Vitória do MAS na Bolívia abre uma janela de esperança, sob cautela

por Sulamita Esteliam*

Com 70% das urnas apuradas na terça, 20 a vitória do economista Luis Arce, 57 anos, candidato do MAS – Movimento ao Socialismo, apoiado pelo ex-presidente Evo Morales, nas eleições presidenciais da Bolívia, são irreversíveis.

Em seu primeiro pronunciamento, o virtual presidente eleito disse que vai governar para todos, mas enfatizou: “Retomamos à democracia”.

Mesmo que apoiado por Evo, que está no exílio na Argentina, ele descartou à Agência Reuters que o ex-presidente venha a ter algum tipo de influência no seu governo. Embora reconheça que tenha sido alvo de injustiças.

“Lamento que a política tenha sido judicializada pela direita.”

Não apenas na Bolívia, a gente sabe muito bem.

Arce foi ministro das Finanças de Evo, e seu vice é o indígena David Choquehuanca, chanceler. Derrotaram os candidatos da direita, Carlos Mesa, do Comunidade Cidadã, e Luiz Camacho, do Acreditamos, dentre outros menos cotados.

Não há resultado oficial, ainda, entretanto. O processo de apuração de votos no país vizinho ainda é manual. De qualquer forma, a posse deve acontecer dia 04 de novembro, segundo calendário do tribunal eleitoral.

A oposição golpista, que não aceitou o resultado das eleições há um ano, com a cumplicidade da OEA que referendou a acusação de fraude, já reconheceu a derrota. A OEA também, mas o órgão sai muito mal de toda a empreitada.

A presidenta-usurpadora, Jeanine Añes Chavez, se manifestou no Twitter reconhecendo a vitória da oposição e apelando pela “preservação da democracia”, que há um ano se apressou em violar.

Resta saber se os golpistas, desta vez, vão acatar a vontade soberana do povo. Com a direita latino-americana é sempre bom manter um olho no peixe, outro no gato.

Os desgoverno brasileiro, apoiador do golpe, foi o único na América Latina a não se manifestar sobre a vitória do MAS.

Dos votos de bolivianos residentes no Brasil, em torno de 25 mil, a chapa do MAS obteve 86%. Mas O PIG nativo  não deu destaque à vitória da esquerda acolá. Em compensação a mídia independente deu baile.

O Ópera Mundi, por exemplo, entrevistou ao vivo, no final da manhã desta quarta, o ex-presidente Evo Morales, diretamente da Argentina, onde se encontra exilado. A Revista Fórum retransmitiu, dentre outros canais da blogosfera progressista.

Analistas internacionais alertam para a necessidade de o movimento popular e o povo boliviano se manter mobilizado, pois foi sua organização que forçou a realização das eleições e garantiu o resultado. A eleição foi adiada quatro vezes.

O processo eleitoral foi acompanhado de perto por organismos internacionais como o Parlasul – Parlamento do Mercosul e a Uniore – União Interamericana de Organismos Eleitorais, dentre outros. Todos atestam a lisura do pleito.

A pressão e a observação internacional foram essenciais à realização do pleito e reconhecimento do resultado, acredita a historiadora boliviana Patrícina Montaño Duran, em conversa com o Brasil de Fato.

“Essa vitória contundente é do povo boliviano e, em maioria, do povo indígena, porque somos um país indígena. As pessoas viram o que foi esse governo de direita, que foi nefasto para os bolsos, para a saúde e para a educação dos bolivianos. O que esperamos é ter novamente um governo mais amplo, democrático, que volte a instalar um processo de mudanças mais renovado, corrigindo erros que possam ter existido no governo anterior de Evo Morales.”

Assista e ouça o vídeo produzido pelo Brasil de Fato:

Sem dúvida é um sopro de esperança nesse breu que tem se tornado nosso canto no Planeta. Assim como foi a eleição de Alberto Fernandez para a Presidência da Argentina, ano passado.

É certo que dificilmente, como presidente, Luis Arce poderá repetir o êxito obtido no comando da economia durante o governo Morales. O país, o mundo está em recessão. Mas ele sabe disso:

“Vamos ter que adotar medidas de austeridade. Não há outra opção se não temos receita suficiente para cobrir os gastos atuais.’

E avisa que vai renegociar os contratos de gás com o Brasil, frechados indevidamente pelo governo golpista. O gás é a principal fonte de recursos da Bolívia.

Não sou assim versada sobre política internacional. Então, deixo você com a análise de Reginaldo Nasser, da Carta Capital sobre o que representa essa vitória do MAS para a América Latina: 

*Fontes citadas:

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