por Sulamita Esteliam
Agradeça quem escapou do Covid-19, até agora, porque vacina, minha gente, entra na conta da Lúcia já vou indo… a lesminha que foi convidada para uma festa de casamento e foi indo, naquele arrasto sem fim nem progressão, até que… conseguiu chegar para o batizado do bebê do casal.
Minhas filhas leram esse livro na pré-escola. É da Maria Heloísa Penteado. Jamais me esqueci. E sempre que me deparo com algo que não sai do canto, me lembro da Lúcia já vou indo…
Promessas sobre promessas, o que se tem é que a vacina no Brasil chega na velocidade inversa ao avanço do seu Coronavírus. E, como diz o maridão, a “mulher da foice” é insaciável, já ceifou perto de 250 mil vidas, e está pronta para colher muitas mais.
Espreita em cada esquina, cada respiro, conversa ou sorriso sem máscara, que boa parte das pessoas se coloca na conta de invulnerável. E o do lado que se exploda. Do jeito que a coisa anda, vai se refestelar muito mais, em lauto banquete, a dona morte.
O esforço hercúleo da maioria de profissionais de saúde, aquela que luta na frente de batalha chamada SUS não basta. Não fosse o sistema público, teríamos muito mais UTIs transbordantes e cadáveres empilhados, e famílias desesperadas pela perda dos seus, sem direito sequer à despedida.
Com toda a precariedade decorrente do subfinanciamento, com impacto devastador sobre o atendimento aos doentes, como o que assistimos no Norte do País, sobretudo em Manaus. Com toda a desgraceira, salve o SUS!
Sou daquelas que acreditam em milagres. Mas não se pode esquecer da parte de cada um, de cada uma, não é verdade? O que cai do céu é chuva e raio. Gente cai é do andaime, feito tijolo de construção mambembe.
É só olhar em cada sinal de trânsito das capitais deste nosso Brasil grande e desconjuntado.
Aqui no Recife, todos os dias que descemos à praia para a caminhada passamos em frente ao Hospital de Referência para Covid-19, em Boa Viagem. Foi montado pelo Governo de Pernambuco no início da pandemia. Há outros. Ai do povo se não os tivesse.
Algumas vezes, há filas de três quatro ambulâncias paradas à espera da vez de acesso. Outras, vemos parentes aflitos em busca de notícias. Aglomeram-se em frente à portaria, andam para lá e para cá, atarantados, mexendo ou falando ao celular. Deve ser desesperador.
No princípio da pandemia, nessa terra se dizia que o vírus nos iguala a todos. Ora, ora, a igualdade não aceita desaforos. Alguns são mais iguais do que outros.
Como diz meu amigo Márcio Metzker, que luta contra o Covid-19, agora no CTI de um hospital particular em Belo Horizonte, “quem tem balangandãs (pulseiras de medicação) não vai ao Bonfim” – cemitério tradicional de Beagá. Tomara que não, mesmo, meu querido. Estamos todos concentrados em emanar combustível de força para você sair inteiro dessa.
Não houve força capaz de manter entre os seus, contudo, as quase duas centenas e meia de milhares de brasileiros e brasileiras que partiram na cauda da pandemia – a maioria pobre e preto, a Maria e o Zé Povinho.
Mas esses não fazem diferença, certo? Ou, por outra, fazem: economia nas contas da Previdência Social, no auxílio emergencial, economia para gastar com balas de armas da milícia e da polícia – para matar pobre e preto -, e cloroquina vencida…
Não, não é deboche, é a real. É a alma do projeto de desmanche, de não-país, de Nação atropelada em aboio de gado, e já escrevi sobre isso aqui no blogue.
Esqueça os 30 mil prometidos, lembra que “tem que matar uns…” ? O bom mesmo é o genocídio a perder de vista, seja por que arma for.
O desgoverno é máquina de moer gente e dissolver País.
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