por Sulamita Esteliam
O depoimento do diretor-presidente do Instituto Butantã, Dimas Covas, à CPI do Genocídio confirmou o que já sabíamos, e o que venho repetindo à exaustão neste blogue sujo e cansado de guerra: o chefe do desgoverno é a incorporação da peste agudizada.
Foram seis meses entre a primeira oferta e o fechamento do primeiro contrato de compra da Coronavac, produzida pelo Butantã, com o princípio ativo da Sinovac chinesa. Decisão errada, segundo Covas.
“O Brasil poderia ter sido o primeiro país no mundo a iniciar a vacinação, em dezembro de 2020. As vacinas Aztrazeneca e Covax seriam insuficientes. A questão da vacina não foi bem resolvida ano passado.”
E não venha me dizer que não é proposital. Genocídio turbinado em duas rodas, que dá o título à charge genial do querido Cau Gomez, sempre generoso, obrigada.
Nada menos que 60 milhões de doses, que, somadas às 70 milhões de doses recusadas da Pfiser, seria o suficiente para vacinar quase a metade da população brasileira. É tão indigno que ferve as ideias.
O relator da CPI, senador Renan Calheiros fez questão de frisar, relata matéria do Jornal GGN – linco ao pé da postagem:
“Em 18 de agosto de 2020, o Butantan apresentou a segunda oferta de 60 milhões de doses [de vacinas da Sinovac]. No mesmo dia, a Pfizer também fez a segunda oferta, de 70 milhões de doses. Ou seja, em só dia, o governo brasileiro perdeu a oportunidade de comprar 130 milhões de doses de vacina, o que seria suficiente para dar a primeira dose à mais metade da população brasileira. A média móvel de mortes naquele momento estava em mais de 1 mil óbitos por dia e estávamos perto de 110 mil mortes.”
Nesta quinta, caminhamos a passos céleres para meio milhão de vidas ceifadas. Falta vacinas para a segunda dose em todas as unidades da federação, por além de tudo o desgoverno arrota impropriedades que dificultam a negociação dos insumos com o principal fornecedor, a China.
E a CPI do Genocídio completa quatro semanas de depoimentos. Confirmações de toda sorte e mentiras a rodo.
A rigor, quase nada de novo, a não ser a tentativa de mudança na bula da hidroxclioroquina, recusada pelo presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres. No mais, apenas o registro do que já é do conhecimento público, só que agora contextualizada em um relatório, com poder de repercussão para além das manchetes de jornais.
Os depoimentos dos ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, de Barra Torres, de Carlos Murillo, presidente da Pfizer e de Dimas Covas, presidente do Butantã confirmaram informações que botaram fogo do cercadinho do capiroto-presidente.
O que era suspeita clareou: o chefe instalou um comitê paralelo para assuntos relativos à Covid-19, coordenado, ao que parece, pelo vereador do Rio de Janeiro, seu filho, mais conhecido como 02, ou Carluxo, também suspeito de coordenar o chamado “gabinete do ódio”.
A negação da vacina como método de combate está caracterizada na recusa das compras da Pfiser e da Coronavac. Em contraponto a fábrica de mentiras descaradas e em profusão.
Marcelo Queiroga, o ministro da Saúde de plantão; Fábio Wanjngarten, o ex da Comunicação governamental; Eduardo Pazuello, ex-ministro e general à beira da reforma; Ernesto Araujo o antichanceler, também ex; a impressionante Mayra Pinheiro, a própria farsa em figura de mulher. Todos cúmplices do mal-amado.
O que esperar da CPI? Há um lume de esperança ao fim do relatório?
Há quem diga que nada.
Há quem acredite no reforço dos 160 pedidos de impeachment pageados pelo Centrão.
Há a possibilidade de representação junto à PGR para abertura de processo criminal contra o presidente e respectivos ministro.
Há, certamente, a hipótese de encaminhar o relatório final ao MPF, municiando-o para o investigações penais específicas.
Marco Aurélio Garcia, do Grupo Prerrogativas, ouvido por Carta Capital, acredita que os três desfechos dignos do nome são possíveis, inclusive simultaneamente. Mas vai além:
“A CPI vai ter um papel fundamental como registro histórico para que essa situação [da pandemia] não volte acontecer…”

Estamos todos estressados, mal-amados, mal-dormidos, mal… à beira do desespero, nós a quem não falta comida no prato, um emprego ainda que sub para chamar de seu, ou uma aposentadoria que lhe garante o isolamento de um teto sobre a cabeça, guarida para o frio, a chuva e/ou do vento.
Todos queremos ver o circo pegar fogo, e o palhaço, e mestre de cerimônias, e até a trapezista saírem fumegando num caldeirão de chumbo. Salvem-se apenas as crianças, os animais e a mulher barbada.
Destarte, há uma certa decepção de não ter acontecido nenhuma prisão em flagrante. Há, pelo menos, quatro razões frustradas.
E o pobre do Rodrigo Pilha, militante braziliense, petista de carteirinha e alma nobre, que atesto, amarga 60 dias de cadeia, vexame e tortura por ter dito a verdade em praça pública!
Não obstante, o mérito da CPI, ainda que não leve a nada, é sacudir a letargia da população brasileira, despertar a indignação hibernada em pântano abismado.
O sábado 29M vai dizer, com medo, com tudo, se voltamos a esperançar.
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Fontes requisitadas
Jornal GGN
No mesmo dia, governo rejeitou 130 milhões de vacinas da Pfizer e Butantan/Sinovac
Carta Capital
4 semanas da CPI da Covid: a quais desfechos a investigação pode levar?
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