por Sulamita Esteliam
Pisa, pisa, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga, não atiça o formigueiro. O verso é usado pelos movimentos sociais, sobretudo o MST, em atos de rua; parodiado da canção Pisa Manero, de Dilson Dória e Juvenal Lopes, notabilizada por Xangai.
Pois é nesta toada que agiram os cartunistas brasileiros nesta terça-feira, num protesto criativo em apoio ao colega Renato Aroeira, censurado e ameaçado de processo pelo desgoverno do capiroto.
Em defesa da liberdade de expressão, dezenas deles recriaram a charge de Aroeira que transforma na suástica nazista a cruz-símbolo da saúde, vandalizada pelo capiroto.
A charge é o alvo da censura, sob a forma de ameaça de investigação e processo do desgoverno autoritário. Prova do desespero de quem sabe que faz trapalhadas, para ser educada, e recebe, e refuta a crítica na medida.
Porque é o que faz Aroeira, um dos mais respeitados cartunistas do país. Prova disso é que os colegas se mobilizaram. Também porque o que atinge um pode atingir a todos.
Veja o o que escreve sobre ele o premiadíssimo colega Cau Gomez, na postagem de sua charge-homenagem no Facebook:
Todos os cartunistas publicaram as charges em seus perfis no Instagram, a partir das 14 horas desta terça, 16, com as hastags #somostodosaroeira e #chargistascontraacensura.
As artes, em sua maioria, estão reunidas na rede no perfil @somostodosaroeira/Obrigada ao querido Genin Guerra, autor da charge que abre esta postagem, e que me enviou o acesso.
Eis algumas que capturei por lá, no perfil coletivo e também nos individuais, ainda não agregadas. Não posso incorporar porque o A Tal Mineira está sob censura também no Instagram, além do Facebook, há mais de um ano. O bloqueio também não permite o compartilhamento do que eu publico aqui, sequer a url do blogue.
A explicação para a censura ao A Tal Mineira é “conteúdo abusivo”. Alguém denunciou, recorri ene vezes, em vão; larguei para lá. O curioso é que o bloqueio aconteceu, ironicamente, em postagens em que usei charge sobre o ex-presidente Lula na prisão – aqui. O autor é o Aroeira.
E a intimidação oficial ao chargista é notícia na mídia internacional, por exemplo, no New York Times.
O artista enviou, via zap-zap, um áudio emocionado de agradecimento. Quem me repassou foi a amiga, também jornalista mineira, Genoveva Rusdias. Só que não consigo compartilhar: o sistema WordPress não aceita arquivos .opus, alega “questão de segurança”.
– (…) estou muito emocionado com toda essa solidariedade, com todo o afeto. Soube de uma ideia que os chargistas, todos, estão tendo, que é absolutamente genial; eles estão todos desenhando a minha charge, do jeito que eu fiz, com seus estilos, e assinado o nome de cada um e Aroeira. Quer dizer, a Secom vai ter que processar todos pela mesma charge. Eu achei uma das coisas mais delicadas, geniais, uma maneira inteligentíssima de fazer uma reação.
Estou vendo aqui (no Sarau do Afonso) o abaixo-assinado que vocês estão fazendo, o texto, estou emocionadíssimo com isso. Estou cercado de afeto, e cercado de artistas, literatos que estção usando as ferramentas que eu uso, que eu prezo para me ajudar; e para resistir a esse idiota, esse imbecil, esse fascista, a esse idiotismo, a essa imbecilidade, a esse fascismo que perpassa ogoverno hoje.
Estou muito emocionado com toda essa solidariedade de vocês, dos meus colegas chargistas, também. (suspiro profundo) É muito bom, muito bom, estar do lado certo; dá um calor por dentro. Obrigada, pessoal.”
Sim, há uma abaixo-assinado que requer do Ministério da Justiça o encerramento das investigações que atacam a liberdade de expressão. Foi aberto pelo colega jornalista Afonso Borges, em solidariedade ao artista e também ao jornalista Ricardo Noblat, também envolvido na trapaça por ter publicado a charge nas redes sociais. Euzinha já assinei, clique para ler e assinar, se considerar justa a causa.
Deixo você com a entrevista do Renato Aroeira ao DCM Meio Dia, por que terça foi o dia dele – de manhã, de tarde e de noite:
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