por Sulamita Esteliam
Sob o lema “Vacina no Braço, Comida no prato”, o MST e o pessoal da agricultura familiar, mais as organizações que integram a Campanha Mãos Solidárias em Pernambuco salvaram o fim de semana.
No Brasil, inteiro, aliás, o Dia Internacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras celebrado por quem é protagonista, foi dia de solidariedade intraclasse: as classes trabalhadoras.
No Recife, o vão da Ponte Maurício de Nassau, que liga o Antigo ao Bairro de Santo Antônio, centro da capital, foi coberto com alimentos oriundos da reforma agrária a serem doados para as comunidades carentes do município.
Cerca de 20 toneladas de hortaliças e legumes foram expostos em ato simbólico na parte da manhã. Enquanto do Armazém do Campo saíam as doações, também de cestas básicas para as comunidades carentes e marmitas para a população vulnerável.
Esse trabalho, que tem sido frequente desde o início da pandemia, ano passado, foi potencializado este ano e, neste sábado, para celebrar o 1º de Maio.
São essas as imagens que vigoram, e que devem ser repercutidas.
A turba de verde-amarelos – patrões mal-amados, mulheres sem autoestima. Canalhas motorizados e cretinos enrolados na bandeira nacional. Gente que só enxerga o próprio umbigo, sem qualquer empatia e nenhuma vergonha na cara.
Um nauseante carnaval para celebrar o genocídio militante, escancarado no novo recorde de mais de 400 mil mortos por Covid até o 1º de Maio. E a fome que invade os lares, ruas e viadutos desse nosso ex-país para todos.

No Recife se concentrou, com boa vontade, em cerca de 1 km da Avenida Boa Viagem. Muito carro, barulho ensurdecedor, e alguns pedestres, poucos, incorporados.
As bandeiras do Brasil, que haviam sumido das sacadas dos prédios luxuosos e outros bem classe média decadente, mesmo à beira-mar, saíram do armário, entretanto.
Dois dias antes, haviam três bandeiras resistentes em duas torres residenciais de bem-nascidos. No sábado, se multiplicaram para 21 em coisa de 10 prédios ao longo do quilômetro do início ao fim da manifestação.
É quase nada, mas o suficiente para indicar que não há cretino arrependido.
Estragaram minha caminhada e o meu sábado, mesmo assim. Mas isso é o de menos. Como diz o maridão, é parte da democracia.
Acrescento, de minha parte, que a tal da democracia inclui cuspir na cara de quem de fato carrega este país no lombo. Inclusive sapatear na dor das famílias que choram a perda de entes queridos para o seu Corona. Pretender que entendam isso, porém, já é um pouco demais.
Claro que houve recrutamento, o que explica os seres, alguns até motorizados, mas claramente estranhos – basta examinar o estado do veículo ou o rosto e os trajes – em meio à turba, e não apenas em São Paulo e no Rio, onde a manifestação foi “no chão”.
Nas redes sociais, pululam denúncias, ainda na segundona. A imagem abaixo, capturei no Instagram ainda na noite do sábado, mas está em todos os grupos de zap-zap de que participo, sem que Euzinha tenha tido o trabalho de compartilhar.

O caso aí, não representa a maioria dos assediados, infelizmente. Basta olhar para as imagens das avenidas Paulista e Nossa Senhora de Copacabana para ter ânsia de vômito.
É duro de ver gente massacrada por este desgoverno, se juntar à horda de defensores do genocida.
Mas é o maridão, com sua calma irritante e cabeça matemática, que me lembra; a sobrevivência fala mais alto: 150 reais, mais comida, em meio ao desemprego e à fome, é muito, mesmo para quem está trabalhando, e ganha no máximo mil reais por mês.
Para variar, houve violência contra pessoas que expuseram seu posicionamento contrário. Ainda que seja uma camiseta com a imagem odiada do cara que enlouquece os amantes do capiroto. Cito dois episódios nas minhas Macondos: Recife e Belo Horizonte.
No Recife, um rapaz, que envergava a camisa Lula Livre e filmava a carreata, enquanto caminhava no calçadão, foi espancado alguns metros adiante da Pracinha de Boa Viagem, no sentido Piedade. A agressão foi denunciada pela vereadora Liana Cirne Lins (PT), que é advogada e assumiu o caso.
Segundo relato da vítima, alguns bolsominions desceram do carro e o espancaram. Ele prestou queixa na Delegacia de Boa Viagem e fez exame de corpo delito no IML.
Cheguei a fotografá-lo à distância, da areia, alguns minutos antes do acontecimento, previsível, infelizmente. Vi que ele respondia às provocações, e comentamos, Euzinha e o maridão, sobre a coragem, que na verdade é um direito. Isso para que tem noção.
Em Belo Horizonte, houve duas carreatas: a dos trabalhadores e a outra. A primeira, unificada pelas centrais sindicais e políticos da oposição, se concentrou na avenida que ladeia o Mineirão e seguiu rumo à Praça da Estação, no Centro da cidade – detalhes no link ao pé da postagem.
A carreata pró-capiroto se deu na Avenida Afonso Pena, a principal da cidade. E soldados da PM do governador Zema protagonizaram cenas própria da ditadura. Escoltados pelo deputado Bartô do Novo, invadiram o apartamento de um casal, e levaram presos, algemados, os moradores; sem mandado de prisão, sem nada.
A acusação é de que eles teriam atirado ovos nos manifestantes, o que negam. Ovos são projeteis de extrema periculosidade, afinal, mais do que balas de borracha, e cassetetes, e truculência a esmo.
No Facebook, o ex-deputado federal, ex-secretário dos Direitos Humanos dos governos Lula e Pimentel, Nilmário Miranda relata o ocorrido.
Ele foi à Central de Flagrantes, a pedido do Conedh – Conselho Estadual dos Direitos Humanos, que vai representar junto à PM, ao Ministério Público e à Assembleia Legislativa sobre o abuso de autoridade e a violação de direitos humanos do casal Felipe Cesário e Andreza.
Fecho a postagem com relato e foto do jornalista mineiro, Rogério Hilário, que assesora a CUT – MG, compartilhada em grupo do zap-zap. Publico com sua autorização. Aconteceu em Belo Horizonte, por volta das 8:15h do 1º de Maio.

“Olhem o que vi debaixo de um viaduto sobre a Avenida Carlos Luz, por volta das 8h15 de Primeiro de Maio. Estava caminhando para cobrir a carreata que sairia do Mineirão. Chegaram guardas municipais, depois um carro dos Bombeiros. Vi, no dia anterior – fui ao enterro do meu cunhado Alfredo no Cemitério da Paz – um barraco, com muitas quinquilharias lá. Soube por um vigia do cemitério que uma mulher incendiou o local. Mas não vi nenhuma referência ao fato na imprensa.”
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Fontes requisitadas:
Brasil de Fato
No 1º de Maio, ações de solidariedade acontecem na região metropolitana do Recife
Assentados do Rio Grande do Sul doam 58 toneladas de alimentos para combate à fome
1º de Maio: movimentos e sindicatos distribuem cestas básicas e gás em BH
CUT-MG
Trabalhadoras e trabalhadores ocupam as ruas de Belo Horizonte
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Postagem revista e atualizada às 23:48h: correção de erros de digitação, redação e links truncados. Minhas desculpas.