por Sulamita Esteliam
Meu amigo Jurani Garcia, que, já escrevi, anda de botas no meu coração, deixou fluir seu lado poeta-compositor. E é dos bons, naquele lirismo que é de Minas, mas que se espalha e se confunde Brasil afora.
Só tive conhecimento depois que deixou as lides e engavetou os leads. Jornalista de primeira linha, é o maior conhecedor da língua que se fez pátria com quem tenho vivência.
Honra-me, inclusive, com as orelhas de meu primeiro livro, Estação Ferrugem, de quem foi revisor atento, empático e solidário.
Tocador, desde sempre. Guardo algumas fotos ótimas das tertúlias, sempre musicadas, em minha casa nos tempos de Belo Horizonte.
Há quase um mês, mandou-me o vídeo que posto a seguir. Foi selecionado em projeto Sabiá, via Unimed Cultural, dentro de programação musical voltada para a maturidade, ligada à Prefeitura de BH.
Queria ter postado antes, mas não deu. Pronto, melhor ocasião não há, mesmo quebrando os ponteiros do relógio. É que, por aqui, foi dia de vó de aniversariante da semana.
E depois a dona Maria tomou conta num pré-preparo de tropeiro para celebrar o aniversário da neta, que já foi, mas que será cantado neste sábado.
Dei um aperto de saudade nas panelas e vim aqui postar o que já deveria ….
Lá no Youtube/Jurani Garcia, encontrei outra versão, de 2019, gravada por Rogério Leonel e Lígia Jaques, me corrige o autor – que não participa da peça, ao contrário do dito originalmente aqui. Simplesmente divina.
O 5 de novembro é data para não esquecer. É dia de protesto, de resgate de memória, de reivindicar direitos não contemplados, em seis anos, de chorar os mortos, o lugar de onde se brotou, se criou, se cultivou, se morreu, se dissolveu no rio de lama e descaso.
E os movimentos sociais se encarregaram disso, e ocuparam a Samarco, a empresa coligada da Vale/BHP, que até hoje só reassentou 10 das 244 famílias que perderam sua história.
Pior, se eclipsaram, se desintegraram, comunidade e gente, e direito, e cidadania que um dia pareceu existir
A foto que abre essa postagem é de Ismael dos Anjos, jornalista, fotógrafo, documentarista – coordenador do Silêncio dos Homens , produzido via Papo de Homem e de Origens, via UOL, sobre afrodescendência.
Mineiro de Beagá, radicado em São Paulo, por essas bençãos é um das dezenas de primos-sobrinhos que tenho a felicidade de desfrutar.
A foto é parte de sua tese de doutorado em Fotografia, em Londres/Inglaterra, já concluído com louvor. Integra um projeto de livro que o autor trabalha para editar, e que pretende destinar parte da renda para organizações que trabalham com os atingidos.
Só para reforçar, a Samarco/Vale/BHP é o conglomerado responsável pelo derrame de 48,3 milhões de metros cúbicos de lama em 650 metros de natureza entre Mariana(MG) e a foz do Rio Doce, no povoado de Regência, município de LInhares, no Espírito Santo.
E o Ministério Público, e a Justiça, e o Governo do Estado, e a Prefeitura, que não exigem que se faça o que é exigível fazer para minorar o sofrimento dessa gente, CADÊ!?
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Deixo alguns links para mostrar o que rolou pelas Gerais no 05 de novembro, que incluem vídeos para não deixar esquecer, de jeito maneira, de jeito nenhum, o crime humanitário e ambientalda Samarcol/Vale/BHP:
- Portal Vermelho: Protestos marcam os seis anos do crime da Vale em Mariana
Memória e ativismo: resistir e cobrar é preciso
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Postagem revista e atualizada em 08.11.2021, às 20:36hs: correção de informação sobre gravação da música de Jurani Garcia: em duo, não trio.
Sula, você fez uma “cobertura” completa dos seis anos da tragédia de Mariana, juntando músicas, poemas, textos e vídeos sobre as manifestações dos atingidos. Um trabalho muito importante para lembrar aquele crime, que em grande medida continua impune. Para lembrar também que, na essência, a atividade mineradora continua a mesma: levando os recursos naturais, degradando o meio ambiente e fazendo pouco caso dos seres humanos e suas comunidades.
Obrigada, Jura, querido.