por Sulamita Esteliam
Tem idiota a rodo no país do capiroto. Só não tem no Palácio do Planalto, sua anturragem e cercanias. Dificilmente, aliás, pode ser encontrado na Praça dos Três Poderes ou na Esplanada dos Ministérios, ou em quaisquer palácios, públicos ou privados, onde eles existam.
Aí é território dos espertos, a serviço do projeto de quem os financia ou comanda, e em em troca agem para engordar seus cofres.
Idiotas são os que o colocaram lá pelo voto ou pena – os elegíveis e os não elegíveis. Mas a lei existe para ser desrespeitada por quem grita mais alto; melhor, até é feita sob encomenda, no mais das vezes para manter tudo nos conformes de quem manda.
Experimenta o Zé ou a Maria Povinho atravessar o rubicão, ou mesmo assentar uma lage que fuja ao alcance de seus vis caraminguás, para ver o que acontece. Nem precisa tanto, ou as cadeias não estariam expelindo gente pelo ladrão.
Já rachadinhas, que nada mais são do que explorar o trabalho alheio, pago com dinheiro público – o meu, o seu, o nosso dinheirinho – rendem milhões, lavados em imóveis cinematográficos. Tudo sob olhares complacentes e omissões cúmplices de quem deveria garantir lisura no trato da coisa pública.
No reino de idiotas, todavia, o público é de ninguém, ou de quem pegar primeiro.
E ladrão é o ex-presidente que nasceu Zé Povinho, filho de outro Zé e da Maria Povinho, que chegou lá e ganhou o mundo. Sonhou, e fez, o melhor que pôde para sua gente, e acreditou que era bem aceito dentre os grandes.
Suprema ousadia. A paga foi a execração pública, a condenação por “fato indeterminado” em trama de romance sherlockiano, a prisão, a inegilibilidade, a dor da perda moral e física, de si e dos seus. E o bandido, provado está, era o juiz e a corja de procuradores; todos com fé de ofício.
Idiotas somos nós que acreditamos na tal democracia, no respeito à Constituição, no Estado de Direito, na Justiça como princípio basilar, num regime onde o dinheiro é o senhor e a indiferença mantém o poder.
Idiotas somos todos que cremos na possibilidade de vir a ser uma nação que se respeita, um país para todos os brasileiros e todas as brasileiras.
As ruas estão coalhadas de idiotas, com e sem máscara. A idiotice avança para dentro da casa das pessoas, como e com o Jornal Nacional, adoece os que com eles convivem, coalham as UTIs, bate recordes de cadáveres e colapsa os cemitérios.
Mesmo assim, há idiotas que preferem correr o risco de ver a mãe morta por Covid do que levá-la a tomar a vacina. Claro, há mães e pais que também teimam em deixar-se morrer a vacinar-se – com coronavac ou qualquer outro imunizante.
Como se isso fosse escolha individual numa pandemia que, só em Pindorama, já levou mais de 260 mil, abate quase dois mil por dia e infecta, em média, outros 50 mil. Mas o que é o coletivo para o idiota?
É como se vacina houvesse a rodo, que seja na casa da mãe que o pariu. Não há, porque não se quis que houvesse em quantidade e tempo hábeis. Questão de logística, e de empatia.
À voz da ciência e da razão, o idiota prefere ouvir a indigência moral, que desgoverna, sim – porque a direção achaca, desmonta, engana, massacra, mata -, o Brasil e o seu povo.
E até o nome de Jesus é invocado para sustentar o logro. Faz lembrar as artes dos fariseus, contra as quais alerta Mateus,em citação do Mestre – 23:3: ” (…) Não façam o que eles fazem, porque não praticam o que dizem”.
A mãe do capiroto-genocida, que nega a vacina, a máscara e estimula a aglomeração, a atividade econômica a qualquer preço, goza do luto e mente para justificar sua obssessão e viagra com a morte, está vacinada.
Ela se chama, veja só, Olinda, tem 93 anos e tomou a primeira dose antes do Carnaval que não houve, por conta da pandemia. O filho mente, como lhe é próprio, sobre as condições, mas confirma a imunização.
Todas as mães podem morrer, menos a mãe daquele que se faz de idiota e aloprado para curtir com a cara de quem parece ter se acostumado a praticar a idiotice – por atos, palavras, ignorância e omissão -, em seu nome.
Não usar máscara, não crer em isolamento social, negar a vacina dá no mesmo que odiar política pública como instrumento indispensável para reduzir a miséria e a desigualdade social. Equivale a pregar meritocracia sem oportunidades, ou defender o teto de gastos – o correto é investimentos – em saúde, educação e cultura.
Bom lembrar que este é um país onde um décimo da população detém quase metade da renda nacional.
A mentira, o embuste e a ilusão de ser parte de um novo projeto de país, são os combustíveis que sustentam a idiotia – para o bem e para o mal.
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Para fechar, um vídeo para servir de exemplo; ou até no futebol tem vida inteligente para além dos pés e das mãos:
Em tempo: Deixo o acesso ao vídeo com entrevista recente do médico Dráuzio Varella ao César Tralli, na Globo News. É bom prestar atenção no que ele diz:
Em tempo 2: Desculpem-me, mas não conssegui chegar ao blogue na quarta. Venceu a exaustão. Tenho aprendido a respeitar meus limites.
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Fontes recorridas:
El País
Revista Fórum
IstoÉ Dinheiro
Carta Capital
DCM
G1