por Sulamita Esteliam
O início de uma chuva de meteoros, que tem seu ápice nesta terça-feira, e vai até o dia 6, saudou o encantamento de dois artistas de primeira grandeza na segunda-feira: o letrista Aldir Blanc, um dos maiores do Brasil e Flávio Migliaccio, ator de TV e cinema, notável por incorporar personagens representativos do Zé Povinho.
Não está fácil para ninguém.
Parceiro de João Bosco em O Bêbado e o Equilibrista, música eternizada como hino da resistência à ditadura militar por Elis Regina. Obrigada, Aldir, por encantar gerações, por rimar poesia com integridade, por se importar, por sempre olhar ao redor e ser parte, tomar partido da vida com decência e dignidade. RIP Aldir Blanc, na luz!
Aldir é mais um levado pelo Covid-19. No dia em que seguiu a tempestade associada aos detritos do Cometa Halley, o vírus matou mais 296 pessoas, elevando para 107.780 casos de infecção, números oficiais, que, sabe-se, estão bem longe da realidade.
O Ministério da Saúde, aliás, doravante fará duas divulgações diárias sobre a pandemia: no meio da tarde e no início da noite. Mas testes massivos para detectar as contaminações e conter o vírus com mais eficiência nem pensar.
Enquanto isso, talvez estimuladas pelo uso de máscaras, e certamente enfadadas pelo confinamento, se esquecem que o isolamento social continua sendo a forma mais eficiente de barrar o contágio.
Atitudes que não se justificam, porque de vidas se trata – da de cada qual, e a do próximo mais próximo indevidamente. Alguns lugares, como o Recife, já preveem o fechamento total para evitar desastre ainda maior.
Maio promete durar uma eternidade.
Não se sabe se a morte de Flávio Migliaccio entra na conta do coronavírus ou se foi mesmo suicídio, como suspeita a polícia eleva a crer o bilhete de despedida encontrado no sítio em Rio Bonito, onde ele estava.
Um bilhete curto, com palavras que transbordam desencanto, sofrimento e desesperança – em relação às pessoas e ao país, onde ser velho tornou-se pecado mortal punível com o nunca mais.
Muito triste e indigno.
Sei de mim que, se o corona não me pegar, vão ter que me aturar bem muito, nem se preocupem.
Não sabia que Migliaccio também era cartunista – esses artistas com poder de síntese, ironia e crítica inigualáveis.
Quem revela é outro cartunista, dentre outras ferramentas de comunicação, Gilberto Maringoni, jornalista e professor universitário, em seu Facebook. Foi lá que garimpei a charge que divide a abertura desta postagem com a grande sacada do jornalista gaúcho Celso Schroder.
Excepcionalmente, compartilho vídeo global em homenagem ao eterno e adorável Xerife. Memória da minha juventude, num tempo em que a TV ainda era sonho de consumo, aplacado pelas televizinhas, casas de amigas, namorado…
Viva Flávio Migliaccio! Descanse em paz.
Clique para saber mais sobre a chuva de meteoros e o painel oficial, trágico, do Covid-19 no Brasil.