por Sulamita Esteliam
Chegamos. Seguimos. Juntos somos imbatíveis. E o Universo tem sido por cúmplice de nossa caminhada. Sou grata, sejamos gratos. Que venha 2021! Estamos a postos para exercer o direito, individual e coletivo, de celebrar a vida.
Entenda que não há vida digna do nome na desigualdade, no desespero, na iniquidade, no abuso, na arbitrariedade, na opressão, na falta de oportunidade, no desmantelo, na fome, no racismo, no machismo, na misoginia, na crueldade, na injustiça, no escárnio.
O nome disso é genocídio.
Sou otimista incorrigível, assim como meu mestre Paulinho Saturnino – exemplo de força, de garra e autoconfiança. Defendo com intensidade o partilhar afetos e compartilhar alegrias.
Assim como ele é e dona Dirce que me pariu o foi, sigo acreditando na força do pensar positivo para ativar as energias vitais, restauradoras.
Creio nas possibilidades da essência universal, e no dever de conjugar o verbo esperançar – no presente e no futuro.
O passado é leite derramado, memória de referência, entretanto – para o bem e para o mal.
Insisto no esperançar definido pelo mestre Paulo Freire, porque sem ação não se chega a lugar algum. A inercia é mortal, a ignorância é corrosiva, assim como o negativismo e o negacionismo. O movimento é vital.
Também sou do tipo que cultiva a necessidade da utopia para o exercício da felicidade. E todos só queremos ser felizes, ainda que por breve tempo. Que seja eterno enquanto dure, já escreveu o poetinha.
Não obstante, estou muito longe de ser Poliana. Meu lado pé no chão foi cevado em berço proletário e vida de labutas. Conexão com a realidade é condição inexorável de sobrevivência, e Euzinha sou uma sobrevivente.
Não significa que possa prescindir do sonho. É meu elixir de criatividade. Ou morreria seca, contrariando meu prazo de validade, que acredito seja longo – e torço para que a fé seja o sopro de meu Anjo.
Até posso ser meio bruxa, como acenam pessoas queridas de vários quadrantes. Minha intuição e minha coragem são armas de combate. Mas nada tenho de mulher maravilha.
Tanto, que precisei submergir alguns bons dias para reter o fôlego e manter a sanidade física e mental. Escolhi dezembro, o mês em que desabrochei no mundo – no fim da manhã de uma segunda-feira, 28 – para eclipsar.
Não houve tempo para desculpas. Entrei em choque com sentimentos e ideias na contracorrente do meu espírito, e isso assustou A Tal Mineira.
Parei tudo para deglutir e exorcisar, e cheguei mesmo a pensar em fechar o boteco para sempre.
Sentiu nossa falta? Pois estamos de volta, até para fazer valer a máxima de que o para sempre, sempre acaba, ainda canta Rita Lee.
É bom que tenhamos tento: nossos problemas não acabaram; muito antes pelo contrário, tendem a agravar-se. Não há passe de mágica na simples virada do ano, nem na força do desejo.
Carregamos o peso de 195 mil mortos pelo Covid 19 no apagar das luzes de 2020, não se pode esquecer.
A dor dos que se foram e dos que ficam não tem sido capaz de sensibilizar quem nos desgoverna e aqueles que os seguem. Isso tem um preço.
É como praga de mãe, pesa feito canga na vida de um povo – que ainda arrasta as correntes de mais de três séculos de escravidão.
Nega-se a ciência, mas aposta-se na vacina, na contradição que nos caracteriza. Fato é que, mesmo agilizada por um governo decente e responsável – o que, definitivamente, não é o caso – a medida sanitária não alcançaria todos que dela necessitam.
Partindo-se do princípio que chegue em doses suficientes e em tempo hábil, vacinar todos acima de 18 anos, em dose duplicada, levaria todo o ano de 2021, quiçá mais a metade de 2022. Afinal seriam 160 milhões de pessoas multiplicadas por dois.
E nem seringas a incompetência do desgoverno conseguiu providenciar em quantidades mínimas para começar. Vou e volto: não é somente incompetência, é proposital.
O genocídio é projeto de não-país em curso. Patrocinado pela casa-grande – a maldita elite empresarial, política e judiciária; a classe dominante. É alimentado por quem tem o poder de desinformar, pois que é parte da trama.
E não venham me falar de impeachment, quando o vice é parte do problema do quanto pior, melhor. A quem serve o impeachment? O que muda com a degola de uma das cabeças da hidra?
A solução está onde sempre esteve: no TSE, que finge de égua e não se mexe para caçar a chapa eleita sob fraudes e ilegalidades, porque faz o jogo.
Nem mesmo agora que não corre mais o risco de eleição direta para tapar o buraco do mandato que a leniência da res-pública com as violações constitucionais de toda sorte gestaram, desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.
Então, meu povo, para fazer um 2021 feliz, use a boa máscara e a inteligência para se proteger do novo Coronavírus e do velho faz de conta. Fuja das aglomerações, vacine-se com a higiene recomendada, proteja-se das mentiras e manipulações.
Alimente-se bem, se está ao seu alcance. Reze se quiser e puder crer, mas seja feliz com o possível.
O problema é que neste país falta memória, despreza-se a consciência e sobra ignorância. Não há vacina para a ignorância.
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