por Sulamita Esteliam
E o ano termina no modelo que começou: com o mundo de ponta cabeça e o Brasil no fundo do abismo, e com água no pescoço. É mais um ano que se vai, e já vai tarde.
O Sul da Bahia está sob destruição da força de chuvas torrenciais, que atingem também o Norte de Minas. E o Coisa Ruim vagabundeia, pesca e aglomera no Sul do país, que é onde se sente em casa, entre semelhantes – que me perdoem o que resistem e seguem na contramão.
É desastre climático inigualável em 32 anos, potencializado pelo descaso e insensibilidade do psicopata e a horda que nos desgoverna.
Duas dezenas e meia de mortes, 37 mil pessoas desabrigadas, 53 mil desalogadas, 630 mil atingidas. É o balanço a dois dias de fechar 2021.
A dor da gente baiana e todo o desmantelo material não são capazes de desativar o botão da crueldade, da indiferença e das mentiras em profusão. Desumanidade.
Campanhas para doações se multiplicam nas redes, com ampla adesão do povo brasileiro, que em sua maioria é solidário e empático, sim – a turma do esgoto é minoria recalcada e há de tornar ao esgoto em que sempre viveu.
Tenta-se cobrir a ausência do Estado, a quem cabe a obrigação de agir.
Recursos de menos e irresponsabilidade demais deixam os governos estadual e dos municípios afetados entregues a si esmos, e a população submergida à própria sorte.
As últimas notícias são de que o desgoverno central teve a pachorra de recusar ajuda humanitária da vizinha Argentina para a Bahia.
É crime de lesa-humanidade. Mais um.
O Brasil tornou-se um cemitério a céu aberto: de oportunidades, de emprego, de pesquisas, de educação, de vergonha, de empatia, de esperança…
O ano começou com a tragédia planejada da falta de oxigênio em Manaus, e se encerra com perto de 620 mil vidas perdidas para a pandemia de Coronavírus. Milhares de vítimas da fome e da violência estimulada.
Milhares de quilômetros desmatados e perdidos para o fogo criminoso nas floresta. Rios envenenados, terras e povos ancestrais sob ataque da ganância e da voracidade.
Genocídio: assistido de camarote pelas instituições vacilantes e pelo povo sofrido, cansado de levar bordoada no lombo…
Desculpe-me o tom amargo.
Sorte é que a lua míngua junto com o ano, e leva com ela todo desespero, para ressurgir com nova força no ano que chega daqui a pouco.
Resistimos. Sobrevivemos. Seguimos, apesar de… Amanhã há de ser outro dia.
Portanto, celebremos a vida, enquanto vida há.
Obrigada pela companhia nesse mar de desmantelo. As falhas e as ausências são parte da navegação emocional descontrolada. O leme às vezes pira. Grata pela compreensão.
Que venha 2022!
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Fontes recorridas
Carta Capital
Rui Costa: ‘Governar é cuidar de gente. Não dá para fazer isso longe das pessoas’
G1-BA
Governo Federal nega autorização para ajuda humanitária da Argentina à Bahia