por Sulamita Esteliam
Não é porque hoje é sexta que a maldade vai tomar uma no bar da esquina, fica bêbada e apaga. A bem da verdade, a brutalidade aconteceu na quinta-feira, e é um das notícias do dia, das mais tristes e indignantes que, infelizmente, tornaram-se parte do cotidiano no Brasil.
A horda está solta, armada e se sente estimulada, autorizada, a botar terror – na cidade e no campo. E a pandemia só fez piorar o cenário, no geral.
No meio da noite, um bando de jagunços, armados até os dentes, invadiu a casa do presidente da Associação de Agricultores e Agricultoras de Barreiros, na Mata Sul pernambucana, e atirou, deliberadamente, numa criança de 9 anos, que se escondia debaixo da cama com a mãe.
Assassinato a sangue frio. Crueldade em estado bruto.
PS: O nome da criança assassinada é Jonathas. Soube somente nesta segunda, 14, em postagem da vereadora Liana Cirne (PT), clamando por justiça, em seu Instagram.
O pai do menino, Geovane da Silva Santos, foi atingido de raspão no ombro, foi medicado e passa bem.
Está na reportagem de Raissa Ibrahim, no Marco Zero Conteúdo, a partir de informações da CPT – Comissão Pastoral da Terra e da Fetape – Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco.
“A mãe está em estado de choque, sob efeito de calmantes. As cerca de 400 pessoas, sendo 150 delas crianças, que ocupam o local há mais de quatro décadas estão bastante assustadas e o clima é de muita insegurança.”
As das entidades acompanham o caso e cobram “respostas do Estado e o devido rigor na apuração”, diz o texto.

Não é a primeira vez que a casa, simples e rústica, como a maioria dos lares de famílias rurais no interior do país, é alvo de atentados. Área de conflitos, o mais provável é a vinculação do ataque homicida com questões relacionadas à terra.
Possibilidade levantada pelo advogada da CPT e da Fetape, Bruno Ribeiro, à reportagem do Marco Zero Conteúdo.
Por óbvio, cabe à Polícia Civil de Pernambuco investigar e buscar o enquadramento de autores e mandantes da barbaridade. Sim, porque jangunço faz o que o dono manda.
O resgate da história por trás dos conflitos armados é a seguinte, segundo reporta o Marco Zero:
“Os trabalhadores e as trabalhadoras do Roncadorzinho enfrentam uma longa e difícil luta por direitos. O engenho foi propriedade do Grupo Othon Bezerra de Melo, que detinha a Usina Central Barreiros e a Usina Santo André na região. Ambas entraram em falência mais ou menos na mesma época, sendo que a primeira fechou em definitivo e a segunda é hoje uma massa falida administrada pelo Judiciário, da qual as famílias agricultoras são credoras há cerca de 20 anos.
Há aproximadamente 15 anos, a empresa agropecuária Javari arrendou a massa falida e passou a ter uma série de conflitos com os agricultores e agricultoras, deixando assim de explorar o imóvel.”
OBS: Não há referência ao nome da criança na reportagem nem em quaisquer das matérias publicadas por outros veículos a respeito do crime. As notas da CPT e da Fetape não bem não citam o nome do menino.
Lei a íntegra da reportagem no portal do MZ Conteúdo, jornalismo independente focado nos direitos humanos, com DNA pernambucano.
No Instagram da CPT NE e da Fetape, a denúncia do infanticídio, que parece ter sido o objeto do atentado covarde: arrancar o coração do pai, vergar a espinha de uma das principais lideranças dos agricultores na região, pela desestruturação da família.
Sim, porque, perder uma criança para a barbárie, não deixa nada de pé.
*******
Postagem revista e atualizada em 14.02.2022: inclusão do nome da criança assassinada, Jonathas e incorporação da postagem de Liana Cirne no Instagram.