momento.”
Em breve se saberá se ele fala fino, mas quando precisa fala grosso.
De qualquer forma, Nélson Teich vai ter que explicar seu plano de trabalho à Câmara dos Deputados. Já está protocolado requerimento nesse sentido, pelo PSol, que também denúncia à OMS a substituição do ministro da Sáude em meio à crise do Coronavírus, a prenunciar a intenção de descumprir as recomendações da organização internacional.
Ah, sim, foi no Twitter, o ex-ministro Mandetta também fez loas ao SUS. Em meio à pandemia do Covid-19 ele, que posava de lobista dos planos de saúde, descobriu a vitalidade do atendimento universal que é o espírito do Sistema Único de Saúde.
Tomara que em sua nova função, de conselheiro do DEM, seu partido – conforme informa O Globo partir de fala do padrinho Ronaldo Caiado – ele faça gestões em favor do fortalecimento do sistema público de sáude. A ver se a experiência com as impossibilidades frente a uma pandemia desta monta, tenha lustrado seu espírito ao bem coletivo.
O governador de Goias é o fiador de Mandetta, dentro e fora do desgoverno, do qual apeou no início da crise política movida a pandemia. Ronaldo Caiado é médico, assim como seu pupilo.
Mas o cientista político Alberto Carlos Almeida lembra em seu blogue, que o DEM está unido em torno do ex-ministro defenestrado. E faz observação fundamental: o capiroto “abriu mão de um ministro que tinha amplo apoio do Congresso, e a simpatia dos presidentes das duas casas”. E acrescenta, com direito a “PS”:
“Os políticos jogam xadrez, já Bolsonaro é um simples jogador de damas. O que vimos hoje é que mesmo jogando damas, ele é bem fraquinho.
PS.: a posse do novo Ministro da Saúde não foi prestigiada pelos ministros militares do governo.”
Vou e volto. As perspectivas, convenhamos, não são nada animadoras. O talento do amigo Cau Gomez desenha bem desenhadinho. Obrigada.
E por falar em milicos, e para não dizer que sou do contra, posto um vídeo que me deu arrepios tanto quanto o do “cocheiro do vampiro”. O prefeito de Três Rios, Edmar Salles, do PDT, mostra como o Exército brasileiro já trabalha com a possibilidade de ultrapassagem do caos.
Torna público ofício em que a jurisdição local do Exército solicita o levantamento de cemitérios e sepulturas disponíveis.
Como se diz na minha terrinha, o trem tá feio…!