E a nação, alarmada sente o chão fugir-lhe aos pés…

A carteira amarelou: fica sem trabalho e sem direitos – Foto: Divulgação
por Sulamita Esteliam

O assunto do dia deveria ser o retorno à escravidão aprovado pela Câmara dos Deputados na madrugada da quarta-feira. A carteira verde-amarela, que cria o trabalhador de terceira categoria, sem direito a salário decente, 13º salário ou FGTS não é nada mais, ou menos que isso.

A aprovação da “carteira da vergonha”, como a apelida o movimento sindical, não só é uma falácia em nome de pretensa geração de postos de trabalho, como é considerada uma “traição”, mais um ataque à democracia. Diz a nota das centrais sindicais:

“Se a MP 905 for efetivada, não haverá geração de empregos para jovens nem para ninguém. Ao contrário, além do agravamento da precarização e da informalidade, a medida provocará uma nova descapitalização da Previdência podendo comprometer o pagamento das aposentadorias.”

Não apenas os sindicatos são contra a medida. Já de saída, quando da edição da MP 905, em novembro passado, a Anamatra – Associação Nacional de Magistrados da Justiça do Trabalho manifestou-se contrária à retirada de direitos constitucionais, sob a falsa premissa de geração de emprego,

“(…)

Dados da OIT revelam que nenhuma tentativa pautada na ilusória premissa da flexibilização de direitos resultou na criação de novos postos de trabalho. Nenhuma trava de desemprego em massa se mostrou eficiente, mesmo quando aplicadas em cenários menos críticos, ao contrário do prometido.

O governo parece confundir o custo fiscal das empresas com agressão aos direitos básicos dos trabalhadores. Como é certo, políticas públicas voltadas à empregabilidade em faixas de vulnerabilidade não têm autorização constitucional para redução de direitos sociais. Aliás, não há proteção a faixas de vulnerabilidade quando o que se pretende é diminuir a obrigação das empresas com importantes cotas como de PCD (Pessoa com deficiência) e aprendiz.

(…)” Aqui a íntegra da Nota à Imprensa.

Registre-se que o ato, que ainda vai ao exame do Senado, é tudo que o patronato requenguela e colonial do Brasil anseia, desde sempre. Já nasceu indecente. portanto. E agora, em meio à pandemia e ao desemprego galopante, é mais um empurrão ao genocídio pregado pelo capiroto.

Euzinha dizia que este deveria ser o assunto do dia. Mas não é. Afinal, é do andar de baixo que se trata.

O protagonismo continua sendo o avanço do Coronavírus, mas não apenas no que diz respeito ao processo de contaminação.  Já são 28.320 casos confirmados e 1736 mortes, na contagem do Ministério da Saúde, que não espelha a realidade, devido a ausência de testes.

Contaminação no Brasil – Fonte: Ministério da Saúde/O Cafezinho

O centro das atenções, para alarme geral da nação, é mais uma vez o cai-cai do ministro da Saúde, em meio à pandemia.

Parece que, desta vez, o ministro cai, mesmo, é só o tempo de arranjar-se um substituto que atenda só paladar terraplanista do capiroto. Seu (do ministro) imediato, o técnico epidemiologista da equipe, Wanderson Oliveira, se demitiu logo pela manhã, diante do cenário colocado pelo titular.

Significa que o Henrique Mandetta, sonso como só ele sabe ser, vai obter o que pretende: livrar-se da guerra pública com o capiroto-presidente sobre as medidas de combate à infecção planetária, e sair por cima dos escombros. Deixa ao chefe o ônus da dispensa.

É tudo política. E parte do mesmo projeto em favor da minoria que manipula o poder, e quer ver o povo na lona, capacho, de preferência em cova rasa.

Por óbvio que o deputado do DEM não foi parar na equipe do desgoverno pelos seus belos olhos, ou por sua suposta competência técnica, muito menos pelo propalado amor à ciência. Embora tenha, de fato, se constituído em voz solitária de bom senso, no cipoal de insanidades, nesses tempos de pandemia.

No entanto, não se pode esquecer que ele é parte do problema: votou pelo impeachment fraudulento da presidenta Dilma Rousseff, até o advento da pandemia era contra o SUS e a favor dos planos de saúde, foi sua gestão na pasta que exterminou o Mais Médicos.

Circula na rede um vídeo inacreditável de um prefeito do interior de Goiás, mais um que se diz arrependido do bolsonarismo. Não vou reproduzir o vídeo, porque ele usa a imagem dos próprios filhos, menores, para dar credibilidade à sua diatribe contra o presidente que ajudou a eleger.

Marrento e grosseiro, o adjetivo mais cordial que usa contra o capiroto é “irresponsável”. Ao final, canta loas ao governador goiano, Ronaldo Caiado – o alicerce do Mandetta.

É o nível. Não tem bonzinho nessa novela.

A entrevista do ministro da Saúde ao Fantástico, reforçando a queda de braços com o chefe, foi a senha para a possível demissão. Detalhe, ele manteve o tom na coletiva-balanço desta quarta-feira.

O capitão corona adquiriu o apoio que não tinha, e precisava, para criar coragem e demitir o agora rival. O gabinete militar de gerenciamento da crise considerou indisciplina imperdoável a provocação,

Agora tem que administrar o problema, maior do que supunham: além de Wanderson Oliveira, a equipe técnica, que é quem entende de saúde e segura a onda do enfrentamento à Covid-19, ameaça debandar.

E lá vai o Brasil descendo a ladeira, feito carroça desembestada!

O caos só não se estabelece, geral, porque governadores e prefeitos assumiram as rédeas do combate à pandemia, impondo restrições de convívio social e outras limitações, absolutamente necessárias.

A boa notícia neste dia que finda é que a Suprema Corte decidiu que a ação dos estados e municípios é legítima, e o desgoverno central não pode desfazer o que os gestores regionais e locais definem.

Decisão unânime, que pode ser lida na expressão feliz do ministro Gilmar Mendes ao acompanhar o voto do relator Alexandre Moraes, fazendo um paralelo sobre o poder do presidente demitir ministro:

“Ele pode demitir o ministro da Saúde, mas não dispõe de poder para, eventualmente, exercer uma política pública de caráter genocida.”

Que seja assim, enquanto há tempo para o amanhã.

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Postagem revista e atualizada em 16.04.2020, às 10:31hs: correção de erros de digitação.

 

 

 

 

 

 

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